O pagamento por qualidade é uma ferramenta essencial para a evolução da qualidade do leite. Essa estratégia, que vem sendo realizada há algum tempo por algumas indústrias do país, voltada aos produtores de leite, ainda é novidade em Rondônia. Apesar disso, já está incentivando a melhoria da matéria prima na região.
Atendendo aos parâmetros de qualidade definidos pelo laticínio, para contagem bacteriana total (CBT), células somáticas (CCS) e teor de gordura, o produtor pode ganhar até oito centavos a mais por litro de leite. Trata-se de uma remuneração extra, que tem motivado a adoção de boas práticas no campo e tecnologias para o aumento da produção de leite, beneficiando tanto a indústria quanto o produtor e o setor lácteo como um todo.
A iniciativa em Rondônia é do Laticínio Joia, localizado no município de Ministro Andreazza, o único que realiza o pagamento por qualidade do leite no Estado. O incentivo recebido são centavos a mais que, ao final do ano, transformam-se em milhares de reais, fazendo a diferença na renda das famílias que dependem do leite para seu sustento.
“Só de bonificação, eu recebi cerca de cinco mil reais no ano passado, por ter um leite de mais qualidade”, conta o produtor Silvio Tenório, de Ministro Andreazza (RO).
PRODUTO MAIS SAUDÁVEL
Ele foi o primeiro produtor a receber oito centavos a mais por litro pela qualidade, atendendo os requisitos exigidos pelo laticínio para a bonificação. “Além do dinheiro a mais, tenho satisfação em oferecer um produto de qualidade, mais saudável”, complementa Silvio.
Para Ailton Pereira de Sena, produtor de leite da região de Espigão D’Oeste (RO), em seus 40 anos na atividade leiteira, é a primeira vez que recebe incentivo financeiro pela qualidade do leite que entrega na indústria.
“Eu luto por cada centavo a mais todo mês, o leite é a renda principal da minha família. A cada retorno da análise do laticínio eu fico de olho no que preciso melhorar. Fico mais atento aos problemas”, comenta.
Além da melhoria das boas práticas, ele foi além: conseguiu sair da ordenha manual para a mecânica, está melhorando a genética dos animais e já venceu alguns concursos leiteiros da região. “Fico motivado a fazer melhor, querer mais e satisfeito porque a gente vê que o laticínio está somando forças com a gente”, conclui.
QUANDO TUDO COMEÇOU
O Laticínio Joia deu início a este sistema de bonificação em julho de 2015, com o apoio de resultados de projeto de pesquisa realizado pela Embrapa Rondônia, apontando pontos críticos e estratégias para a melhoria da qualidade do leite em Rondônia. Os resultados já estão sendo colhidos.
O acompanhamento deste trabalho demonstrou a redução significativa da CBT dos tanques de resfriamento após a introdução do sistema de pagamento no laticínio. Este estudo mostrou que os tanques adequados ao limite de 100.000 UFC/mL, previsto pela Instrução Normativa 07 (IN07) para 2019, foi de 7,8% em 2015 para 62,7% em 2016, considerando os mesmos tanques e período do ano (chuvoso).
De acordo com o proprietário do laticínio Joia, Alessandro Rodrigues, o objetivo é de que os produtores se adequem à Instrução Normativa 07, atuando com foco na qualidade. “No futuro, quem não se adequar vai ser penalizado ou ficar de fora”, reforça.
VOLUME CAPTADO AUMENTA 60% EM DOIS ANOS
Nesses dois anos do sistema de bonificação, a empresa aumentou em 60% o volume de leite captado e saltou de 300 para 800 produtores associados, um aumento de 167%. Além disso, o número de funcionários foi de 20 para 60.
“Todo esse avanço requer ainda mais responsabilidade. Aumentamos o volume de leite e precisamos ter qualidade. Assim como temos mais produtores para atender e também funcionários que agora fazem parte do processo e esperam de nós a dedicação e o relacionamento humanizado que sempre tivemos”, destaca Alessandro Rodrigues.
Atualmente, o laticínio capta cerca 40 mil litros leite por dia em seis municípios de Rondônia e seu principal produto é a muçarela, que é vendida em quase sua totalidade para São Paulo.
Fonte: Embrapa Rondônia com edição da revista A Lavoura