Revigoradas pela desidratação do dólar e em geral impulsionadas por reduções nas ofertas por conta de problemas climáticos, as cotações das principais commodities negociadas pelo Brasil no exterior (soja, milho, trigo, açúcar, algodão, cacau, café e suco de laranja) encerraram junho com as maiores médias mensais do ano nas bolsas americanas de Chicago, onde são negociados os grãos, e Nova York, principal referência global para os mercados das “soft commodities”.
Mais que isso. Cálculos do Valor Data baseados nas oscilações dos contratos futuros de segunda posição de entrega apontam que essa combinação entre câmbio e clima levou o suco de laranja a registrar a maior média mensal desde março de 2012.
No caso do açúcar, a média de junho foi a maior desde novembro daquele mesmo ano, enquanto para soja e milho os patamares alcançados foram os mais elevados desde meados de 2014. A média do café foi a maior desde abril de 2015 e as de trigo e cacau ascenderam aos níveis do fim do ano passado.
Se é uma boa notícia para os exportadores, já que as altas compensam as perdas decorrentes da queda do dólar, as escaladas, em contrapartida, mantêm vivas as preocupações inflacionárias em países pobres ou em desenvolvimento como o Brasil, que lidera os embarques globais de soja, açúcar, café e suco e é o segundo no ranking do milho.
Em junho, a cotação média do dólar foi de R$ 3,4245 (PTAX), 3,2% abaixo da média de maio (R$ 3,5393) e 11,5% a menos do que em dezembro do ano passado (R$ 3,8711).
Do ponto de vista dos fundamentos de oferta e demanda, entretanto, as peças começam a ser reordenadas nos respectivos tabuleiros e a conjunção altista poderá sofrer mudanças, principalmente no que se refere aos grãos.
Depois das fortes quebras de soja e milho na Argentina e no Brasil na temporada 2015/16, em decorrência de traquinagens do El Niño, as atenções estão voltadas ao plantio da safra 2016/17 no Hemisfério Norte, especialmente nos Estados Unidos, onde as estimativas indicam expansões das áreas dos dois grãos e relações aparentemente mais confortáveis entre demanda e estoques.
Para o Brasil, onde a semeadura da safra 2016/17 começará em setembro, e existem projeções que sinalizam que a área de soja poderá cair – o que não costuma acontecer – e abrir espaço para o milho de verão, já que no momento os preços domésticos do cereal, mais prejudicado pelas intempéries, estão mais atraentes que os da oleaginosa.
O banco Pine, por exemplo, estima que a soja ocupe 32.2 milhões de hectares no País, 2,7% menos que em 2015/16 (33.1 milhões de hectares). Mas essa diferença tende a ser anulada por uma produtividade maior, se o La Niña se comportar. Para a primeira safra de milho, o Pine prevê 6.5 milhões de hectares, um aumento de 14%.
“Acreditamos que a conjuntura se mostra favorável para a cultura do milho verão. Com incremento significativo da área plantada nas regiões consumidoras, em especial no Sul do Brasil nas quais as margens do milho estão bem maiores que da soja (…) O aumento só não será maior porque vários agricultores temem que o La Niña traga um clima seco que prejudique mais o milho que a soja”, diz boletim divulgado pela instituição.
Estudo da INTL FCStone confirma que, para soja e milho, o La Niña tende a ter maior impacto no país nos períodos de plantio e desenvolvimentos das lavouras.
Na fase de colheita, a partir do início de 2017, o fenômeno deverá ser mais camarada. Também são considerados líquidos e certos seus efeitos sobre as culturas perenes que dominam o Centro-Sul (cana, café e laranja) – que, se tudo correr como o previsto, deverá tem menos chuvas que o normal.
Mas, pelo menos até agora, a maior parte dos analistas de açúcar, café e suco não considera a possibilidade de que o La Niña cause tragédias.
Nesses três mercados, problemas climáticos observados no Brasil desde o início do ano passado sobrepujaram quaisquer notícias ligadas à demanda e colaboraram para oferecer sustentação às cotações internacionais nos últimos meses – daí os elevados patamares alcançados em junho, como mostram os cálculos do Valor Data.
São janelas de oportunidade que tendem a se fechar com a normalização da oferta, mas que ainda estão abertas e favoráveis às respectivas cadeias produtivas.
Fonte: Valor Econômico