No acumulado de janeiro a julho deste ano, as entregas de fertilizantes ao consumidor final totalizaram 16,24 milhões de toneladas, um incremento de 7,2% em relação ao mesmo período de 2013, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), que projeta crescimento de 3% para 2014. No mesmo período, as importações totalizaram 13,24 milhões de toneladas, um aumento de cerca de 13,0%, e a produção interna caiu 10,0%, para 4,89 milhões de toneladas. De acordo com consultorias do setor, em 2013 esse mercado totalizou 31 milhões de toneladas e movimentou US$ 13 milhões.
Ao todo, foram entregues 6,967 milhões de toneladas de NPK, aumento de 7,3% comparado ao período de janeiro e julho de 2013. Para os nitrogenados, a evolução de 7,9% foi puxada pelo aumento da demanda para as culturas do milho safrinha, algodão, café e trigo. Já os adubos fosfatados cresceram 3,6% na comparação, impulsionados pelas culturas de milho safrinha, trigo e soja. Fertilizantes potássicos cresceram 10,3%, em razão da demanda do milho safrinha, algodão e soja.
De acordo com o presidente do Conselho de Administração da Anda, George Wagner Bonifácio e Sousa, que divulgou os números em coletiva de imprensa, durante o Congresso Brasileiro de Fertilizantes, promovido pela instituição no dia 27 de agosto, em São Paulo, este ano houve antecipação das compras em função dos bons preços.
Na avaliação de Sousa, a queda dos preços das commodities agrícolas só deve afetar o mercado de fertilizantes a partir de 2015. No entanto, ele afirmou que, até o fim do ano, é provável que não haja um crescimento como visto anteriormente. “Temos visto uma deterioração da relação de troca, o que é preocupante”, disse, justificando a possibilidade de desaceleração das vendas no segundo semestre, comparado ao forte ritmo registrado nos primeiros meses deste ano.
“Os preços descendentes das commodities são extremamente danosos para os fertilizantes”, disse o diretor executivo da Anda, David Roquetti Filho, segundo o qual, em 2013, o Brasil importou 77% de sua demanda total por fertilizantes em 2013. De acordo com consultorias, o mercado de fertilizantes brasileiros representa 31 milhões de toneladas e equivale a US$ 13 milhões (2013).
DEFICIÊNCIA LOGÍSTICA
De acordo com Roquetti Filho, de 2005 a 2013, o sistema portuário Paranaguá/Antonina, que recebe 60% dos fertilizantes importados pelo Brasil, os gastos com demourrage somaram R$ 690 milhões. “Isso equivale a quase 12 dólares por toneladas”, calculou.
O custo de logística e de transporte de grãos do Brasil supera em muito os da Argentina e dos Estados Unidos, segundo informou o economista e consultor Luiz Antonio Fayet, durante o Congresso da Anda. Ele diz que, em 2003, o custo brasileiro era duas vezes maior e, em 2013, quatro vezes mais que os dos países citados. “Na safra passada, os efeitos negativos da deficiência logística representaram 4 milhões de toneladas”, comentou.
Em sua palestra sobre Infraestrutura e Logística: Oportunidades e Desafios, Fayet, que é consultor de logística e infraestrutura da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), disse que as perspectivas de melhoria na área de infraestrutura no médio e longo prazo não são muito animadoras. “Devido às deficiências de logística no Norte e Nordeste, continuaremos a embarcar 60 milhões de toneladas de soja do Centro-Oeste pelos portos dos Sudeste e do Sul”, ressaltou.
Já na palestra sobre Desafios e Oportunidades para o Brasil: Indústria de Transformação, Investimento Público e Educação, o economista do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (IBNDES), Marcelo Miterhof, ressaltou como prioridade, para o País, a retomada do crescimento visando a melhoria geral das condições de vida para toda a população. “Precisamos criar condições para ter um modelo alternativo de crescimento, na indústria de transformação e em outros segmentos econômicos, a exemplo do que ocorre na cadeia da proteína animal”, sugeriu.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Durante o painel sobre Economia do Agronegócio, Inovação e Sustentabilidade, o professor da Universidade de São Paulo (USP), João Eduardo Morais, defendeu, com urgência, o enfrentamento de problemas reais, dentro e fora da porteira, e afirmou que políticas públicas mais eficazes para o desenvolvimento do agronegócio dependem da integração entre iniciativa privada e governo. “A criação de políticas públicas mais eficazes, visando ao desenvolvimento tecnológico e da ciência no agronegócio passa pela integração entre a iniciativa privada e a esfera governamental. No entanto, sem os recursos de inteligência, reflexão e prospecção que possui a indústria é difícil que o Estado consiga definir uma política consistente”, explicou.
“O Brasil possui os recursos e a inteligência para fazer uma reflexão de futuro conciliador, integrando conhecimento e ciência, além dos interesses da iniciativa privada”, reforçou Morais, que sugeriu a construção de uma agenda tecnológica para o setor, com uma abordagem inovadora.
Por equipe SNA/SP