Os cafezais da safra 2016/17, que estavam sendo colhidos ou próximos disso, foram fortemente afetados pelo excesso de chuvas no Sul de Minas Gerais nos últimos dias.
Fotos enviadas por cafeicultores à redação do Notícias Agrícolas confirmam os prejuízos que a condição climática trouxe à cadeia produtiva. Com essas precipitações, os cafés caíram e fermentaram ao entrar em contato com a terra ou ainda, em alguns casos, os frutos verdes chegaram a secar antes mesmo de ficarem maduros.
De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Boa Esperança (MG), Manoel Joaquim da Costa, as chuvas retiraram a proteção natural dos frutos favorecendo a maturação mais rápida e a proliferação de microrganismos.
“O grão mais seco é muito mais fácil de cair do pé e se torna café de varrição. Isso afeta bastante a qualidade da bebida”, explica. Além disso, “com essa situação, o produtor não consegue mais comercializar o grão como cereja descascado [que tem maior valor de mercado]”, ressalta.
Sem a possibilidade de colher o cereja, os cafeicultores perdem mais de R$ 100,00 por saca. Segundo Costa, a previsão é de que a produção do tipo cairá mais de 50% na região somente neste ano.
Para engenheiro agrônomo da Fundação Procafé, José Braz Matiello, são dois os principais fatores que podem ter ocasionado essas alterações fisiológicas nos cafés, ambos por conta das adversidades climáticas.
“No caso do grão maduro passar para seco, as chuvas podem ter acelerado a maturação e favorecido a proliferação de fungos. Já o grão verde passando para o seco, tudo indica que as plantas tiveram a morte do etileno, hormônio de maturação. Neste caso, também pode haver desfolha dos cafezais”, explica.
Para ele, o maior problema do produtor, nestes casos, é que realmente a ausência de café maduro impede a comercialização do cereja descascado. Na semana passada, o tipo chegou a ser comercializado acima de R$ 550,00 a saca de 60 kg nas praças de comercialização verificadas pelo Notícias Agrícolas.
A safra 2016/17 de café do Brasil foi estimada em maio pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) em 49.67 milhões de sacas de 60 kg, um aumento de 14,9% em relação ao ano passado.
A produção do arábica é estimada em 40.27 milhões de sacas, enquanto que a de conilon, que tem queda prevista de 16% em relação à safra 2015/16, deve ter colheita de 9.4 milhões de sacas. No entanto, especialistas do setor, acreditam em números menores.
“Esses efeitos do clima afetaram diretamente na qualidade do produto. Estamos convocando representantes do setor cafeeiro para fazer avaliações das perdas causadas, principalmente, na região Sul de Minas Gerais”, disse o cafeicultor de São Pedro da União (MG) e presidente do Conselho da Associação dos municípios da Microrregião da Baixa Mogiana (AMOG), Fernando Barbosa.
A colheita de café da safra 2016/17 foi antecipada em algumas cidades e favoreceu uma parcela de produtores, que conseguiu colher o produto antes do período chuvoso.
No entanto, mapas climáticos da Somar Meteorologia mostram que a partir desta terça-feira uma nova frente fria avança do Sul do Brasil e deve atingir áreas produtoras de São Paulo e Sul de Minas Gerais.
Levantamento divulgado pela Safras & Mercado na última quinta-feira (16), mostrou que a colheita de café da safra 2016/17 foi estava em 34% até 14 de junho. Levando em conta a estimativa da consultoria de 56.4 milhões de sacas de 60 kg nesta temporada foram colhidas 19.34 milhões de sacas. A colheita evoluiu 8% em relação à semana anterior.
Segundo o degustador e classificador, Hugo Silva Ferreira, da Cooperativa dos Cafeicultores do Vale do Rio Verde, no Sul de Minas, é nítida a diferença nas amostras colhidas antes e depois das chuvas.
“Os primeiros cafés que chegaram à cooperativa estavam mais e com sabor mais adocicado, depois das precipitações das últimas semanas, eles ficaram mais desiguais, com grãos pretos, e o sabor mais aguado”, disse.
Com a volta do sol, alguns produtores na Mantiqueira voltaram à colheita. No entanto, essas amostras devem demorar cerca de 15 dias para chegar à cooperativa e não devem ser muito diferente das últimas.
Fonte: Notícias Agrícolas