Carne bovina brasileira ainda enfrenta resistência na Europa

As principais consultorias do segmento afirmam que, sem as restrições, a carne bovina brasileira praticamente dominaria o mercado europeu, devido à sua qualidade, preço competitivo e cadeia de produção integrada e racional. Foto: Pixabay

Acordo com MERCOSUL não diminuiu exigências da União Europeia

Passada a fase de assinatura, em dezembro passado, o entendimento entre o MERCOSUL e União Europeia, aguarda aprovação dos parlamentos locais. No entanto, mesmo que integralmente implementado, diversas salvaguardas permanecerão freando o avanço da carne bovina brasileira. Isso porque, no setor agropecuário, o tratado estipula o excedente que será permitido quando sua vigência começar, o que pode demorar até cinco anos.

A título de exemplo ilustrativo, os termos do texto permitem uma abertura que se limitará à cota adicional de 99 mil toneladas/ano, de forma escalonada em seis estágios, com alíquota reduzida de 7,5%. Após entrar em vigor, daqui a cinco anos, essas 99 mil toneladas significarão apenas dois hambúrgueres adicionais por ano para cada europeu.

Isso reforça a convicção de analistas e produtores, segundo a qual a Europa não oferecerá maiores rotas para a carne bovina nacional, ao contrário do mercado asiático, que segue comprando e demandando cada vez mais volume do produto. Sozinha, a China importou no ano passado 15 vezes mais carne bovina brasileira do que todos os países europeus.

As principais consultorias do segmento afirmam que, sem as restrições, a carne bovina brasileira praticamente dominaria o mercado europeu, devido à sua qualidade, preço competitivo e cadeia de produção integrada e racional. As 99 mil toneladas adicionais representam apenas 1,6% do consumo anual da Europa. E menos de metade do total atualmente já importado do MERCOSUL, de 196 mil toneladas. Embora compre menos quantidade, os europeus tradicionalmente pagam melhor, devido às exigências ambientais, sanitárias e também pelos cortes serem mais nobres.

Já quando o assunto é a carne suína e de frango, o prognóstico é mais otimista, dada a falta de concorrência dentro do próprio MERCOSUL. Nada que mude o panorama desses mercados no país, mas representa um progresso, com a cadeia produtiva atendendo a todos os requisitos exigidos. Mas não são volumes grandes, 180 mil toneladas de carne de frango e 25 mil toneladas de carne suína.

No mercado interno, tendência de pecos mais altos

Para 2025, em termos de mercado interno, o dólar em alta e a escassez de animais jovens para reposição de rebanho devem se refletir no preço final. De acordo com o indicador ESALQ/BM&FBovespa, o preço médio do bezerro negociado em Mato Grosso do Sul encerrou o ano com alta acumulada de 27,45%, a R$ 2.643,23. O animal jovem é o principal custo de quem atua no último elo da cadeia pecuária bovina, a engorda, o que deve diminuir as margens desses produtores neste ano.

Especialistas explicam que, quando o mercado está em baixa, o produtor tende a abater mais vacas, visando reduzir a produção. Se isso acontece, há aumento da oferta de animais prontos para abate, com queda de preços. O consumo em 2023 e 2024 foi melhor, mas agora um ciclo mais seletivo deve pressionar a cotação e o resultado será sentido pelo consumidor.

Outro assunto que mobiliza o setor é o processo de investigação aberto pela China, que apura suposto aumento repentino nos embarques de carne bovina oriundos de diversos países, entre eles o Brasil, abrangendo o período entre 2019 e 2024. Autoridades de Pequim argumentam que pode ter havido danos à indústria local. Governo, iniciativa privada e entidades de representação unem esforços para esclarecer os questionamentos chineses, argumentando que o volume destinado ao país asiático tem crescido de forma contínua na última década e não prejudica o mercado local, apenas o complementa, até mesmo pela diferença entre os cortes que são enviados para processamento e os que são produzidos em solo chinês.

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) já está oficialmente acompanhando o processo, bem como a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) e o Ministério da Agricultura. O Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento também participam das reuniões para coordenar a defesa brasileira. É importante para o Brasil provar que não interferiu na dinâmica do mercado chinês e seguir com a boa parceria comercial que faz do país o principal destino dos produtos nacionais, inclusive os de carne bovina.

Por todas essas razões, 2025 será um ano determinante para o setor, interna e externamente, e a SNA seguirá atenta a esses desdobramentos. O presidente da Abiec, Roberto Perosa, em breve concederá entrevista ao Portal, tratando de assuntos relevantes para o setor.

Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb13. 9290)
Com informações das seguintes consultorias: Scot, Agrifatto, Safras & Mercado.
Dados complementares: MAPA, Abiec, ESALQ/BM&FBovespa, Abrafigro.
 

 

 

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