Cenário positivo para os produtores de leite

Os produtores de leite do país tendem a ter margens de lucro melhores em 2019 que em 2018, principalmente se as condições favoráveis à atividade observadas nos primeiros meses do ano persistirem no segundo semestre.

Enquanto os preços pagos aos pecuaristas aumentaram quase 20% de janeiro a abril, para R$ 1,49 o litro, em média, os custos de produção subiram marginalmente (de 1% a 1,5% até março), segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Na comparação com o primeiro quadrimestre do ano passado, os preços pagos registraram alta de 34%. “O ano começou atípico para o segmento. O aumento de preços, que costuma ocorrer entre fevereiro e maio, quando a captação é menor, começou em janeiro”, disse Thiago Rodrigues, assessor técnico da CNA.

Essa antecipação é resultado da safra do Sul do país em 2018, menor que a esperada, e do veranico de janeiro deste ano, que afetou a produção no Sudeste e reduziu o volume de captação.

O índice de captação de leite do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) caiu 3,05% em janeiro e 4,73% em fevereiro. Em março, a queda foi de 1,6% em relação a fevereiro.

Em 2018, a captação de leite com inspeção totalizou 24.5 bilhões de litros no Brasil, com aumento de 0,50% em relação a 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Tudo indica que o movimento de recuperação dos preços pagos aos produtores perderá força até junho, com a entrada da nova safra da região Sul do País, mas mesmo assim os valores deverão continuar mais elevados que os praticados no ano passado.

Segundo estimativa da CNA, em abril o preço médio nacional do litro ficou de R$ 1,56, contra R$ 1,38 no mesmo mês do ano passado. Para maio, o valor estimado para o litro é R$ 1,59, contra R$ 1,45 em maio de 2018, e para junho a entidade espera que os R$ 1,59 se repitam. Em junho do ano passado, a média foi R$ 1,47 por litro.

Em um mercado em que cada centavo faz a diferença, já será uma boa notícia. “Com isso, as margens dos produtores deverão ser maiores que as do ano passado”, afirmou Valter Galan, analista do Milkpoint. “Mas isso vai depender de quanto será a queda depois de junho”.

Como a economia não está crescendo como esperado, as indústrias deverão segurar os reajustes nas gôndolas para estimular o consumo. Ao mesmo tempo, tendem a diminuir os preços pagos aos pecuaristas para preservar suas próprias margens.

Essa dificuldade das empresas em elevar os preços dos lácteos sem prejudicar tanto as margens já limitou a valorização no campo em abril, de acordo com avaliação do Cepea. A “Média Brasil” líquida de abril, referente à captação de março, aumentou 0,92% (praticamente um centavo), para R$ 1,4920 por litro.

“Não há nenhum indicativo de que o consumo vai melhorar e, mais cedo ou mais tarde, a indústria vai pressionar o produtor”, afirmou Rodrigues, da CNA.

Assim, os custos de produção também farão muita diferença para a manutenção das contas dos pecuaristas no azul. “Os preços do milho estão favoráveis e a perspectiva é de uma safra farta. Mas, se houver algum problema climático, esse cenário pode mudar”, observou Rodrigues.

Com a menor oferta no mercado interno no começo do ano, as importações ocuparam parte do mercado, que se abriu. No entanto, as produções de leite da Argentina e do Uruguai recuaram no primeiro trimestre do ano, 8,5% e 9%, respectivamente. E a alta do dólar reduziu a atratividade das importações. “Isso abriu espaço para essa maior de oferta do produtor de leite nacional”, disse Galan, do Milkpoint.

As importações brasileiras recuaram 36,5% em março em relação a fevereiro, para 80.9 milhões de litros, de acordo com dados do Cepea. Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda é de 26%.

O Brasil tem histórico de importar leite em pó dos dois países vizinhos e um longo processo de negociações para reduzir os volumes adquiridos. E, nos últimos três anos, essa redução vem ocorrendo. No ano passado, o país importou 96.680 toneladas, contra 103.440 toneladas no ano anterior, segundo dados da Viva Lácteos.

Para Marcelo Martins, diretor executivo da Viva Lácteos – entidade que representa os principais laticínios que atuam no mercado brasileiro – se a aprovação da reforma da Previdência se concretizar, o cenário para o segmento será “extremamente positivo” neste ano.

Segundo Martins, a grande volatilidade dos preços do mercado interno, que oscilaram 52% em 2018 e 29,5% no ano anterior, também prejudica o produtor. E a saída é ampliar o consumo interno e as exportações.

“A gente vem fazendo um trabalho para melhorar a commodity. O avanço tem acontecido na exportação de produtos de maior valor agregado, como os queijos”, afirmou o diretor.

 

 

Valor Econômico

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