China redobra esforços para evitar que saída de capital se torne mais intensa

A China está impondo novos controles para evitar que ocorra uma fuga de capitais, numa tentativa de manter no país fundos extremamente necessários para combater uma desaceleração ainda maior da economia.

O banco central chinês informou ontem que vai incluir condições nos contratos futuros de modo a tornar mais caras operações que pressionem o yuan a se desvalorizar em relação do dólar.

Alguns dos maiores bancos do país, incluindo o Bank of China Ltd. e o China Citic Bank Corp., estão reforçando seus controles internos sobre grandes conversões cambiais de clientes corporativos, de acordo com executivos de bancos chineses.

Enquanto isso, os reguladores do mercado financeiro, juntamente com as forças de segurança do país, apertam a vigilância sobre os intermediários ilegais que ganham a vida ajudando as pessoas a transferir dinheiro para fora do país.

Essas iniciativas visam sustentar o yuan após a surpreendente desvalorização promovida pelo banco central há três semanas. Elas também ocorrem em meio a sinais de que a China — há muito um ímã para o capital do resto do mundo — está começando a ver esse dinheiro sair do país.

Uma moeda mais fraca geralmente leva os investidores a buscar outros destinos para seu dinheiro e pode complicar o esforço do governo para estimular gastos e o crescimento econômico. Dados divulgados ontem sobre o setor de manufatura da China mostraram o nível de atividade industrial mais baixo em três anos, fazendo bolsas despencarem em todo o mundo.

É difícil obter números sobre saída de recursos porque muitos investidores tiram fundos do país por meios que burlam os rígidos controles chineses sobre fluxos de dinheiro.

Ainda assim, economistas apontam para sinais de que o dinheiro está saindo. As reservas da China em moedas estrangeiras, por exemplo, que atingiram quase US$ 4 trilhões no ano passado, encolheram em mais de US$ 341 bilhões desde então.

A firma de serviços imobiliários CBRE estimou recentemente que os investimentos chineses em imóveis comerciais no exterior totalizaram US$ 6.5 bilhões no primeiro semestre, o que deve fazer com que ultrapassem, no ano todo, os US$ 10.5 bilhões registrados em 2014.

Numa nota a clientes divulgada ontem, economistas do banco americano Goldman Sachs Group Inc. mencionaram a estabilidade do yuan e a fuga de capital como suas “maiores preocupações”. Eles estimaram que o volume de dinheiro que deixou a China desde a desvalorização do yuan, em 11 de agosto, pode ter saltado para um valor entre US$ 150 bilhões e US$ 200 bilhões.

Já o economista Zhu Haibin, do banco JPMorgan Chase & Co., estima que os fluxos de saída atingiram o que ele chama de a “notável” cifra de US$ 340 bilhões entre o terceiro trimestre de 2014 e o segundo trimestre deste ano. O economista Larry Hu, do banco de investimentos Macquarie Group. Ltd., calcula, por sua vez, um montante de US$ 264 bilhões para o mesmo período.

Os fluxos de saída podem piorar nos próximos meses se o yuan se depreciar ainda mais ou se a economia chinesa der novos sinais de perda de fôlego. Dados econômicos negativos, como os divulgados ontem, colocam em dúvida a capacidade da China de atingir a meta de 7% de crescimento que o governo estabeleceu para este ano.

As empresas chinesas também estão se tornando cada vez mais cautelosas com as perspectivas de crescimento e esperam que o enfraquecimento do yuan “dê um impulso moderado aos negócios”, de acordo com uma pesquisa recente com firmas chinesas realizada por analistas do banco britânico Standard Chartered PLC.

Dirigentes do Banco Popular da China têm sido mais otimistas. Nos últimos dias, eles repetiram os comentários feitos em agosto pelo presidente do banco central, Yi Gang, que disse que os fluxos de capital entrando e saindo do país têm se mantido “normais”, embora ele tenha prometido ampliar o monitoramento sobre essas movimentações.

As saídas de capital não parecem, realmente, ter atingido níveis alarmantes e o governo tem poder de fogo mais que suficiente para contê-las. Suas imensas reservas internacionais, por exemplo, dão a ele grande margem de manobra para manter o valor do yuan no mercado.

Alguns investidores também apostam que a China continuará abrindo seu vasto mercado de capitais para o exterior, o que tornaria o yuan mais atraente.

Andy Seaman, gestor de portfólio da firma londrina de investimento Stratton Street, diz que, dadas as intenções declaradas do governo de abrir o mercado doméstico com o tempo, “seria perigoso para os investidores apostar contra o yuan”.

Ainda assim, medidas recentes, como a de ontem, para conter saídas de capital mostram a busca do governo chinês para encontrar uma forma de equilibrar a promoção de mudanças e ao mesmo tempo manter a economia estável diante da queda no crescimento.

A China limita em US$ 50.000,00 por ano o valor que uma pessoa pode transferir para fora do país. Empresas podem trocar yuans por moedas estrangeiras somente para fins comerciais autorizados, como o pagamento de importações ou investimentos permitidos no exterior. No Bank of China, compras de moedas estrangeiras acima de US$ 1 milhão precisam ser aprovadas pela matriz, em Pequim.

As novas regras instituídas pelo BPC, que começam a vigorar em 15 de outubro, determinam que os bancos que emitirem contratos futuros de compra de dólares e venda de yuans precisam guardar uma proporção como reserva no banco central. Essas reservas serão mantidas por um ano sem remuneração.

A exigência de reservas é uma proteção contra “riscos macrofinanceiros”, afirmou o comunicado do BPC.

Investidores veem a medida como uma ajuda ao yuan. “O banco central quer acabar com a especulação de curto prazo nas vendas de yuan”, diz Tommy Ong, chefe de soluções de gestão de fortunas, tesouraria e mercados para a China no DBS Bank, em Hong Kong.

Ontem, operadores disseram que estavam tendo dificuldades para fornecer aos clientes a cotação do dólar em yuans nos contratos futuros na China, uma vez que o custo de manter as reservas exigidas pelas novas regras ainda não estava claro. Ao mesmo tempo, o banco central fixou a taxa diária referencial do dólar — o centro da banda em que a moeda pode ser negociada durante o dia — no seu nível mais baixo desde 13 de agosto.

 

Fonte: The Wall Street Journal

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