Biodiversidade de microrganismos é maior em sistemas integrados

Estudos da Embrapa Agrossilvipastoril indicam que culturas em integração podem ser menos suscetíveis a doenças. Foto: Gabriel Faria/Divulgação Embrapa
Estudos da Embrapa Agrossilvipastoril indicam que culturas em integração podem ser menos suscetíveis a doenças. Foto: Gabriel Faria/Divulgação Embrapa

Estudo realizado pela Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT), mostrou que a quantidade de microrganismos com potencial de atuar como inimigos naturais de fungos causadores de doenças é maior em sistemas integrados de produção do que em áreas exclusivas de lavoura ou pecuária. Com isso, os dados indicam que culturas em integração podem ser menos suscetíveis a doenças causadas por agentes como Sclerotium rolfsii, Rizoctonia sp. e Fusarium.

As informações são resultado de avaliações feitas ao longo de dois anos em um experimento que reúne diferentes configurações de sistemas integrados (lavoura-pecuária, lavoura-floresta, pecuária-floresta e lavoura-pecuária-floresta), sistemas exclusivos com lavoura, pecuária e silvicultura e em uma área de referência composta por mata nativa em área de transição entre os biomas Cerrado e Amazônia.

“Fomos buscar na biodiversidade que está na mata e na ILPF microrganismos capazes de controlar os patógenos Fusarium, que podem afetar pastagem e milho, Rizoctonia, capazes de atacar algodão e eucalipto, e Sclerotium, que podem causar danos à soja”, comenta o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril e coordenador do estudo, Anderson Ferreira.

Esse trabalho de bioprospecção foi feito por meio de duas coletas de solo anuais, sendo uma no período chuvoso e outra na seca. Tomando como base as amostras, foram isolados em laboratório 1.440 fungos e 1.500 de bactérias. Em bioensaios, eles foram avaliados contra os três fitopatógenos para verificar possível ação antagônica ao agente causador de doença.

Entre os fungos, 11% dos isolados demonstraram controle de ao menos um dos três fitopatógenos e 1,2% dos três. Nas bactérias, 16% controlaram ao menos um dos fungos e 3% dos três.

Por meio da extração de DNA, foi feita a identificação dos microrganismos com ação de controle. Anderson Ferreira explica que cerca de 80% dos microrganismos encontrados são espécies já conhecidas como produtores de alguma substância anti-microbiana. Porém seu potencial de controle desses três patógenos ainda era desconhecido.

RESILIÊNCIA DA ILPF

Com as duas coletas anuais, foi possível avaliar as populações de microrganismos na seca e no período chuvoso. Os resultados mostraram que no período seco, a quantidade de fungos e bactérias antagônicos, ou seja, aqueles que controlam fungos fitopatogênicos, é maior nos sistemas integrados do que nas áreas com monocultura. No caso dos fungos, as áreas de sistemas integrados e de floresta tiveram maior contingente dessas populações do que na lavoura e na pecuária.

No período chuvoso, por sua vez, as áreas de culturas exclusivas apresentam grande aumento nas populações dos microrganismos antagonistas, enquanto os sistemas integrados permaneceram em equilíbrio.

“Os sistemas integrados mostram uma resiliência maior na manutenção desses inimigos naturais. Na nossa visão, trata-se de um sistema produtivo que favorece esses inimigos naturais, podendo torná-lo menos suscetível às doenças”, afirma Anderson Ferreira, que também contou com contribuição das alunas de pós-graduação Kellen do Carmo e Gilcele Berber e de estudantes de graduação

Pela pesquisa não é possível afirmar o motivo dessa maior população nos sistemas integrados, mas uma hipótese é atribuída ao microclima diferenciado na ILPF.

CONTINUIDADE DAS PESQUISAS

A coleta de amostras no experimento continuará a ser feita anualmente para acompanhar se há alteração na ocorrência das populações de microrganismos. Entretanto, outras pesquisas decorrentes dessa bioprospecção serão executadas.

Uma delas irá testar a inoculação dos microrganismos encontrados para avaliar a real eficiência deles no controle de doenças. Os testes se iniciarão em laboratório, passarão para as casas de vegetação e por fim irão a campo. Caso os pesquisadores obtenham sucesso, futuramente é possível que novos fungos e bactérias possam ser utilizados comercialmente no controle biológico de doenças.

“Muito do que se observa in vitro, quando vai a campo não se confirma. Temos cerca de 200 isolados positivos e quando formos para casa de vegetação vai cair para 15%. As condições do ambiente interferem muito”, explica o pesquisador.

Outra linha de pesquisa irá avaliar as moléculas produzidas por esses microrganismos antagônicos para verificar qual componente exerce o poder controlador. Se for encontrada uma molécula diferente das já conhecidas, por exemplo, abre-se a possibilidade de produção de novo produto para combate a doenças em plantas.

 

Fonte: Embrapa Agrossilvipastoril

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