Brasil mantém força no mercado chinês

A despeito do acordo comercial assinado em janeiro com Pequim, nem mesmo o governo americano acredita que os chineses vão intensificar as compras de soja dos EUA nesta safra. E a culpa não é do Coronavírus.

Em relatório divulgado na semana passada, o USDA manteve suas estimativas para as importações totais da China em 103.7 milhões de toneladas de soja em 2019/20. A temporada comercial termina em agosto, mas reduziu as estimativas para as vendas americanas de 49.67 milhões para 48.31 milhões de toneladas.

Por ora, o Brasil segue como o principal fornecedor. O USDA estimou que os brasileiros exportarão 78,5 milhões de toneladas nesta safra, com aumento de 1,90% na comparação com as 77 milhões de toneladas estimadas no relatório do mês passado.

O número divulgado pelo USDA ficou até mesmo acima das estimativas da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que projetou, na última semana, exportações de 73.5 milhões de toneladas para o Brasil em 2020. A associação faz estimativas anuais, mas que acabam refletindo a colheita de uma safra.

Essa percepção de grande volume de vendas do Brasil reflete o fato de o País bater novo recorde de colheita de soja nesta temporada. O USDA estimou uma safra de 124.5 milhões de toneladas na quinta-feira, um corte de 1.5 milhão na comparação com os dados de março.

 

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que atualizou as estimativas de safra na última quinta-feira, foi um pouco mais pessimista e reduziu a projeção da safra brasileira de soja em dois milhões de toneladas, para 122.1 milhões de toneladas. Ainda assim, é um recorde.

“O maior desempenho já registrado da cultura acontece mesmo com os problemas climáticos que acometeram a região Sul, sobretudo no Rio Grande do Sul. Nas demais regiões, o clima favoreceu, aliado ao crescimento na área de 2,70% em relação à última temporada”, indicou a Conab, em relatório.

No cenário global, o USDA reduziu sua estimativa de produção de soja em 3.7 milhões de toneladas em 2019/20, para 338.08 milhões de toneladas. O consumo recuou na mesma proporção, com ajuste principalmente na demanda argentina.

Com essas mudanças nas estimativas, o cálculo do USDA para estoques finais de soja no mundo diminuiu 1,90%, de 102.4 milhões para 100.4 milhões de toneladas.

Segundo o gerente da consultoria de agronegócios do Itaú BBA, Guilherme Bellotti, a redução da estimativa do USDA para o estoque global de soja, reflexo da menor colheita esperada para Brasil e Argentina, foi “levemente altista” para os preços da oleaginosa.

Na quinta-feira, último pregão antes do feriado da Sexta-Feira Santa, o vencimento julho fechou em alta de 1,07% na Bolsa de Chicago, cotado a US$ 8,71 por bushel. No acumulado do ano, os preços recuaram 8,80%, segundo levantamento do Valor Data.

No mercado de milho, o cenário traçado pelo USDA é de menor demanda por causa do Coronavírus, o que indica uma folga maior nos estoques mundiais, mas o mesmo não deve ocorrer no Brasil. Segundo o USDA, a demanda mundial ficará em 1.13 bilhão de toneladas na safra 2019/20, com queda de cinco milhões de toneladas.

No Brasil, a percepção é que a produção de aves e suínos consumirá grande parte da colheita recorde, estimada quinta-feira pela Conab em 101.9 milhões de toneladas. O dólar apreciado também estimula as exportações brasileiras de milho.

A estimativa da companhia é que na safra 2019/20, o consumo doméstico de milho totalize 70.4 milhões de toneladas, com aumento de 7,90% em relação a temporada anterior. Ao final da safra 2019/20, os estoques de milho no País foram estimados em 9.3 milhões de toneladas, o menor volume desde 2015/16.

No início da atual safra, o País contava com 11.4 milhões de toneladas de milho em estoque. Mas a avaliação da estatal é que o menor consumo de combustíveis no Brasil, reflexo do Coronavírus, pode tornar o estoque menos apertado, caso as usinas de etanol de milho revendam o cereal já adquirido.

 

Valor Econômico

 

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