Biocombustíveis e mercado de carbono são desafios para o País, afirmam especialistas

O mundo vive um momento de transição para uma economia de baixo carbono, diante de um cenário de mudanças climáticas, tensões geopolíticas e incertezas quanto ao preço do petróleo. Com isso, é cada vez maior a busca pela eficiência energética com a utilização de biocombustíveis e outras fontes de energia limpa para reduzir as emissões globais de CO2.

O Brasil tem 48% de sua matriz energética composta por fontes renováveis, com grande presença dos produtos da cana-de-açúcar, entre eles o etanol. Em 2029/30, a participação de renováveis deverá crescer para 50%. O País assumiu o compromisso internacional de reduzir em 37% as emissões dos gases de efeito estufa até 2025 e mantém a meta para a redução dos níveis de CO2 em 43% até 2030.

Os dados foram apresentados pelo ministro de Minas e Energia, Almirante Bento Albuquerque e pelo secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíves, José Mauro Coelho, durante videoconferência realizada nesta quinta-feira pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA). O debate foi coordenado pelo presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Evandro Gussi, e também contou com a presença do presidente da SNA, Antonio Alvarenga, entre outros.

RenovaBio

No setor de transportes, os biocombustíveis estão cada vez mais presentes, com um consumo que cresce 2,40% ao ano, segundo o Ministério de Minas e Energia. Já o percentual de participação de energias renováveis na matriz de transportes deverá atingir 30% em 2029/30, graças à Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio). “Isso é inédito no mundo. Não existe algo similar em nenhum país”, disse Coelho.

No âmbito do RenovaBio, a meta de redução dos gases do efeito estufa para este ano é de 14.53 milhões de CBIOs (créditos de descarbonização), e para 2021 será de 24.86 milhões de CBIOs (cada CBIO equivale a um milhão de toneladas de carbono retiradas da atmosfera).

“O crédito de descarbonização é um elemento novo e inovador, mas precisa beneficiar também o produtor de cana, e não apenas as usinas que produzem etanol e açúcar”, destacou o ex-ministro Roberto Rodrigues. “Sei que os representantes do setor já estão tratando do assunto, mas é fundamental que o governo aprofunde a discussão dessa questão para que haja uma isonomia na participação de resultados”.

O posicionamento do ex-ministro ganhou o apoio do ministro de Minas e Energia e do presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Bartolomeu Braz. “Essa política tem de chegar a todos os produtores. Eles precisam ser inseridos no RenovaBio, para terem um benefício, diante das obrigações ambientais que já cumprem”.

“O CBIO está sendo implementado desde 2019. Estamos criando todas as condições para que essa iniciativa seja lançada oficialmente em dezembro. Será um desafio”, indicou Albuquerque, que também defendeu a internacionalização do RenovaBio como referência para outros países.

Apesar das boas inciativas e programas implementados pelo governo em vários setores, o ministro indicou que “o País, mesmo com toda sua potencialidade, ainda não tem instrumentos para regular o mercado e garantir tranquilidade à economia e à sociedade”.

Contribuição

Durante o encontro, Roberto Rodrigues esclareceu que a produção de biocombustíveis no País não irá provocar uma redução na oferta de alimentos.

“Havia uma estimativa da área acadêmica de que com a produção de biocombustíveis, principalmente do etanol de cana, iria faltar alimentos no País. Depois ficou comprovado que o etanol no Brasil contribuiu para o aumento do volume de grãos e alimentos”, disse o ex-ministro.

“Isso porque a renovação anual de 15% a 20% da área de cana é feita com o plantio de oleaginosas, entre elas a soja e amendoim, que não eram cultivados nas pastagens. Portanto, os biocombustíveis e a agroenergia são muito importantes para a Economia Circular, gerando mais alimento para humanos e animais”.

Segundo Rodrigues, “soja e cana geram empregos diretos, bem-estar e riqueza, promovendo um crescimento econômico e social altamente diferenciado”, mas no caso da cultura da cana, complementou, “os resultados são poucos explorados no Brasil, frente a seu grande potencial para a obtenção de subprodutos”.

Produção sustentável

Outro assunto debatido durante a videoconferência foi a questão da sustentabilidade na produção de soja direcionada para o biodiesel.

“O biodiesel se tornou o principal vetor da industrialização da soja no Brasil, e tem grande contribuição na evolução de seu processamento”, disse André Nassar, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). No entanto, ele indicou que o recente aumento das exportações de soja gerou problemas de oferta no mercado interno.

Nesse sentido, disse ele, “do ponto de vista de sustentabilidade econômica para o processamento da oleaginosa, sem levar em consideração o programa de biodiesel, nós estaríamos exportando mais soja e deixaríamos de processar, este ano, 46 milhões de toneladas do grão”, afirmou Nassar, lembrando que o processamento beneficia também o setor de carnes, ao gerar farelo proteico para frangos e suínos.

Abertura de áreas

Com relação aos impactos no meio ambiente, o executivo mencionou um recente estudo que comprovou que a expansão da cana não afeta o processo de conversão da vegetação nativa. “Neste caso, ocorre uma substituição de atividades que acaba por aumentar a produtividade”.

Segundo o executivo, o mesmo exemplo vale para a soja, “que registra aumento de 1 milhão de hectares por ano”. Nassar enfatizou ainda que o processo de expansão se dá em regiões já consolidadas, e não em áreas novas.

“É complicado abrir áreas novas para biocombustíveis, porque isso não combina com as emissões de carbono. Não há risco que isso venha a ocorrer, porque somos uma indústria bem organizada. A soja destinada à produção de biodiesel vem de áreas abertas”, disse Nassar.

“Essa abertura de áreas é feita em regiões de pastagens degradadas”, ressaltou Bartolomeu Braz, da Aprosoja. “Isso é um benefício para as nascentes e aos rios, porque ali não haverá mais erosão, e o solo pode ser recuperado com plantio direto”.

Compromisso

Braz também falou sobre a importância da tecnologia e das pesquisas no processo de produção agrícola, e destacou que a produção anual de soja tem aumentado 7%  e a área plantada 3%. “Isso representa um compromisso muito grande com a sustentabilidade. Nosso produtor investe em tecnologia para aumentar a produtividade”.

Assista, acima, ao debate na íntegra.

 

 

Equipe SNA

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