O Brasil, maior produtor e exportador global de café, já pode importar grãos do Peru, em uma operação inédita muito aguardada pela indústria local, ansiosa para realizar “blends” que possam concorrer com o produto industrializado importado, disse nesta sexta-feira um representante da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
A liberação para importações de café em grão pelo Brasil foi dada após a publicação da Instrução Normativa número 6, que aprovou requisitos fitossanitários para compras do produto da variedade arábica produzido no Peru.
“Dessa forma, a importação do Peru está legalmente autorizada, sem nenhum obstáculo”, afirmou o diretor-executivo da Abic, Nathan Herszkowicz.
A instrução publicada em 30 de abril, sobre a Análise de Risco de Pragas (ARP), é a conclusão de um processo para autorização de compras do produto de um determinado país.
“No caso do café, o que sempre impediu a importação foi a inexistência da ARP aprovada. Sem a ARP aprovada, a importação não é autorizada”, explicou Herszkowicz.
Mas a publicação da instrução gerou protestos de representantes do setor produtivo no Brasil.
“O Conselho Nacional do Café (CNC) entende como inaceitável e inconcebível a autorização para se importar café arábica do Peru, justamente no período da entrada de safra do Brasil…”, disse o CNC que representa os produtores em nota nesta sexta-feira.
O CNC afirmou ainda que encaminhou nesta semana ofícios à ministra da Agricultura, Kátia Abreu, e à presidente da República, Dilma Rousseff, solicitando a imediata suspensão da aprovação de requisitos fitossanitários para importação de café produzido no Peru.
Até esta sexta-feira, o governo não havia se manifestado.
INDÚSTRIA VÊ OPORTUNIDADE
Segundo o diretor da Abic, já houve algumas iniciativas no passado para o Brasil importar café em grão de várias origens, mas elas acabaram não prosperando, ou porque a ARP não era aprovada ou porque a vigência da análise de risco foi cancelada.
“A importação de café em grão cru sempre foi motivo de discussão bastante ampla, entre setores que não desejam importação, basicamente setores ligados à cafeicultura, e uma parte da indústria…”, disse ele.
Segundo Herszkowicz, o Brasil importa café industrializado e moído de todas as origens, e inclusive o café em cápsula é isento de imposto de importação, afetando a indústria nacional, que tem produto similar.
“Sem acesso a matéria-prima de qualidade, a indústria brasileira não tem como competir com outras”, afirmou o diretor-executivo da Abic, acrescentando que a abertura para importar do Peru pode ser um primeiro passo.
De acordo com ele, a indústria tem interesse em importar para fazer “blends” diferenciados, que o consumidor brasileiro “aprove e goste”, mas ainda assim a maior parte da “mistura” comercializada seria constituída por cafés brasileiros.
Para o dirigente da Abic, é difícil dizer se o café do Peru tem uma qualidade que o do Brasil não tenha. Mas ele acrescentou que, para a indústria, não se trata somente dessa questão.
“O consumidor não consome apenas por qualidade, mas muitas vezes pelo marketing associado a cafés diferenciados, sem dúvida um café de uma origem estrangeira representa um marketing bom.”
Herszkowicz defendeu que outras eventuais liberações de importações de cafés de outras origens sejam feitas de forma a não prejudicar o cafeicultor brasileiro.
Fonte: Reuters