Brasil já produz o melhor trigo do mundo, mas precisa ampliar sua produção

Para o analista Luiz Carlos Pacheco, o que impede a expansão do plantio de bons trigos no Brasil é o acordo que o país tem no Mercosul. Foto: Divulgação

 

Comparável ao similar canadense, o “high protein” – considerado o melhor trigo do mundo – já está sendo produzido no Brasil. Porém, o país precisa ampliar a oferta do cereal.

“O volume ainda é muito pequeno, cerca de 30 mil toneladas produzidas na Bahia e mais 110 mil toneladas produzidas no Centro-Oeste. A luta de vários setores, inclusive a da Embrapa, é de aumentar a produção de trigo de alta proteína no Cerrado brasileiro”, afirma Luiz Carlos Pacheco, analista da consultoria Trigo & Farinhas.

Para que isso aconteça, segundo Pacheco, é preciso uma reforma estrutural. “Não depende apenas do agricultor, nem mesmo das cooperativas, mas de uma grande infraestrutura que vai desde alguma isenção de impostos para se equiparar aos países vizinhos, até o melhor escoamento da safra”.

De acordo com levantamento da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), o agricultor brasileiro paga 86% a mais de impostos nos insumos do que os seus vizinhos do Mercosul.

Na avaliação de Pacheco, o que impede a expansão do plantio de bons trigos no Brasil é o acordo que o país tem no Mercosul. “O trigo é usado como moeda de troca com a Argentina para a venda de linha branca, e nos EUA em troca da exportação de carne. Isso tira a vontade do governo brasileiro de ajudar o aumento da produção nacional de trigo que poderia ser autossuficiente”, destaca.

 

REALIDADE

Por outro lado, o analista acredita que, em longo prazo – em torno de dez anos – é possível que as exportações de trigo superem as importações. “Hoje a realidade é o contrário: o Brasil planta pouco menos da metade do que consome e depende de importações da Argentina, Paraguai e Uruguai, além dos EUA e Canadá, para complementar as suas necessidades”.

Condições de clima favoráveis, boas práticas e novas cultivares desenvolvidas para o Cerrado explicam o bom resultado da cultura do trigo na região, que registrou nesta safra o recorde de produtividade do país.
Foram 139,8 sacos por hectare (sacos/ha), ou 8.388 quilos por hectare (kg/ha) de grãos, enquanto a média nacional é de 46,66 sacos/ha ou 2.800 kg/ha.

O resultado foi alcançado pelo produtor Paulo Bonato, na fazenda Dom Bosco, em Cristalina (GO). O agricultor atingiu o recorde de produtividade ao plantar, em 101 hectares de sua fazenda, a cultivar da Embrapa BRS 254.

 

VOLUMES

Atualmente, o Brasil produz quase cinco milhões de toneladas de trigo e importa sete milhões, para um consumo interno de 11 milhões de toneladas.

A consultoria Trigo & Farinhas informa que, em 2016, o Brasil importou 6,87 milhões de toneladas e exportou 712 mil toneladas – basicamente de trigo forrageiro, produzido no Sul, para ração animal, destinado a países da Ásia.

Ainda de acordo com a consultoria, nos nove primeiros meses de 2017, Brasil importou da Argentina 3.869.360 toneladas de trigo (volume similar ao importado em todo o ano de 2016). A Argentina participa com 82,28% das importações totais de trigo para o Brasil.

Do Paraguai foram importadas 382.217 toneladas; Estados Unidos, 303.748 toneladas; Canadá, 117.811 toneladas; Uruguai, 28.000 toneladas, e outros países 1.518 toneladas, totalizando 4.702.658 toneladas.

 

OBSTÁCULOS

Entre os principais entraves para a produção e comercialização do trigo no Brasil, o analista Pacheco, da T&F, destaca o alto custo de produção, muito superior ao dos países vizinhos; a falta de incentivo por parte do governo – situação que, segundo Pacheco, “é agravada com insumos e fretes incidentes sobre a produção e com impostos sobre as vendas”; o alto custo do frete de cabotagem, a partir do Sul, para atender à demanda do Norte e Nordeste, e os acordos do Mercosul que, para Pacheco “freiam qualquer iniciativa do governo brasileiro em incentivar a produção do trigo brasileiro”.

 

Equipe SNA/Rio

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