O Brasil poderá se tornar um celeiro mundial de produção de orgânicos, mas o setor ainda convive com alguns entraves como desinformação, preconceito e falta de gestão nas empresas rurais. A observação foi feita pelo empresário, engenheiro florestal e administrador da Fazenda Malunga, Joe Valle.
“Temos as ferramentas nas mãos para avançar nesse setor, mas falta gestão. É preciso um grande trabalho para isso e o processo de certificação nos obriga a fazer essa gestão”, disse o especialista, que participou nesta segunda-feira da videoconferência “Certificação como maneira de diferenciar os produtos”, organizada pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Centro de Inteligência em Orgânicos (CI Orgânicos) e rede OrganicsNet.
Na ocasião, Valle defendeu o processo de certificação por auditoria que, segundo ele, é capaz de agregar valor aos produtos. “Anteriormente, certificação para os produtores significava custo e trabalho, mas hoje temos a certificação orgânica como valor. É um diferencial competitivo”.
Para o empresário, a certificação garante parâmetros de qualidade, sustentabilidade e rastreabilidade, que atendem às atuais demandas dos consumidores. “Após a pandemia, esse será o novo normal. Levar um produto certificado para casa significa credibilidade e segurança para o consumidor, e isso agrega valor”, destacou Joe.
Ele lembrou ainda que, segundo uma recente pesquisa da Nielsen, 87% da população está disposta a pagar um pouco mais por produtos que possam agregar valores de sustentabilidade, rastreabilidade, qualidade etc., e que garantam segurança jurídica por meio da certificação.
Indústria
Por outro lado, a indústria de alimentação também se torna cada vez mais exigente, destacou Alexandre Schuch, gerente geral da filial brasileira do grupo Ecocert.
“A indústria prioriza preço e processos de alimentação saudável e de fabricação que impactem em menor grau o meio ambiente. A certificação vem no rastro desse crescimento de padrão de qualidade, que possibilita um arcabouço jurídico com regras claras”, disse Schuch, que atua há mais de 15 anos no segmento de certificação de orgânicos. “Grandes empresas como Nestlé e Unilever estão entrando nesse processo”, completou Valle.
Oportunidades
Para Schuch, o processo de certificação não deve ser limitar apenas a auditorias e fiscalizações. “A certificação pode trazer para o produtor um conhecimento a respeito do seu próprio negócio, abrindo oportunidade para que ele possa revisar processos, obter registros e melhorar a produção”.
Além disso, ressaltou o representante da Ecocert, a certificação possibilita um trânsito melhor dos produtores entre diferentes mercados, incluindo os do exterior, ampliando seu alcance. “Produtores e empresas podem abrir canais de venda para outros mercados e terem mais produtividade. A validação de qualidade abre também oportunidades para a inovação”.
Comunicação
O representante da Ecocert destacou ainda que as certificadoras também colaboram para informar a respeito do caráter diferenciado dos produtos orgânicos no mercado, incluindo aspectos como validação de rótulos, capacitação nas cadeias, entre outros, garantindo, dessa forma “a formação da massa crítica dos consumidores”.
No entanto, acrescentou Schuch, “é preciso comunicar, de forma mais incisiva e profunda, o que significa ser orgânico, relacionando esse conceito a diversos aspectos inerentes a esse segmento, que vão além da importância do selo do Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica (SisOrg)”.
Desafios
Outros desafios para o setor também foram apontados pelos participantes da videoconferência. Fabiana Battistella, engenheira agrônoma, especializada em inspeção e auditoria de sistemas de produção orgânica, e que trabalha em projetos do setor junto à Ecocert, relatou que o principal entrave é a falta de documentação por parte dos pequenos produtores para garantir registros, rastreabilidade, entre outros fatores que envolvem a certificação.
“Há um bloqueio para começar um processo diferente do que eles estavam realizando antes, mas posteriormente esses produtores conseguem se adaptar. De forma geral, eles afirmam que conseguem controlar melhor o que é produzido”.
Segundo Schuch, é preciso uma análise mais criteriosa dos riscos para os produtores, como forma de aprimoramento do processo de certificação. “É preciso criar uma cultura para isso. Confiabilidade e rastreabilidade são aspectos primordiais”.
Em outra análise, Valle disse que iniciou conversas com o governo federal para garantir suporte e celeridade ao processo de certificação, o que irá permitir aos organismos certificadores condições para que favoreçam uma produção maior de insumos orgânicos para as indústrias, contribuindo, dessa forma, com o ganho de escala.
Além disso, pontuou o empresário, é necessário “institucionalizar, de forma coletiva, o marketing do setor para difundir suas vantagens competitivas, principalmente entre os pequenos produtores”.
Valle também defendeu o caráter coletivo da certificação. “Um processo reunindo vários produtores parceiros em uma só certificadora, facilita a realização de negócios e a busca por melhores preços”.
Dados e estratégias
Ao criticar a falta de dados oficiais sobre a produção orgânica no Brasil , a diretora da SNA e coordenadora do encontro, Sylvia Wachsner, afirmou que o Cadastro Nacional de Produtores de Orgânicos do Ministério da Agricultura precisa ser melhorado em seu formato, e sugeriu a inclusão, no sistema do governo, da relação dos produtos que são exportados pelo Brasil.
Ainda durante o evento, Sylvia propôs um investimento maior em ações e estratégias de gestão das marcas de produtos orgânicos (branding) para que se tornem mais conhecidas por seu público e pelo mercado em geral.
Acesse o link https://www.youtube.com/watch?v=RKQwSMzWzOE e acompanhe a videoconferência na íntegra.
Fonte: CI Orgânicos
Equipe SNA
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