Câmbio será determinante para a formação do preço da soja brasileira

Diferentemente de riscos climáticos ou de mercado, onde o produtor pode prever, se planejar e se proteger, as incertezas no país, como o cenário eleitoral, a guerra comercial entre China e Estados Unidos e a polêmica da tabela do frete, criam um cenário dos mais difíceis dos últimos tempos para o produtor.

A avaliação é do consultor da Agroconsult, André Pessoa, que participou nesta quarta-feira, 26 de setembro, do Fórum de Mercados e Tendências – O Agronegócio e o Cooperativismo, promovido pela Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS) com o apoio do Sescoop/RS, em Lajeado (RS).

O especialista comparou este início de safra a uma estrada, que não está das piores, mas a viagem começa com muita neblina. Sobre as eleições, Pessoa disse que a polarização entre dois extremos ainda trará uma tensão na expectativa até a definição do resultado final.

Já em relação à tabela do frete, o consultor salientou que até a colheita será possível chegar a uma solução, mas não se sabe ainda se haverá um tabelamento valendo e qual vai ser. Quanto à guerra comercial Estados Unidos e China, Pessoa ressaltou que “esta briga pode acabar amanhã ou daqui a dez anos. Mas quando mudar pode causar um terremoto no mercado”.

Com números da consultoria, o especialista lembrou que na safra passada o Brasil exportou 49 milhões de toneladas para os chineses, em comparação aos 37 milhões de toneladas dos Estados Unidos. Se calculados os últimos 12 meses, o quadro é de 58 milhões de toneladas dos brasileiros e 30 milhões de toneladas dos americanos.

A perspectiva, de acordo com o especialista da Agroconsult, é de que o Brasil pode alcançar até 80 milhões de toneladas devido à decisão do governo chinês de taxar em 25% a importação da soja dos americanos.

Em relação aos preços, Pessoa avaliou que os brasileiros poderão vender soja a valores competitivos e acima das expectativas, já que o principal mercado está com esta restrição de embarques dos Estados Unidos aos chineses, mas que os norte-americanos já estão abrindo margem em outros mercados para escoar o excedente da oleaginosa.

“Aos poucos eles encontram o mercado para colocar o excedente de soja que têm. A indústria está tendo a maior margem para esmagamento e exportação de farelo de soja”, disse o consultor.

Ele afirmou ter uma estimativa de cotação acima de US$ 9,00 o bushel em Chicago. A expectativa é de que o prêmio de exportação suba, caso o dólar volte a um patamar de R$ 3,85. Mas, se o câmbio disparar e chegar a passar dos R$ 4,50, o produtor terá um preço irresistível. “O câmbio é a variável mais importante da definição dos preços nas próximas semanas”, ressaltou Pessoa.

No milho, o especialista reforçou que existe um problema estrutural de falta de milho no Sul do Brasil, mesmo com safra boa, sendo necessário abastecer o mercado ainda no primeiro semestre.

“Teremos uma redução de exportação. No ano passado tivemos 27 milhões de toneladas e este ano deveremos chegar a no máximo 24 milhões de toneladas”, disse Pessoa. Ele acrescentou que também houve queda no consumo, que não há uma pressão sobre os preços do grão e que só poderá haver variação de cotação caso o câmbio tenha alguma alta.

Mesmo assim, a análise é de que a precificação do milho para a safra 2018/2019 é boa neste momento, com possibilidade de aumento de área, especialmente na chamada segunda safra. “Se tenho preço futuro remunerador e possibilidade de plantar mais cedo, posso plantar a safrinha mais cedo também”, afirmou o consultor.

Também participando do Fórum de Mercados e Tendências, a especialista em tecnologias e influenciadora digital Martha Gabriel falou sobre a Transformação Digital no Agronegócio. Com exemplos do mercado, fez uma reflexão sobre as transformações que as tecnologias vêm trazendo para a sociedade e, especialmente, para o mundo dos negócios.

Martha lembrou aos participantes que a tecnologia nunca é neutra e que sempre traz coisas boas e ruins, quer o público faça uso dela ou não. A especialista reforçou também que o digital está transformando a sociedade, o corpo e o cérebro. “O ser humano é o que é, devido a estas transformações. A tecnologia vai mudando a gente”.

Na ocasião do evento, foram entregues os resultados das devolutivas para 27 cooperativas participantes do programa de autogestão, realizado pela FecoAgro/RS em parceria com o sistema Ocergs/Sescoop-RS.

 

Fonte: Agrolink

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