Impulsionada pela elevação da área semeada, a safra nacional 2018/19 de algodão em pluma deve atingir novamente recorde de produção. A estimativa foi feita pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
Esse crescimento, de acordo com os pesquisadores, está associado à maior rentabilidade do algodão frente às demais culturas concorrentes em áreas e ao ambiente favorável para contratos antecipados (a serem cumpridos em 2019 e também 2020).
Nessas condições, pelo segundo ano consecutivo, o Brasil continua como o quarto maior produtor do mundo e, ultrapassando a Índia, deve se tornar o segundo principal exportador, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
Segundo o levantamento, no período de tomada de decisão sobre a temporada 2018/19, o algodão era uma das poucas culturas com expectativa de manutenção de preços atrativos. Com isso, produtores tradicionais e também aqueles com disponibilidade de crédito e possibilidade de colheita e beneficiamento terceirizados aumentaram a área e/ou passaram a cultivar algodão.
Um fator que preocupa, contudo, é que a temporada 2017/18, colhida em 2018, já foi recorde, e os excedentes domésticos no ano passado chegaram a 1,6 milhão de toneladas.
“Considerando-se que a pluma da safra passada está em comercialização desde agosto/18 perdurando até julho/19, o excedente interno passa a ser de 1,3 milhão de toneladas. Volume que precisaria ser exportado para não gerar pressão sobre os preços domésticos”, afirma o estudo.
Segundo dados da Secex, os embarques de pluma foram intensos nos últimos cinco meses de 2018, somando 670,3 mil toneladas – em dezembro/18, o volume mensal foi recorde, de 214,6 mil toneladas. Caso esse bom ritmo se mantenha, os volumes totais a serem exportados até julho/19 podem atingir recordes ou superar o excedente doméstico (de 1,3 milhão de toneladas).
Próximos meses
Ainda para o primeiro semestre de 2019, indústrias com necessidades imediatas (como reposição de estoques) devem retomar as compras. No entanto, a disponibilidade da pluma de maior qualidade deve ser restrita, contexto que pode resultar em disputa entre mercados interno e exportação. O que pode elevar a disponibilidade interna, por outro lado, é a realocação de contratos flex para o mercado interno.
Mesmo com redução de 4,4% na produtividade (1.633 kg/ha), a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima que o aumento de 23,2% na área resulte em produção de 2,364 milhões de toneladas, 17,8% maior que a da temporada anterior.
A Conab aponta que o consumo doméstico poderá aumentar em 7,1% se comparado ao da safra 2017/18, passando para 750 mil toneladas em 2019, a maior em três safras. Assim, para 2018/19, a Companhia projeta oferta total de pluma (estoque inicial + produção + importação) de 2,99 milhões toneladas e demanda total (consumo interno + exportação) de 2,2 milhão de toneladas. Logo, o estoque final seria de 859,9 mil toneladas.
A pluma da colheita de 2019 estará disponível em maior intensidade a partir de agosto, atendendo ao mercado até julho/20. Para este período, o excedente interno seria de 1,6 milhão de toneladas, um novo recorde. Novamente, este volume precisa ser exportado.
O Brasil já tem bons volumes de negócios antecipados, tanto para a safra 2018/19 quanto para 2019/20. De acordo com dados da BBM tabulados pelo Cepea, ao menos 21,9% da safra brasileira 2018/19 teria sido comercializada até o dia 8 de janeiro. Deste total, 50,4% foram direcionados ao mercado interno, 22,2%, ao externo e 27,4%, para contratos flex (exportação com opção para mercado interno).
Segundo dados do Cepea, os contratos para exportação para embarques durante 2019 apresentam média de US$ 0,7901/lp, o mais elevado em quatro anos. Os contratos já realizados para 2020, captados pelo Cepea, estão com média de US$ 0,7733/lp, em linha, inclusive, com os negociados para entrega em 2018, que tiveram média de US$ 0,7777/lp.
Para o mercado interno, os contratos antecipados captados pelo Cepea estão na base de R$ 2,75/lp. Os negócios registrados para entrega durante 2018, por sua vez, tiveram média de R$ 2,67/lp. O maior interesse de agentes domésticos por contratos antecipados e a maior paridade de exportação no segundo semestre de 2018 sustentaram a elevação dos valores.
No mercado externo, dados divulgados pelo Icac (Comitê Internacional do Algodão) em janeiro/18 indicam redução no Cotlook A para a safra 2018/19 (agosto/18 a julho/19), indo para US$ 0,8645/lp, 1,8% menor que os US$ 0,88/lp na temporada 2017/18 e 2,9% inferior à previsão publicada em dezembro/18 (US$ 0,89/lp). Já na Bolsa de Nova York (ICE Futures), em dezembro/18, o contrato Mar/19 teve média de US$ 0,7741/lp; Maio/19, US$ 0,7857/lp; Jul/19, US$ 0,7946/lp; Out/19, US$ 0,7701/lp; e Dez/19, US$ 0,7640/lp.
Para 2019, o Brasil deve ser favorecido pela redução de oferta registrada ainda em 2018 nos principais países produtores. No agregado, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) esperava em dezembro/18 que a produção mundial 2018/19 fosse de 25,8 milhões de toneladas, retração de 4% frente à safra anterior.
Já o consumo poderá crescer 2%, indo para 27,3 milhões de toneladas, um recorde, liderado pela China. A menor produção e o maior consumo atrelados à baixa nos estoques chineses, devido aos leilões nestes últimos três anos, devem fazer com que o estoque mundial diminua 9% (15,9 milhões toneladas).