A Lavoura nº 700 apresenta: ‘Bonita e saborosa, BRS Núbia tem bom potencial’

Entre os principais atributos da BRS Núbia estão a diminuição do uso de mão de obra no cultivo e sua uniformidade de cor. Foto: Divulgação A Lavoura nº 700/2014

Uma uva preta de mesa com sementes, a BRS Núbia é uma cultivar desenvolvida por cientistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Entre seus principais atributos estão a diminuição do uso de mão de obra no cultivo e sua uniformidade de cor.

É o que destacou o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho João Dimas Garcia Maia, um dos coordenadores do Programa de Melhoramento Genético de Uva da Embrapa, em publicação da Revista A Lavoura nº 700/2014.

Em relação ao primeiro aspecto, ela tem como característica principal o fato de demandar menos mão de obra para manejo do cacho. Quanto à cor, sob condições de clima quente (subtropical, tropical úmido ou semiárido), para as quais é indicada, a nova cultivar expressa bem a coloração preta, apresentando uma uniformidade apreciada pelo consumidor.

EVOLUÇÃO

A BRS Núbia é uma importante evolução na produção nacional de uva preta de mesa com sementes. Até o momento, explica Dimas, a única cultivar desse tipo produzida em maior escala no país é a Brasil, uma mutação genética espontânea a partir da variedade Benitaka.

A Brasil, porém, apresenta pouca expressão de cor quando a maturação coincide com épocas de altas temperaturas. E, também, a produtividade não é muito elevada.

Nessas condições, sua coloração fica em um meio-termo entre o preto e o vermelho. Além disso, o cultivo dela exige grande mão de obra para manejo do cacho. Já a BRS Núbia resolve os aspectos deficitários da Brasil e vai além.

CICLO MAIS CURTO

A pesquisadora Patricia Ritschel, coordenadora do Programa de Melhoramento Genético de Uva também ressalta que o grande tamanho de baga da nova cultivar (outro item considerado importante pelo mercado), com média de 24 milímetros por 34 milímetros, é obtido sem a utilização de reguladores de crescimento, como as giberelinas. Ou seja, a opulência das bagas de BRS Núbia alinha-se à perspectiva de produção mais sustentável.

A nova cultivar destaca-se, ainda, pelos índices de substâncias benéficas à saúde (confira mais abaixo), pelo fato de apresentar ciclo mais curto do que a Brasil, o que resulta também em economia na aplicação de fungicidas, e pela boa aptidão para conservação pós-colheita.

A BRS Núbia foi testada em áreas de validação em Jales (noroeste paulista), Petrolina (PE, no Vale do Submédio São Francisco), Marialva (norte do Paraná) e Jaíba (norte de Minas Gerais), em propriedades de produtores e empresas parceiros.

Pelo bom desempenho observado, é recomendada para todas essas regiões. Ela é resultante do cruzamento entre as cultivares Michele Palieri e Arkansas 2095, realizado em 2000, em Bento Gonçalves (RS).

A BRS Núbia já despertou a atenção. O engenheiro agrônomo Nedson Aparecido Ignácio da Silva, assistente agropecuário da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) de Marinópolis (SP), gostou do que viu na
tarde de campo de apresentação da nova cultivar.

“Vejo grande potencial nela, que tem chance real de ‘emplacar’, vindo a substituir a Brasil”, diz Silva.

Isso, na avaliação dele, pela coloração “bastante atrativa” da BRS Núbia, enquanto “a Brasil gradualmente vem perdendo cor, característica que o mercado aprecia muito.

O “sabor excelente, muito marcante”, e as informações de que o ciclo de produção da variedade é menor, além de sua maior tolerância ao míldio (dado apontado pelo produtor Paulo Siney Higa, no sítio de quem foi feita a tarde de campo), são outros elementos destacados pelo agrônomo.

Silva afirma que os dois produtores de Marinópolis que acompanhou na apresentação, interessaram-se efetivamente pela nova cultivar, tendo adiantado-lhe que vão implantá-la.

O produtor Paulo Siney Higa, 70 anos, parceiro da Embrapa no processo de avaliação da BRS Núbia (cedeu área em sua propriedade, em Jales (SP), para testes de validação da variedade) vê nela uma possibilidade para manter-se na viticultura. Com o retorno de filhos e sobrinhos para o Japão, nos últimos anos, foi reduzida, mais do que pela metade, a disponibilidade de mão de obra no Sítio Irmãos Higa.

Lá trabalham Paulo, sua esposa Cecília, o irmão dele Luiz e sua mulher Maria, e o filho desse último casal, Luiz Jr. Por conta disso, os vinhedos, de uvas de mesa (BRS Linda, Benifuji e, hoje, BRS Núbia), passaram de seis para apenas um hectare.

“Como estamos envelhecendo, e nossa capacidade de trabalho diminuindo, enxergamos na BRS Núbia, que demanda menos mão de obra e tem custo de cultivo menor, uma alternativa para continuarmos com a produção de uva”, comemora Higa.

Ele salienta que a cultivar apresenta um aspecto visual bonito e bom sabor, o que aumenta as possibilidades de ganhar espaço no mercado. Uma maior tolerância às doenças do míldio e do oídio, em relação a outras uvas cultivadas no sítio – e, em uma safra mais seca, também uma ocorrência mínima de podridão dos cachos causada pelo fungo Botrytis – são outras características da BRS Núbia observadas pelo produtor desde a implantação dos vinhedos da variedade, há dois anos.

SANIDADE DO MATERIAL

A cultivar BRS Núbia foi testada para detecção de infecções virais. Nesse processo de indexação foram considerados alguns dos principais vírus que compõem as doenças do “enrolamento da folha” e do “complexo rugoso” da videira. Os testes diagnósticos foram baseados na técnica de hibridização molecular.

A metodologia é muito sensível e permite detectar o ácido nucleico viral em plantas infectadas, as quais são descartadas do processo de formação de material propagativo de sanidade superior. Assim, somente as plantas identificadas como sadias foram usadas como matrizes para obtenção do material propagativo da BRS Núbia.

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Fonte: Revista A Lavoura – Edição nº 700/2014

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