Bioeconomia: vanguarda no presente, inspiração para o futuro

Por Paulo Hartung*

A travessia deste presente pandêmico, eivado de perdas, dores e incertezas, impõe um olhar para o futuro em busca de alternativas que sustentem o ânimo dos dias e inspirem a direção rumo ao horizonte. Em parceria com Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ) lança esta semana seu relatório, uma verdadeira agenda de potencialidades da bioeconomia para dinamizar o agora e incrementar o porvir.

Neste tempo em que sinais vermelhos refreiam de modo inédito o curso da vida e também no qual se multiplicam as luzes amarelas de atenção, o setor de árvores cultivadas se coloca como uma via de notável capacidade para ampliar a fluidez da produção e do consumo responsáveis, seguindo no mesmo sentido dos melhores valores da contemporaneidade quanto ao desenvolvimento focado na vitalidade do planeta e no bem-estar de seus habitantes.

Nesse sentido, oferece um universo de produtos de base florestal ajustado às necessidades do nosso dia a dia, de pisos laminados, painéis e móveis de madeira a lenços, papel-toalha, papel higiênico, fraldas e álcool em gel, passando por embalagens diversas e equipamento de proteção individual (EPIs), como aventais e máscaras cirúrgicas.

Firme no presente, o setor dialoga fortemente com o futuro em várias frentes. Os investimentos, em expansão, são de R$ 35,5 bilhões até 2023, evidenciando confiança no crescimento da economia verde e na opção dos consumidores por bioprodutos, com rastreabilidade, originados em fontes renováveis, recicláveis, muitos deles biodegradáveis, e que absorvem e estocam dióxido de carbono (CO2).

A receita bruta do setor florestal brasileiro em 2019 chega a R$ 100 bilhões, contribuindo com US$ 10,3 bilhões para a balança comercial. Essa cadeia produtiva representa 1,2% do produto interno bruto (PIB) brasileiro, criando 1,3 milhão de postos de trabalho, que somam oportunidades para 3,75 milhões de brasileiros, em mais de mil municípios.

Atuando em áreas degradadas por outros usos, cultiva 9 milhões de hectares de árvores para fins industriais. Além disso, mantém 5,9 milhões de hectares de áreas de preservação permanente (APPs), reservas legais (RLs) e reservas particulares do patrimônio Natural (RPPNs), somando uma área maior que a do Estado do Rio de Janeiro.

O potencial de estoque das suas áreas tanto de cultivo quanto de conservação soma 4,48 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente. Só a área cultivada estoca 1,85 bilhão de toneladas de CO2 equivalente, montante superior ao das emissões do Brasil em um ano.

Essas empresas adotam voluntariamente programas de certificação reconhecidos internacionalmente, com destaque para Forest Stewardship Council (FSC), Programme for the Endorsement of Forest Certification (PEFC) e International Organization for Standardization (ISO).

O futuro também se fortalece com ciência e tecnologia. Em 2019, o valor aplicado em inovação aumentou para cerca de 2% de todos os investimentos do segmento. Da árvore plantada e sua madeira sustentável já se produzem a celulose especial e a celulose solúvel, de que se faz uma infinidade de itens, como armações de óculos de acetato e até cápsulas de remédios.

A indústria têxtil, no entanto, é a menina dos olhos. Desde 2015 a viscose feita de celulose solúvel saltou de 71,4 milhões de toneladas para 115,5 milhões, somando 7% do mercado global de têxteis. E há muito campo para crescer.

A celulose microfibrilada permite produzir fibras têxteis com diminuição do uso de água e químicos em até 90% se comparada ao poliéster, por exemplo. A lignina, molécula que compõe 25% do tronco da árvore cultivada, era um subproduto utilizado na geração de energia limpa.

A partir de pesquisa intensiva, apresenta-se como insumo para formar concreto (com redução do consumo de água e de cimento) e para compor fibras de carbono em partes da tela de celulares. Há ainda óleos, bio-óleos e nanocristais, que podem ser empregados nas cadeias alimentícia, automobilística, de cosméticos, medicamentos e tecnologia.

Seja com produtos já consolidados no cotidiano de bilhões de pessoas mundo afora, seja na vanguarda da inovação tecnológica, o setor florestal brasileiro, um dos que mais conservam áreas naturais no País, é referência mundial. O Brasil tem motivos para comemorar diferenciais trazidos por essa indústria, com 100% da celulose e do papel brasileiro provenientes de árvores cultivadas para fins industriais.

Num período de profundos debates sobre a economia de baixo carbono e em que o País precisa de caminhos sólidos para ter tração para sair em pé desta crise, esse setor, somado ao competitivo e sustentável agro brasileiro e outras indústrias ligadas à bioeconomia, tem potencial para ser parte do dínamo de um horizonte mais verde.

 

*Paulo Hartung é economista, presidente executivo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), membro do conselho  Todos pela Educação e foi governador do Estado do Espírito Santo (2003-2010 e 2015-2018).

 

Fonte: Estado de S. Paulo

 

 

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