Reflexões dos fatos e números do agro em abril/maio e o que acompanhar em junho
Na economia mundial e brasileira
Em mais uma atualização dos principais indicadores que impactam a economia nacional, o Boletim Focus do Banco Central publicado no dia 24 de maio constatou que: o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deve fechar o ano atual em 3,86% e em 3,75% no subsequente (ambos com alta mensal). Enquanto isso, o PIB (Produto Interno Bruto) pode encerrar 2024 com crescimento de 2,05% (queda mensal) e de 2,0% em 2025 (manutenção). A previsão para o câmbio é de R$ 5,05 ao final deste ano (alta mensal) e de R$ 5,05 no próximo (manutenção). A taxa Selic é projetada para fechar 2024 em 10,0% (alta mensal) e em 9,0% ao término de 2025 (manutenção).
No agro mundial e brasileiro
A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) divulgou o índice de preços dos alimentos em abril e este subiu ligeiramente pelo segundo mês seguido, ficando em 119,1 pontos, 0,3 pontos ou 0,3% em relação ao registrado em março. A valorização se atribui principalmente à carne, óleos vegetais e cereais. Apesar do crescimento, o valor foi 9,6 pontos ou 7,4% menor do que no mesmo período do ano passado.
As carnes (+1,6%) valorizaram: enquanto a carne de aves subiu devido a maior demanda do Médio Oriente decorrente de surtos de gripe aviária, a carne bovina aumentou pela maior demanda dos principais importadores. Em contrapartida, os preços da carne de porco retraíram, reflexo da baixa procura por parte, principalmente, da China e Europa. O ligeiro aumento dos óleos vegetais (+0,3%) se deve a valorização da colza e girassol. Já os cereais (+0,3%), aumentaram em função do milho por conta da preocupação logística diante de danos na infraestrutura ucraniana e retração da produção no Brasil.
Em seu 8º levantamento sobre a safra brasileira de grãos 2023/24, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) elevou ligeiramente sua estimativa de produção para 295,4 mi de t (ante 294,1 mi de t em abril). Se confirmada, a oferta será 7,6% inferior à do ciclo passado. Além disso, o relatório destaca a dificuldade de quantificar as perdas ocorridas no Rio Grande do Sul, devido às inundações, e não descarta a possibilidade de novas revisões a medida em que a situação for avaliada. Para a área, a Conab estima 79,1 mi de ha, sendo 0,7% acima do total plantado em 2022/23.
Milho
No relatório de maio/2024, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) lançou as primeiras estimativas para a safra 2024/25 de milho, estimada em 1,219 bilhão de t, praticamente o mesmo valor de 2023/24 e 5,4% superior a 2022/23. A estimativa para o novo ciclo é a seguinte: Estados Unidos devem produzir 377,5 mi de t (- 3,1%); China, 292,0 mi de t (+ 1,0%); Brasil, 117 mi de t (+ 4,0%); União Europeia, 64,8 mi de t (+ 6,2%); e Argentina 51,0 mi de t (- 3,8%). Do lado do comércio global, a expectativa é de queda nas transações: de 195,0 mi de t (2023/24) para 192,6 mi de t (2024/25). Brasil deve manter o volume embarcado de 51,0 mi de t, 26,5% de participação global. Os estoques finais do milho devem fechar 2024/25 em 312,3 mi de t, apenas 0,2% inferior.
Já a Conab, referente a safra 2023/24 no Brasil, estimou a produção de milho em 111,6 mi de t em maio (era 111,0 mi de t em abril), sendo 15,4% menor ou 20,3 mi de t a menos do que o ciclo passado. Do total previsto: 23,5 mi de t são de 1ª safra (-14,2%), 86,1 de 2ª safra (-15,8%) e 2,0 mi de t (-7,6%) de 3ª safra. Em área, a projeção aponta para 20,6 mi de ha plantados com milho na safra 2023/24 (contra 20,4 mi de ha na estimativa de abril), o que representa 1,6 mi de ha a menos ou 7,4% inferior ao que foi registrado na temporada anterior.
Nos campos pelo Brasil, a colheita do milho 1ª safra alcançou 78,4% de progresso até 26 de maio, contra 81,8% no mesmo período do ano passado. O estado de Goiás é o que apresenta um dos maiores atrasos, com 70,0% da área colhida, contra 92,6% no ciclo anterior. Já as lavouras de 2ª safra encontram-se: 6,8% em floração; 56,4% em enchimento de grãos; 35,4% em maturação e apenas 1,1% colhido.
Nos Estados Unidos, até o dia 19 de maio, 70% das áreas de milho haviam sido semeadas, contra 76% no mesmo período do ano passado e 71,0% na média dos últimos 5 ciclos. Apesar do atraso na comparação com o último ano, o plantio segue na média histórica, sem grandes preocupações até o momento.
Em Chicago, os preços do contrato de jul/24 de milho estavam negociados em US$ 4,679/bushel na data de fechamento da nossa coluna, 4,0% superior aos preços registrados há um mês.
Soja
A 1ª estimativa do USDA para 2024/25 chamou atenção. O órgão norte-americano estimou uma produção global de 422,3 milhões de t, simplesmente 25,3 mi de t adicionais ou 6,4% maior que o ciclo passado (2023/24) e 11,7% maior do que 2022/23; a situação da oferta já era de superávit e, agora, pode trazer mais impactos negativos aos preços.
Nos principais países, a estimativa de produção é a seguinte: Brasil com 169,0 mi de t (+ 9,7%); Estados Unidos, 121,1 mi de t (+ 6,8%); Argentina, 51,0 mi de t (+ 2,0%); e China, 20,7 mi de t (igual). As transações globais de soja devem saltar de 172,5 (2023/24) para 180,2 mi de t (2024/25), sendo que Brasil irá embarcar 105,0 mi de t (+ 3,0%) e os Estados Unidos, nosso principal concorrente, deve ficar com 49,7 mi de t (+ 7,3%). Do lado os estoques finais, a estimativa atual é de 128,5 mi de t, 14,9% superior ou 16,7 mi de t adicionais na comparação com 2023/24.
Enquanto isso, na safra 2023/24 no Brasil, a Conab apontou a produção de soja no Brasil em 147,7 mi de t em maio (era 146,5 em abril). O volume é 4,5% menor ou 6,9 mi de t do que o alcançado em 2022/23.
O relatório explica a queda ressaltando as perdas de produtividade e necessidade de replantios em algumas regiões do Centro-Oeste, Sudeste e Matopiba por conta de adversidades climáticas (baixos índices de chuva e altas temperaturas), bem como a colheita prejudicada no Rio Grande do Sul por conta das inundações ocorridas no estado, o qual estava com 75,0% da área colhida até o início deste mês (se essa condição não tivesse ocorrido, a produção estimada no levantamento seria superior a 148,4 mi de t).
Por fim, a área para a oleaginosa foi projetada em 45,7 mi de ha: 3,8% maior ou 1,6 mi de ha adicionais frente ao último ciclo.
A colheita de soja está praticamente concluída no país, com 98,1% das áreas contra 99,2% no mesmo período do ciclo passado. O único estado que ainda está com a situação um pouco mais crítica é o Rio Grande do Sul, que teve as operações adiadas por conta das fortes chuvas e inundações que acompanhamos; por lá, o progresso está em 90,0% contra 96,0% na mesma data de 2023.
EUA
Já nos Estados Unidos, 52,0% da soja da safra 2024/25 já havia sido plantada até 19 de maio, 9 pontos percentuais abaixo do registro na mesma data de 2023 (61,0%), mas ainda superior à média dos últimos 5 ciclos (49%). Diferente do milho, a soja merece uma atenção especial nesse momento.
O contrato da soja com entrega para jul/2024 estava negociado na Bolsa de Chicago em US$ 12,433/bushel no fechamento da nossa coluna, uma alta mensal de 5,6% que reflete a preocupação com a oferta de soja no curto prazo (menor reação quanto ao volume de 2024/25), por conta das incertezas no volume do Rio Grande do Sul, um dos principais estados produtores no Brasil.
Os cinco fatos do agro para acompanhar em junho são:
- Plantio da mega safra americana 2024/25. Pelo que acompanhamos, mesmo com relativo atraso na soja, o progresso segue na média dos últimos ciclos, o que traz mais segurança em relação a oferta. Esse próximo mês deve significar a conclusão das operações de plantio, fazendo-nos olhar mais, desde então, para o clima e as condições das lavouras. Acompanhamento semanal desse item!
- Seguir observando o andamento da 2ª safra de milho no Brasil. As condições são positivas e não há, até o momento, grandes indicações de riscos climáticos como os que tivemos em 2022/23, com geadas e secas prolongadas. Mas vale recordar a transição de El Niño para La Niña, que pode mudar a regra do jogo.
- Os impactos da situação do clima no Rio Grande do Sul e as estimativas de perdas de grãos, não apenas na colheita que ainda segue (em atraso na comparação com o Brasil), mas também das áreas de armazenagem que acabaram sendo impactadas pelas inundações.
- Na bovinocultura de corte, as exportações foram recordes nesse 1º trimestre, mas o volume elevado de abate tem impactado negativamente os preços. Essencial acompanharmos o desempenho exportador e de abate nesse próximo mês, esperando alguma reação na arroba, que segue em queda no preço mensal médio desde janeiro de 2024.
- Por fim, acompanhar as oscilações do câmbio que têm sido intensas. Nesse último mês, tivemos variações que foram de R$ 5,07 a R$ 5,20, uma grande diferença pensando nos momentos de compras de insumos (safra 2024/25) e venda da produção da soja verão (2023/24) ou do milho safrinha que começa a ser colhido nos próximos meses.