O ministro da Agricultura, Neri Geller, anunciou ontem (17) a retirada do embargo chinês à carne bovina brasileira, vigente desde 2012. As vendas haviam sido suspensas em função da suspeita de um caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), a doença da vaca louca, em um animal morto em 2010 em Sertanópolis, no Paraná. Representantes do mercado nacional consideram esta a primeira resposta da aproximação entre o Brasil e os demais países do Brics – Rússia, Índia, China e África do Sul.
De acordo com a coordenadora geral de organização para exportação do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), Aline Gastardelo, em 2012, o país asiático importava do mundo US$ 225 milhões em carne bovina, sendo US$ 37,7 milhões do Brasil.
“Em volume, eram 61 mil toneladas de bovino compradas pela China, sendo 8,8 mil toneladas brasileiras”, completa.
Em 2013, as importações chinesas para bovino dispararam para US$ 1,3 bilhão, ou 294 mil toneladas, um crescimento de 379%, sem que a produção brasileira participasse destes resultados, em função do embargo.
A coordenadora do Mapa conta que, entre os meses de janeiro e junho deste ano, o Brasil já exportou US$ 3,3 bilhões em carne de boi, cerca de 755 mil toneladas.
Na avaliação do presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Gustavo Diniz Junqueira, este é o primeiro sinal de aproximação entre o Brasil e os demais emergentes do Brics.
“Essa é uma demonstração de que o País está alinhando seus interesses comerciais. Nossas exportações não podem ser vendas pontuais, temos que ser provedores de uma solução completa no quesito segurança alimentar”, explica Junqueira.
Segundo o presidente da entidade, a venda direta para a China, sem a necessidade de passar por Hong Kong, dá margem para que as companhias brasileiras reduzam custos e possam se planejar a longo prazo.
Em nota, o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, diz que “fica resolvido, portanto, o principal entrave à ampliação do comércio Brasil-China, mas ainda é preciso agilizar a habilitação de novas plantas frigoríficas, uma vez que, hoje, apenas oito estabelecimentos brasileiros estão autorizados a exportar carne bovina para o mercado chinês”.
Para a confederação, a liberação das exportações para os chineses é estratégica para a pecuária brasileira, tendo em vista que a China é o mais importante parceiro comercial do Brasil e o mais promissor mercado mundial para as carnes nacionais, devido ao crescente consumo de proteína animal.
RETORNO
Geller destacou que o País aguarda um comunicado oficial da defesa sanitária chinesa para retomar as vendas. Depois disso, dependerá da indústria brasileira se mobilizar para fechar negócios. O processo deve demorar cerca de um mês.
O entendimento com os chineses foi oficializado durante a reunião do presidente da China, Xi Jinping, com a presidente Dilma Rousseff e as vendas devem ser retomadas ainda este ano.
Em um primeiro momento, oito frigoríficos terão autorização para exportar para o país asiático e mais nove pediram credenciamento. Com a reabertura, as vendas externas para a China podem chegar a 18% do total de carne bovina exportado anualmente pelo Brasil. De acordo com Neri Geller, a expectativa é vender de US$ 800 milhões a US$ 1,2 bilhão para os chineses no próximo ano.
PROJETOS
Ontem também foram assinados ao todo 32 acordos de cooperação entre Brasil e China. Entre os principais, a venda de aviões da Embraer e uma série de memorandos entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e instituições financeiras chinesas, como o Banco de Exportação-Importação da China (Eximbank), o Banco de Desenvolvimento da China (CDB) e a Corporação de Investimento da China (CIC).
Nesta quarta-feira (16), um grupo de 35 empresários chineses integrantes da comitiva oficial do presidente da China, Xi Jinping, interessados em conhecer áreas para futuros investimentos no segmento do agronegócio, participou de reunião com diretoria da CNA e conheceram o atual estágio da produção agrícola brasileira e as oportunidades de negócio para novos projetos em infraestrutura e logística. Segundo confederação, houve interesse em aprofundar a troca de informações por parte dos executivos.
Fonte: DCI