A partir de maio, as exportações de Brasil perdem ritmo e, em contrapartida, os embarques de milho para o exterior ganham força. A estimativa é do analista Eduardo Vanin, da corretora Agrinvest, do Paraná.
No ano passado, devido à forte demanda da China, que recorreu ao Brasil durante a guerra comercial com os Estados Unidos, a movimentação com soja tomou os portos durante boa parte do ano, tirando espaço do milho. “Neste ano, o quadro mudou”, disse o analista em seminário online realizado nesta terça-feira.
Segundo ele, a demanda chinesa se enfraqueceu, com a queda do processamento de carne, por causa da peste suína africana, e os prêmios pagos pela soja brasileira estão longe do patamar da temporada passada.
Tradings registram margens negativas em várias operações no Brasil – os valores pedidos em Sinop (aquisição de soja por R$ 65/saca para levar para o porto de Barcarena, no Pará) e em Sorriso (R$ 63/saca para levar ao porto de Santos (SP), não cobrem custos. “Tradings vão parar o programa de exportação de soja mais cedo neste ano”, afirmou Vanin.
Até agora, o total de soja comprometido para a exportação no Brasil é de 21 milhões de toneladas. Em 2018, nesta época, o volume era semelhante, mas a partir de abril foram fechadas novas vendas da oleaginosa brasileira com a imposição de tarifa pela China à importação de soja dos EUA.
Conforme Vanin, sem a repetição da demanda, multinacionais começarão em maio a ocupar com milho os terminais de exportação, cumprindo contratos de transporte do tipo “take or pay” (o pagamento é realizado independentemente do uso) – movimento que deve ganhar força em junho.
Em virtude de o cereal ter sido plantado cedo e da perspectiva até o momento de produção volumosa no País, há ofertas de milho com preço considerado atrativo para a segunda quinzena de junho. “O milho brasileiro está muito competitivo na exportação”, disse Vanin.
Segundo ele, a exportação pode chegar a 33 milhões de toneladas do cereal. “O consumidor interno precisa ficar atento porque uma demanda externa grande pode enxugar rápido os estoques e aumentar a concorrência pelo milho.”
O analista disse ainda que, se houver acordo entre China e EUA, a nação asiática pode ampliar em muito o volume adquirido dos EUA – o compromisso é o de comprar US$ 30 bilhões em produtos norte-americanos.
“A última vez que a China comprou tanto volume dos EUA foi em 2012, quando adquiriu US$ 26 bilhões, mas, naquele momento, os preços estavam muito mais elevados. Com os atuais preços baixos de soja, milho e trigo, a China teria de comprar um grande volume de produto norte-americano para chegar a esse montante”, explicou Vanin.
“Isso enxugaria os estoques dos EUA, o que seria um ponto positivo para os futuros na Bolsa de Chicago, mas para os prêmios no Brasil não seria tão bom.”
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