A contínua expansão da agricultura no Brasil voltou a gerar bons resultados para as empresas de defensivos que atuam no País na safra 2018/19, cujas colheitas foram concluídas ao longo do semestre do ano passado.
Pesquisa realizada pela consultoria Kleffmann Group com produtores mostra que, em volume, as vendas totais de defensivos aumentaram 7% em relação ao ciclo 2017/18, para 809.700 toneladas. Em dólar, a receita caiu 5%, para US$ 11.5 bilhões, mas em virtude da valorização da moeda americana, em real, houve aumento de 9%, para R$ 42 bilhões, segundo cálculos do Valor Data baseado na taxa de câmbio média de 2019.
Mesmo com a queda do faturamento do segmento em dólar, o Brasil continuou a ser o maior mercado do mundo em vendas de defensivos, à frente dos EUA. Em larga medida, essa liderança reflete o clima tropical do País, que favorece a proliferação de pragas e doenças.
Com aumento de 2,10% da área plantada em 2018/19, que não foi acompanhado pelo avanço da colheita, em razão de problemas climáticos, a soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, puxou o crescimento do volume de vendas de defensivos ao longo do ciclo, segundo a Kleffmann. O milho, cuja área aumentou 5,30%, e o algodão, com aumento de 37,80%, também colaboraram para a expansão.
Em razão do incremento dos preços em real, disse Matheus Almeida, analista do Rabobank no Brasil, as despesas dos produtores de soja com defensivos responderam, em média, por 32% do custo de produção dentro da porteira, enquanto no milho o percentual ficou em 14%.
“Com o aumento dos preços dos defensivos nos últimos anos, muitos produtores têm buscado substituir os produtos mais caros por similares mais baratos”, afirmou Almeida. Nesse sentido, os agricultores contam com o apoio do Ministério da Agricultura, que liberou um número recorde de defensivos no País em 2019, a maior parte genéricos.
O índice de preços do Rabobank mostra que, no caso dos herbicidas, que lideram as vendas, houve aumento médio de 52% de preços em real no Brasil nos últimos cinco anos, enquanto os fungicidas subiram 53% e os inseticidas, 38%. A inflação acumulada no período foi de 30,60%.
Olhando para o topo da lista dos produtos mais comercializados no país, segundo dados do Ibama, o movimento se repete. Entre os líderes de vendas em suas respectivas categorias estão o glifosato (herbicida), mancozebe (fungicida) e acefato (inseticida). O único com tendência de queda no custo em dólar por hectare em cinco anos é o glifosato, segundo levantamento da Kleffmann realizado a pedido do Valor.
O custo do tratamento com glifosato, que foi de US$ 33,58 por hectare em 2015, passou para US$ 20,38 por hectare em 2019, com queda de quase 40%. Em reais, com base no câmbio médio anual apurado pelo Valor Data, o recuo foi de R$ 28,5%, para R$ 112,11 por hectare.
“Embora com a entrada de genéricos no mercado a tendência seja de queda de preços dos defensivos, o custo por hectare gasto na safra, que é quanto o produtor desembolsa no fim das contas (e que vai depender do custo total do tratamento, da dose aplicada e da resistência de pragas e doenças), não reflete esse comportamento”, disse Leonardo Antolini, gerente de Atendimento da Kleffmann.
Segundo dados do Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (Agrofit) do Ministério da Agricultura, há no Brasil 117 registros de defensivos à base de glifosato, que é o herbicida mais usado no mundo, e 43 empresas concorrem na fabricação de formulações com o produto.
No caso do mancozebe, fungicida multissítio, ou seja, que ataca diversos pontos do metabolismo do fungo, a fim de evitar resistência, há 71 registros de produtos nas mãos de 22 companhias. Já para o inseticida acefato, que controla pragas como o ácaro rajado, broca do algodoeiro, pulgão da couve e lagarta da soja, existem 27 registros de 13 fabricantes.
Túlio Teixeira de Oliveira, diretor executivo da Associação Brasileira dos Defensivos Genéricos (Aenda), que representa 48 empresas, afirmou que a maior parte dos players do segmento de genéricos no Brasil é proveniente de outros países, sobretudo da China e da Índia, e que o foco está sempre nas margens de lucro.
“As empresas se voltam para aquilo que dá lucro. Há um investimento grande em fábricas e em tempo para conseguir novos registros”, disse Oliveira. Segundo ele, há cerca de 115 empresas com registro de defensivos genéricos no Brasil.
O executivo lembra que no início dos anos 2000 o número de genéricos aumentou muito no mercado, o que gerou queda de preços, e a expectativa dos produtores é que o mesmo aconteça neste ano.
Marcelo Morandi, chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, disse, porém, que embora o lançamento de produtos genéricos tenha a tendência de gerar uma redução de preços, há limites para a queda. “O preço já parte da referência do produto de marca e cai até certo ponto, porque há os custos de produção”.
Segundo Morandi, as quebras de patente do acefato e do mancozebe se deram há mais tempo que a do glifosato, e por isso o efeito gerado pelas versões genéricas do herbicida nas vendas totais ainda é maior. A patente do glifosato caiu no ano 2000 e, em 2004, houve o registro do primeiro genérico.
Valor Econômico