O Brasil exportou, para 117 países, 35.626 milhões de sacas de 60 kg de café no ano safra 2022/23, o que implica queda de 10,20% em relação as 39.691 milhões de sacas exportadas entre julho de 2021 e junho de 2022. A receita cambial totalizou US$ 8.135 bilhões no período atual, permanecendo praticamente estável em relação aos US$ 8.136 bilhões registrados no ciclo anterior. Os dados fazem parte do relatório estatístico do Conselho dos Exportadores de Café do País, o Cecafé.
Segundo a entidade, esse desempenho foi alcançado com a atualização dos números referentes a junho deste ano, quando os brasileiros exportaram 2.640 milhões de sacas (- 17,20% em relação a junho de 2022), que geraram uma receita de US$ 586.8 milhões (- 21,30%). Assim, no acumulado do 1º semestre de 2023, os embarques de café do País totalizaram 16.226 milhões de sacas e renderam US$ 3.547 bilhões, registrando quedas de 18,90% em volume e de 23,80% em receita.
Segundo o Presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, com a entrada da nova safra de café canéfora (conilon e robusta), cuja colheita inicia antes dos trabalhos de colheita do arábica, e os diferenciais mais competitivos no mercado, as exportações dessa variedade aumentaram em junho, sendo a única a registrar desempenho positivo no mês.
Por outro lado, ele indicou que a queda nos embarques de arábica evidencia o final da safra 2022/23 e o pouco volume disponível dos últimos dois ciclos, que foram impactados por adversidades climáticas. “As remessas dessa variedade para o exterior deverão melhorar com a entrada da nova safra, uma vez que a recuperação das lavouras foi acima da esperada e a colheita em curso, embora ainda abaixo do recorde de 2020, será superior às de 2021 e 2022”, disse.
Esta maior oferta de arábica, segundo Ferreira, já fez com que a indústria brasileira mudasse a composição de seus blends, de outrora 80% de conilon e 20% de arábica, para possíveis 55%-45% de conilon e 45%-55% de arábica. “Se considerarmos que o Brasil consome aproximadamente 21 milhões de sacas, estamos falando de uma possível redução de 6.3 milhões de sacas de conilon no consumo interno no período de um ano”, indicou.
O Presidente do Cecafé explica que essa mudança na composição dos blends das indústrias nacionais ocorre pelo “aumento contínuo da qualidade dos cafés canéforas brasileiros” e, principalmente, pelo fator mercado. “Quando o conilon estava entre R$ 750,00 e R$ 850,00 a saca, o arábica (bebida dura, 600 defeitos) para a indústria valia de R$ 1.000,00 a R$ 1.300,00. Hoje, esse arábica está em torno de R$ 700,00 a saca e o conilon a R$ 640,00”.
Segundo ele, a razão para a força atual do mercado internacional do robusta/conilon ocorre por conta da quebra na Indonésia e alguns problemas em fim de ciclo no Vietnã. “Todavia, não se estima muita perda na colheita vietnamita a ser colhida em novembro, cujos embarques se acentuam a partir do próximo janeiro”, estima.
Ferreira disse que caso as condições climáticas permaneçam favoráveis, a previsão é de uma possibilidade de safra substancial ao arábica no Brasil em 2024, assim como não se vislumbra queda acentuada nos cafés canéforas.
“Fato é que, estando o Brasil momentaneamente mais competitivo que Vietnã e com o arábica (bebida dura, 600 defeitos) praticamente igual ao conilon para as indústrias nacionais, o produtor de robusta e conilon deveria aproveitar os preços atuais para evitar a comercialização mais adiante, com possível pressão nas cotações, tendo em vista o que indica o mercado”, disse.
O Presidente do Cecafé também celebra a estabilidade registrada na receita cambial com as exportações brasileiras de café na recém-encerrada safra 2022/23. “O Brasil é o país que mais repassa o preço FOB da exportação, valor cotado no porto de origem, aos produtores. Nos últimos anos, esse percentual foi de 85% para o arábica e 93% para o conilon, fortalecendo o conceito de renda sustentável aos cafeicultores nacionais”, disse.
Principais Destinos
No ano safra 2022/23, os Estados Unidos foram os principais importadores dos cafés do Brasil, com a aquisição de 6.857 milhões de sacas, volume 13,80% inferior ao registrado no ciclo 2021/22. Esse volume equivale a 19,20% dos embarques totais brasileiros no período.
A Alemanha, respondeu por 14,50%, importando 5.165 milhões de sacas (- 20,30%) e ocupou o segundo lugar no ranking. Na sequência, vêm Itália, com a importação de 2.986 milhões de sacas (- 4,80%); Japão com 2.069 milhões de sacas (- 4,70%); e Bélgica com 1.828 milhão de sacas (- 42,60%).
Do sexto ao décimo lugares, contudo, o desempenho é positivo. A Colômbia importou 1.738 milhão de sacas, aumentando em 38,90% suas compras em relação as da temporada 2021/22, sendo seguida pela Turquia com 1.165 milhão de sacas (+ 18,60%); Holanda com 1.023 milhão de sacas (+ 54,80%); Argentina com 883.854 sacas (+ 14,80%) e Coreia do Sul com 870.446 sacas (+ 12,40%).
Por continentes, merece destaque a evolução de 6,10% registrada para a Ásia, puxada pelos desempenhos positivos da Coreia do Sul e China, que mais que compensaram o leve recuo japonês. “Os chineses importaram 604.269 sacas dos cafés do Brasil na safra 2022/23, o que representa um aumento de 89% em relação ao mesmo período anterior e classifica a nação como o 17º principal destino do produto”, indicou o Presidente do Cecafé.
Outro continente que se destacou positivamente foi a América do Sul, que aumentou as suas importações em 24,60%. “No caso sul-americano, o bom crescimento se deve às importações realizadas pela Colômbia e Argentina, que foram o sexto e o nono principais destinos dos embarques dos cafés do Brasil na temporada 2022/23”, disse Ferreira.
Portos
O Porto de Santos (SP) foi o principal exportador dos cafés do Brasil na temporada cafeeira 2022/23, com o embarque de 27.296 milhões de sacas, o que equivale a 76,60% do total. Na sequência, aparecem os Portos do Rio de Janeiro, que respondeu por 18,60% dos embarques ao enviarem 6.643 milhões de sacas, e Paranaguá (PR), com a exportação de 407.961 sacas e representatividade de 1,10%.
Tipos de Café
O café arábica foi o mais exportado entre julho de 2022 e o fim de junho deste ano, com volume de 30.337 milhões de sacas, o que corresponde a 85,20% do total. O volume do solúvel foi equivalente a 3.776 milhões de sacas embarcadas no período, com representatividade de 10,60%, seguido pela variedade canéfora (robusta + conilon), com 1,467 milhão de sacas (4,10%) e pelo produto torrado e torrado e moído, com 45.806 sacas (0,10%).
Cafés Diferenciados
Os cafés que possuem qualidade superior ou certificados de práticas sustentáveis responderam por 17% das exportações totais brasileiras no ano safra 2022/23, com o embarque de 6.050 milhões de sacas. Esse volume representa uma queda de 22,70% na comparação com o exportado na temporada 2021/22.
O preço médio desse produto foi de US$ 259,51 por saca, gerando uma receita cambial de US$ 1.570 bilhão de julho do ano passado ao fim de junho deste ano, o que corresponde a 19,30% do obtido com os embarques totais. No comparativo anual, o valor também é 22,70% menor do que o aferido no mesmo período anterior.
No ranking dos principais destinos dos cafés diferenciados no ano safra 2022/23, os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar, com a importação de 1.511 milhão de sacas, o equivalente a 25% do total desse tipo de produto exportado.
Fechando o top 5, vêm Alemanha, com 937.048 sacas e representatividade de 15,50%; Bélgica, com 682.858 sacas (11,30%); Itália, com 309.392 sacas (5,10%); e Japão, com 276.518 sacas (4,60%).