Quatro casos mais recentes de mormo em cavalos – dois registrados no Estado de Goiás, um em Mato Grosso do Sul e outro em Santa Catarina – acendem um alerta sobre os problemas que envolvem, atualmente, a equideocultura brasileira. Faltam informações sobre sanidade e controle do rebanho de equídeos (cavalos, muares e asininos), assistência técnica no campo, programa nacional para registro dos animais que circulam pelo País e mais laboratórios especializados na detecção de doenças, como o mormo e a anemia infecciosa, outro mal que acomete este tipo de rebanho no Brasil.
Os gargalos do segmento, que também faz parte do agronegócio brasileiro e emprega mais de 3,5 milhões de pessoas direta e indiretamente, foram destaques durante uma reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Equideocultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O encontro foi comandado pelo presidente da Câmara, Flávio Obino, com participação, entre outros, de Hélio Fábio do Nascimento Guerra, representante da CNA no colegiado e presidente da Comissão de Equinos da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg).
“Por causa dos casos de mormo e anemia infecciosa no Brasil não podemos exportar equídeos para outros países. Nossa equideocultura é muito desenvolvida, mas temos sofrido com sanções do mercado externo por causa destes problemas”, lamenta Guerra.
Para ele, há falhas de fiscalização nas divisas territoriais, o que acaba permitindo a circulação de cavalos, muares e asininos doentes, que podem transmitir o mormo, por exemplo, para outros animais e até mesmo para o ser humano.
“Queremos o apoio do governo federal para que liberem verbas para instalação de laboratórios que possam detectar estes males e ainda um banco de dados com o registro do rebanho, por meio de um chip implantado no equídeo, que também traria o histórico veterinário do animal”, destaca o representante da CNA na Câmara Setorial.
Ele também acredita na importância da capacitação profissional: “Precisamos contar com técnicos capacitados que nos ajudem ministrando palestras no campo, repassando informações para os pecuaristas, sejam eles pequenos, médios ou grandes produtores”.
Apesar do atual cenário da equideocultura não ser dos melhores, Guerra se mostra otimista com o futuro do segmento, principalmente porque a “ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, já sinalizou que quer dialogar com o setor, que antes não tinha respaldo político”.
REVISÃO DO SISTEMA DE SANIDADE
Durante reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Equideocultura do Mapa, foi proposta a implantação de um sistema mais eficiente de sanidade para controle do rebanho e de doenças e a atualização de modelo de resenha, mecanismo usado em território nacional para identificar os equídeos, a partir da implantação de chips nestes animais.
Também entraram em pauta os recentes casos de mormo, doença infectocontagiosa que ataca os equídeos, com incidência em quase todo o Brasil e que provoca, entre outras consequências, a suspensão do comércio de animais e de competições esportivas com cavalos.
“Precisamos parar de enxergar a equideocultura como um hobby de rico. Há muitas pessoas que vivem deste setor, que emprega 3,5 milhões de pessoas. Muitas pessoas deste segmento sustentam suas famílias com a equideocultura”, disse Guerra, durante o encontro na CNA.
AS DOENÇAS
O mormo é uma doença infectocontagiosa dos equídeos, que ataca os animais por meio da bactéria Burkholderia mallei e pode também ser transmitida ao homem e a outros animais. A contaminação ocorre pelo contato com o material infectante do animal doente (pús, secreções nasais, urinas ou fezes), e a bactéria penetra no organismo por via digestiva, respiratória, órgãos genitais ou pele.
Outra doença que acomete cavalos, muares e asininos, a anemia infecciosa equina (AIE) é uma afecção cosmopolita destes animais, causada por um RNA vírus do gênero Lentivirus, da família Retrovírus. O vírus, uma vez instalado no organismo do animal, nele permanece por toda a vida mesmo quando não manifestar sintomas. É uma doença essencialmente crônica, embora possa se apresentar em fases hiperaguda, aguda e subaguda.
Por equipe SNA/RJ