Embora as condições climáticas estejam no centro das atenções do mercado de grãos, a demanda chinesa por soja também continua a ser acompanhada muito de perto pelos traders. O objetivo agora é entender onde as próximas compras serão feitas pela nação asiática diante da disparada das cotações da oleaginosa na Bolsa de Chicago, que registram suas máximas desde 2013.
“A China não deve comprar soja (2020/21) até setembro nos Estados Unidos porque está muito mais cara do que o produto do Brasil”, disse Ginaldo Sousa, diretor-geral do Grupo Labhoro. O especialista afirmou que, além dos preços, os chineses agora estão bem abastecidos e não precisam “correr” para garantir grandes compras da commodity.
Sousa complementou citando as questões dos prêmios para a soja norte-americana no Golfo, atualmente na casa dos US$ 0,75 por bushel sobre as cotações de Chicago, enquanto no Brasil esses valores ainda oscilam em torno dos US$ 0,15 negativos. Isso continua a ser, portanto, um diferencial importante na tomada de decisão por parte dos compradores.
“A China deve importar esse ano, pelo menos, 105 milhões de toneladas de soja e não vai deixar de comprar do Brasil. Essa demanda não vai cair porque já está programada”, afirmou o diretor da Labhoro. No entanto, em se tratando de China, é difícil prever o quanto ainda deverá ser adquirido nestes próximos meses.
Comercialização
Ainda assim, Sousa disse que o volume de aproximadamente 30% da soja 2020/21 do Brasil para comercialização nos próximos meses não será vendido com dificuldade. “E o produtor não precisa se preocupar. Os preços, nesse momento, não vão ceder fortemente. A tendência é de que busquem os US$ 16,00 em Chicago e no mercado físico americano a soja está valendo ouro”.
E mesmo que o Brasil tenha um volume de soja a ser exportado um pouco maior do que o inicialmente estimado, em função da redução do mandatório do biodiesel de 13% para 10%, o mercado não deve ser impactado de forma agressiva, acrescentou o diretor da Labhoro. “Mesmo que tenhamos de dois a três milhões de soja a mais para ser exportada, não será um problema”.
Line-up
O mapa abaixo mostra o fluxo intenso de navios carregados com soja saindo do Brasil para a China em 23 de abril. E além deste produto já em trânsito, o line-up brasileiro indica ainda cerca de 13 milhões de toneladas a serem enviadas nos próximos 30 a 45 dias, contabilizando os navios que já estão sendo embarcados, mais os que estão em fila, os atracados e os já nomeados, segundo informações apuradas junto da Pátria Agronegócios.
“E esse é um recorde para o período”, disse Matheus Pereira, diretor da consultoria. “Entretanto, já vemos uma queda em relação ao pico registrado em março, de 19 milhões de toneladas, quando o volume ainda refletia um ritmo mais lento dos embarques (por conta do atraso na colheita e das adversidades climáticas na época)”.
Segundo Pereira, “trata-se de uma desaceleração da demanda sazonal, nada para se assustar. Esse é um movimento completamente normal, esperado e alertado pela Pátria”.
Rações
Desde o início do ano, o governo chinês vinha sinalizando pedidos para que os especialistas em nutrição animal do país façam uma reformulação na composição das rações, utilizando menores quantidades de milho e farelo e óleo de soja, em razão dos preços altos de ambos os produtos, em especial dos grãos, que registrou níveis recordes no mercado chinês no último ano e no começo de 2021.
Na última quarta-feira, o governo da China, inclusive, emitiu novas diretrizes dessa recomendação de menor utilização destes dois insumos e que produtos alternativos deveriam entrar na formulação das rações, como trigo, sorgo, mandioca e arroz, além de outros farelos como os de algodão, amendoim ou palma, entre outros.
Ainda assim, segundo Sousa, essa não deve ser uma condição de efeitos a serem observados nesse momento. “Isso não muda o mercado agora, mas no médio/longo prazo. Por enquanto, a China não deve comprar menos”, disse ele. “É natural que esse movimento aconteça (por parte do governo chinês), porque as margens estão mais apertadas, mas isso não será refletido agora”.
Matrizes
E mesmo que haja preocupação ainda em 2021 com impactos causados pela Peste Suína Africana (PSA) na nação asiática, não se trata de um cenário semelhante aos picos da zoonose em anos anteriores, principalmente em 2019. Inclusive, dados apurados pela Agrinvest Commodities mostram que a população de matrizes no país aumentou de 24 milhões para 38 milhões de cabeças de setembro de 2019 a dezembro de 2020.
“Nesse período, a China bateu recorde de importações de soja, carnes, óleos e cereais”, indicaram os analistas da consultoria.
Farelo e óleo
“A China está utilizando mais trigo e cevada em suas rações, produtos que apresentam desconto de 10% a 15% em relação ao milho. Há uma queda no uso de farelo e um aumento no uso do óleo de soja nas rações”.
Os especialistas informaram que, “atualmente, os estoques de farelo estão em 700.000 toneladas, um volume confortável, enquanto os estoques de óleo estão em 595.000 toneladas e registram suas mínimas em sete anos para essa época do ano”.
Suínos
O que acende um leve sinal de alerta, por outro lado, é a queda que o abate de suínos registrou no primeiro trimestre de 2021 na China. “A queda foi de mais de 10% entre o quarto trimestre de 2020 e o primeiro deste ano”, indicou a Agrinvest.
A consultoria trouxe para a análise um desempenho mais fraco das produtoras de carne suína no país, o que teria sido reflexo da combinação das zoonoses, principalmente a PSA, uma demanda interna menor durante o feriado do Ano Novo Lunar e mais a alta do preço do milho.
Segunda safra
E sobre os preços altos do cereal, os alertas passam também pela preocupação com a segunda safra do Brasil, em função da falta de chuvas e do plantio realizado fora da janela ideal, com as notícias, inclusive, já chegando ao mercado, às análises e à imprensa internacional.
“Sabemos que há uma demanda global monstruosa por grãos para ração agora e as pessoas estão começando a se perguntar o que acontecerá se a safra do Brasil for curta. Cada dia sem uma boa chuva chegando em suas lavouras parte do potencial produtivo se perde”, disse à agência Bloomberg Joe Nussmeier, corretor da Frontier Futures em Minneapolis, nos EUA.
Cotações
Em entrevista ao Notícias Agrícolas, o analista Roberto Carlos Rafael, da Germinar Corretora, traçou os principais pontos de destaque do atual momento do mercado do milho e mostrou que a trajetória nas cotações do cereal tende a continuar.
O cenário do último ano foi de demanda aquecida e preços em alta no mercado internacional. E assim deve se manter para o 2022, com o agravante das preocupações em relação à oferta da safrinha brasileira e da safra dos Estados Unidos.
Fonte: Notícias Agrícolas
Equipe SNA