Brasil continuará a puxar vendas de defensivos

A despeito da desaceleração nos preços internacionais das commodities agrícolas e do arrefecimento da economia chinesa, as vendas de agroquímicos devem continuar crescendo, ainda que em ritmo mais moderado que o dos últimos anos prevê a Kleffmann.

O cenário traçado pela consultoria alemã, especializada no agronegócio, sugere que o segmento avançará globalmente 3% ao ano até 2019, metade do incremento observado entre 2010 e 2014. A exceção é o Brasil, que deverá registrar uma expansão anual da ordem de 6% nos próximos cinco anos.

“Há uma pressão sobre os preços das commodities e um impacto sobre os gastos dos produtores, mas eles ainda estão ganhando dinheiro, embora em todo o mundo eles digam que não estão”, disse ao Valor Bob Fairclough, que lidera a pesquisa mundial sobre defensivos feita pela Kleffmann.

No Brasil, o dólar valorizado ante o real tem ajudado a sustentar a rentabilidade em culturas importantes, como soja e milho, apesar de boa parte dos insumos terem seus preços dolarizados e os custos de produção no País estar em seu maior patamar histórico.

Segundo a Kleffmann, os agroquímicos movimentaram US$ 60.5 bilhões em 2014, sendo US$ 9.74 bilhões no Brasil, aquém dos US$ 12 bilhões apontados pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg).

Com uma extensa área de cultivo e clima tropical, favorável à ocorrência de pragas, o Brasil é o maior mercado global de defensivos. Para Fairclough, o país continuará na dianteira, sobretudo pela ampliação no cultivo da soja, mas outros fatores ajudam a sustentar os ganhos da indústria agroquímica no País, em especial certa “blindagem” no mercado de genéricos.

O analista divide o mercado em três categorias: as companhias do “top tier” (primeira fila), onde estão grandes multinacionais como as europeias Syngenta e Bayer, seguidas pelas do “second tier”, como a australiana Nufarm e a indiana UPL – que, na prática, trabalham com produtos que perderam a patente, mas buscam manter os preços elevados com inovações nas formulações.

 

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Já o terceiro nível é formado por empresas de genéricos que não têm a mesma “abordagem de negócio”, conforme Fairclough. “Elas têm plantas na China e na Índia e estão interessadas em volume e market share, com preços que em casos extremos equivalem a até 10% dos praticados pelos demais [players]”.

Apesar dos entraves burocráticos e regulatórios do Brasil, essas companhias estão começando a olhar mais para o Brasil e podem influenciar a configuração do setor nos próximos três a cinco anos, estimou o analista. “Isso pode não ser bom no longo prazo, porque elas tendem a oferecer ao agricultor um produto mais barato, o que talvez não se sustente nem ofereça a mesma qualidade”, disse.

Grande importador de produtos agrícolas, a China também despontou nos últimos anos como importante fornecedor de produtos técnicos (princípios ativos dos defensivos), em função de licenças baratas de fabricação. Entretanto, problemas ambientais derivados da ausência de um controle rígido na produção têm mudando o perfil da indústria local.

A China destacou Fairclough, está começando a deixar “muito mais difícil” a produção de agroquímicos, abrindo caminho para que a Índia (outro importante polo de produtos técnicos) abocanhe uma fatia adicional do mercado. “O fato é que a era das matérias-primas muito, muito baratas para os pesticidas acabou”.

A própria evolução tecnológica, puxada pelas novas demandas da agricultura, colabora para levar os preços dos defensivos um degrau acima, acrescentou Fairclough. Por anos, houve uma solução barata baseada na aplicação de glifosato, mas, a crescente resistência de ervas daninhas ao herbicida reuniu as múltis em torno de soluções alternativas – e naturalmente mais caras, como os ativos 2,4-D e dicamba. “Com isso, os herbicidas provavelmente vão crescer a um ritmo mais rápido que os outros produtos [inseticidas e fungicidas]”, previu.

Atualmente, os herbicidas são a locomotiva do setor, respondendo por mais da metade do comércio global de defensivos, ou cerca de US$ 30 bilhões, dos quais US$ 7 bilhões a US$ 8 bilhões vindos do glifosato calcula a Kleffmann.

Rearranjos também tendem a ganhar força entre as empresas, tanto na base quanto no topo, mesmo após as negociações entre Monsanto e Syngenta terem naufragado.

Fairclough lembra que há 15 anos houve uma intensa consolidação que resultou nas “big six”: Syngenta, Bayer CropScience, Basf, Dow AgroSciences, Monsanto e DuPont. Desde então, pouco aconteceu. “Mas há economias de escala, de custos com pesquisa e desenvolvimento, por isso é a hora para algo grande acontecer, com alguma dessas seis se unindo”.

A expectativa é que as transformações se estendam também ao mercado de sementes, operado por essas mesmas múltis. A recente decisão da Monsanto em encerrar o desenvolvimento de cultivares de cana no país, que fazia por meio da CanaVialis, exemplifica o movimento de racionalização, avaliou o analista da Kleffmann. “Dez anos atrás, era um jogo de ‘Monopoly’, comprava-se qualquer coisa no negócio de sementes. Mas isso mudou, com foco agora nas culturas certas, para as companhias certas”.

A consultoria estima que os avanços de dois dígitos também ficaram para trás e que as vendas de sementes crescerão no mesmo ritmo que as de defensivos – portanto entre 3% a 3,5% por ano até 2019, a partir dos US$ 45.11 bilhões do ano passado. Com US$ 3.93 bilhões desse total, o Brasil está a caminho de superar a China e ocupar a segunda posição nesse mercado, atrás dos EUA (onde estão os mais novos e caros eventos transgênicos). “O Brasil passará a China rapidamente, talvez em um ou dois anos”, projetou Fairclough.

 

Fonte: Valor Econômico

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