China vai comprar mais soja do Brasil e diminuir demanda dos EUA

O economista da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros, afirmou em entrevista ao programa Mercado & Cia, do Canal Rural, que a China vai continuar comprando soja em grande volume do Brasil e, em consequência, vai diminuir a demanda pelo produto norte-americano.

De acordo com Mendonça, a peste suína africana também vai gerar oportunidades para os brasileiros. Na pauta, o economista também analisou o tabelamento de frete e o futuro do preço do diesel.

Kellen: O governo vai solucionar a questão do preço do diesel? De qual maneira? A cotação vai subir ou não vai?

José Roberto Mendonça de Barros: Vai acabar subindo, porque lá fora o petróleo tem subido e a taxa do dólar, que você mencionou há pouco, ela está mais salgada. Não sabemos quando, está em aberto, mas eu queria lembrar o seguinte: muito pior que o preço do diesel é a manutenção da tabela de frete. Essa sim está machucando o setor desde o ano passado e aparentemente vai continuar.

O preço do diesel pode até subir um pouco, mas a tabela é o problema. Ela realmente faz com que o preço fundamental para os agricultores que é o frete seja muito caro.

Kellen Severo: Você afirmou que a alta nos preços do diesel é inevitável. Em quanto tempo você prevê que isso ocorra e qual a proporção dessa alta?

José Roberto Mendonça de Barros: Tempo eu não sei, porque aí é uma questão burocrática do governo, mas não deve ser exageradamente demorado. Eu acredito que não vai acabar saindo os 6%, mas vai ter o aumento, ao longo do tempo isso vai acontecer. Volto a dizer que o preço do petróleo lá fora tem subido de forma muito surreal, exorbitante, então, eu acho que de alguma forma vai acabar sendo repassado pra todo mundo.

Kellen Severo: Um segundo ponto tocado por você é o tabelamento do frete. Você efetivamente acredita que a tabela do frete pode chegar ao fim, especialmente, neste momento que há uma pressão de nova greve dos caminhoneiros?

José Roberto Mendonça de Barros: Infelizmente, eu acho que não. Acho que ela vai ficar entre nós por mais algum tempo, infelizmente. E se o governo recuou (ao rever o reajuste do diesel) por essa ameaça de greve imagina o que aconteceria se a tabela fosse revogada. Aí teríamos mais dificuldade.

A tabela é um problema grave. Nós sabemos que no interior muita gente corre o risco de não cumprir a tabela, gera um preço muito alto. Agora, é uma dor de dente que vai continuar incomodando todos nós, especialmente os agricultores.

Kellen Severo: Os caminhoneiros alegam que não há como viver do transporte de cargas no Brasil se não houver tabelamento, já que o custo do diesel está alto e o preço pago para o transporte das cargas acabou diminuindo em função da compra de caminhões por várias cooperativas e grandes produtores. Qual é a solução para esse impasse? E como esse tabelamento tem gerado ônus para o setor, na sua avaliação?

José Roberto Mendonça de Barros: Kellen, exatamente o que você mencionou ocorreu depois da tabela. Muitas empresas que terceirizavam o frete, quando saiu à tabela com o preço acima do razoável, compraram caminhões novos e internacionalizaram, portanto, é menos carga e mais disputa por carga. Agora, na verdade, ajudou a piorar a vida das pessoas.

Qual foi o principal erro? Quando se ganhou a ideia da tabela o preço que foi colocado lá, foi absurdo, porque ele incluiu frete de retorno, quando todo mundo sabe, no mercado isso sempre foi feito, separando a ida da volta, então agora, pra uma parte só ter o retorno, ela fica absurdamente cara, não tem conserto. Essa tabela tem de jogar fora.

Kellen Severo: A gente olha para os nossos desafios domésticos, mas nós também temos os nossos concorrentes se preparando para outra safra. Os Estados Unidos estão em época de pré-plantio e há uma série de discussões sobre enchente, gripe suína africana e oportunidades de guerra comercial, que talvez chegue ao fim. No fim das contas, o produtor rural brasileiro, por exemplo, o de soja, vai ter um ano melhor?

José Roberto Mendonça de Barros: Eu acho que sim. Ele já teve um ano bom em 2018 por causa da guerra comercial entre Estados Unidos e a China. Desde o ano passado, o Brasil exportou 70 milhões de toneladas de soja e os Estados Unidos só oito milhões de toneladas, quando normalmente ele exportava cerca de 40 milhões de toneladas.

Vai ter um acordo entre China e Estados Unidos. Esse acordo vai destravar um pouco das exportações de soja dos Estados Unidos para a China, entretanto, nós estamos convencidos de que os chineses nunca mais vão comprar aquele volume grande do país norte-americano porque se perde a confiança.

Nenhum país vai passar a depender da importação de alimentos, que é tema politicamente sensível, socialmente sensível, em qualquer lugar do mundo, de um país que muda a regra no meio do caminho. O que ocorreu no ano passado é que chineses ficaram tranquilos no abastecimento por causa do Brasil, Argentina e do Paraguai. Eu acho que eles vão continuar comprando muito da gente e relativamente pouco dos Estados Unidos.

Kellen: Quase 90% da safra brasileira está praticamente colhida. Há muitos produtores com soja para vender e tantos outros querendo oportunidade de preço maior. Aí você está dizendo pra gente, que a oportunidade também vai vir da demanda chinesa. Em quanto tempo isso pode se reverter em preço mais alto aqui no Brasil?

José Roberto Mendonça de Barros: Eu acho que não demora muito porque aí entra um segundo item desse cenário internacional que é dos Estados Unidos: as fortes chuvas estão causando perdas para os americanos. A segunda coisa importante é que a peste suína espalhou-se na China de uma maneira quase descontrolada em algumas regiões. Estima-se que quase 20% do plantel de suínos precise ser sacrificado.

Então, acontece que, no curto prazo, muita gente mata o plantel com medo do avanço da doença, mas, rapidamente, como os chineses são os maiores consumidores de carne suína, vão ter de importar mais. Essa importação de carne suína vai ter de bater aqui no Brasil, aliás, já começou há aumentar um pouco a cotação por conta disso, mas é só o começo. Mais carne suína, mais soja e mais milho.

 

Canal Rural

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