Os olhos do mercado financeiro mundial estão voltados para a Washington nesta quarta-feira, uma vez que as especulações dão conta de que China e EUA estariam bem próximos de firmar um acordo após mais de um ano do início da guerra comercial. Fontes internacionais afirmam que o acordo estaria “90% pronto”, conforme noticiou o portal MarketWatch.
“Os outros 10% são a parte mais difícil, mais cheia de detalhes e ‘pegadinhas’, o que irá exigir concessões comerciais dos dois lados” disse Myron Brillian, vice-presidente executivo de assuntos internacionais da Câmara de Comércio dos EUA, segundo o Financial Times, que complementou com a afirmação de que as conversas estão “em fase final do jogo”.
As discussões do primeiro escalão foram retomadas na semana passada, em Pequim, e posteriormente nesta quarta, com o vice-primeiro ministro da China, Liu He, que tem encontros previstos com o representante do Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, e o secretário do Tesouro Americano, Steve Mnunchin.
O que se espera agora é que estes representantes possam ajustar um novo encontro entre Donald Trump e Xi Jinping para assinatura do documento final do acordo.
Larry Kudlow, conselheiro econômico da Casa Branca, elogiou a evolução das negociações entre as duas equipes. No entanto, disse que a finalização de um acordo segue indefinida. “Ainda não chegamos lá e esperamos que esta semana possamos chegar mais perto”.
Segundo a Bloomberg, as pendências ainda estão em torno das questões de propriedade intelectual, tecnologia e de um mecanismo que faça a China cumprir os termos do acordo.
As ações e indicadores financeiros norte-americanos subiram depois dessas declarações. Entretanto, como já alertam especialistas internacionais, qualquer pequeno sinal de que as negociações voltem a ficar emperradas, mostrem algum desconforto ou criem mais preocupações para o crescimento econômico global, pode fazer com que as conversações retrocedam.
Tarifações
Um dos principais pontos de desalinho entre China e EUA são as formas de execução do acordo, bem como as linhas ligadas às tarifações. Ainda segundo a Bloomberg, a China quer que todas as tarifas que foram impostas nos últimos 12 meses sejam removidas, enquanto os EUA querem reter algumas como parte de seu mecanismo de fiscalização.
Além disso, outro problema tem sido a exigência norte-americana de poder impor tarifas sobre os chineses sem a ameaça da contra-retaliação.
Do mesmo modo, os EUA querem ainda que regras duras impeçam a China de provocar uma desvalorização de sua moeda para obter vantagem comercial. Na outra ponta, a nação asiática recusa qualquer cláusula unilateral que possa limitá-la.
Soja
A soja é um dos produtos envolvidos na guerra comercial mais comentados e debatidos no mercado. Há pouco mais de um ano, os chineses impuseram uma alíquota de 25% sobre a oleaginosa americana e o movimento praticamente esvaziou a demanda da nação asiática no mercado dos EUA.
A medida já resulta em estoques trimestrais recordes de soja nos EUA, de 74 milhões de toneladas em 1º de março, previstos pelo USDA no último dia 29. Em março de 2018, eram 57 milhões de toneladas. Os estoques finais da safra 2018/19 são estimados em 24 milhões de toneladas.
Também segundo o USDA, os embarques e o programa de exportações de soja dos EUA estão atrasados e com volumes bem abaixo do mesmo período do ano passado.
“Os operadores do mercado aqui em Chicago entendem que a abundância de grãos em oferta hoje limita a capacidade de alta agressiva, levando em conta o cenário político estabilizado”, disseram os analistas da ARC Mercosul. Sendo assim, somente uma mudança efetiva nesse quadro e nessas relações seria capaz de alterar esses números e a dinâmica atual do comércio global da soja.
“O acordo comercial entre EUA e China mudaria a matriz de demanda e o perfil de exportação norte-americano. O fim desta retórica política trará um sustento altista para os preços do milho, soja, trigo e algodão estadunidenses. Este novo direcional, se concretizado, será o principal fator de composição aos preços durante os próximos dois a três anos, pelo menos”, indicou a ARC.
Desgastado pelos últimos meses de rumores e boatos não confirmados, o mercado da soja na Bolsa de Chicago pouco reagiu às últimas notícias e manteve seus preços estáveis e sem variações agressivas como vem fazendo nos último meses. Nesta quarta-feira, os principais vencimentos fecharam em queda de 1,25 centavos o bushel, com o maio/19 fechando abaixo dos US$ 9,00 por bushel, cotado a US$ 8.98 3/4 .
As manchetes tiveram pouco ou nenhum impacto sobre os preços esta semana, mas nos próximos dias ainda podem vir relatórios tanto da China, quanto dos EUA, sobre a proximidade de um acordo.
“Acho que o mercado de grãos terá de ver a tinta no papel da assinatura de um acordo antes de mudarem realmente suas posições, disse Al Kluis, consultor da Kluis Advisors.
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