Na contramão do mercado cafeeiro, cujos efeitos da estiagem acarretaram prejuízos de até 65%, produtores de cafés especiais não só minimizaram perdas do período como atingem o triplo da produtividade em lavouras de safra “zero”.
O cafeicultor da fazenda Santa Mônica, Arthur Moscofian, conta que essa técnica consiste em zerar a produção de café 100% arábica no ano em que a árvore produz pouco, além da aplicação de uma poda especial. A propriedade, localizada na região de Machado, em Minas Gerais, é dividida em duas partes, onde o processo é alternado: enquanto uma área produz, a outra “descansa”.
“Essa parada na produção promove também a redução dos custos de colheita, adubo e pulverização. Se com o café convencional o desembolso ficava entre R$ 350 e R$ 400 por saca de 60kg, agora este valor caiu para uma média de R$ 200”, diz Moscofian. Segundo o cafeicultor, a melhora da produtividade está na ramificação, pois onde nasceriam cerca de três grãos, nascem entre nove e dez.
Para a safra 2014/2015, Moscofian espera colher em torno de quatro mil sacas do produto especial, considerando uma quebra de aproximadamente 20% por conta da estiagem. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram que o café convencional deve ter perdas de 65% (região do noroeste do Paraná) a 15% (Mogiana, em São Paulo).
QUALIDADE
O diretor Executivo de Agronegócios da O’Coffee, Edgar Bressani, destaca a qualidade como o principal atributo do café especial. “O processo começa no manejo e vai até o barista, que é quem vai preparar o café, diz. Segundo o executivo, além de uma avaliação que gere mais de 80 pontos a estes produtos, os cafés se caracterizam finos quando produzidos de maneira sustentável, certificada, com corpo, doçura e menos “defeitos” em relação aos produtos tradicionais.
“Um gravetinho em uma amostra de 300 gramas já é considerado um defeito. Os convencionais têm mais de duas mil imperfeições, enquanto os especiais têm cerca de quatro”, explica Bressani.
Com mil hectares na região de Pedregulho, em Alta Mogiana, a produção da O’Coffee para esta safra está estimada em 33 mil sacas, visto que cerca de 80% vai para exportação.
“Acompanho o movimento deste mercado desde 2002 e vejo que está crescendo muito, até mesmo com o nascimento de novas marcas. O setor já chegou a crescer 25% no ano passado e, neste ano, deve aumentar pelo menos 15%, considerando todos os problemas que a seca causou”, diz.
Dados da BSCA mostram que o consumo de cafés especiais é o que registra os maiores índices de crescimento nos mercados brasileiro e mundial, ao avançar entre 10% e 15% ao ano em ambos os casos. Em contrapartida, a evolução da demanda dos produtos tradicionais gira em torno de 3% no Brasil e de 1,5% a 2% em todo o mundo, com sobrepreço médio entre 30% e 40%.
Fonte: DCI