Mesmo após o impacto causado pela operação Carne Fraca, deflagrada em março de 2017, o balanço do setor de proteína animal teve saldo positivo e deve fechar o ano com um resultado dentro das expectativas da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Segundo Francisco Turra, presidente da ABPA e membro da Academia Nacional de Agricultura da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), apesar do caos momentâneo, episódios como esse têm seu lado positivo no sentido de aprendizado e regularização da atividade.
“A situação nos trouxe muito sofrimento, mas, ainda assim, os números foram interessantes. Houve um decréscimo no volume das exportações, mas crescemos em receita. Isso mostra que o país não se entregou e acreditou no produto”, destacou Turra.
O Brasil responde por mais de 40% das exportações globais de frango e, de acordo com o executivo poderia ter exportado mais 200 mil toneladas de carne de frango e de suínos, não fosse o impacto da operação Carne Fraca. Ele lembrou que o episódio resultou em sanções de 77 mercados às carnes de aves e suínos no País, e apenas três deles permanecem fechados: Trinidad e Tobago, Santa Lúcia e Zimbábue. “Mas não chegam a ser mercados significativos para o Brasil”, avaliou Turra.
EXPECTATIVAS
Para 2018, a ABPA estima um aumento na produção de carne de frango entre 2% e 4% e incremento de 1% e 3% nas exportações. Já a produção de carne suína, deve ser ampliada em 2% a 3% e as exportações, em 4% a 5%. Quanto à produção de ovos, a previsão da entidade é de um incremento de 6%.
A carne de peru, um mercado específico com sazonalidade no Brasil e no mundo, deverá totalizar 109 mil toneladas em 2017, 21% abaixo do registrado no ano passado, e receita de U$ 276 milhões, decréscimo de 16,2%.
“Há um novo nicho no qual estamos nos destacando e temos uma projeção de grande crescimento em 2018”, diz Turra, referindo-se ao mercado de material genético. Esse segmento teve aumento de 26% na exportação, com 11,9 mil toneladas, e de 9,2% em receita, gerando US$ 110,2 milhões.
MERCADOS
De acordo com o vice-presidente de mercado da ABPA, Ricardo Santin, o principal mercado para a carne de frango brasileira, a Arábia Saudita, que responde por 13,8% do total exportado, comprou 20% menos neste ano. “A elevação de tarifas por parte do país e a cobrança de um imposto sobre a mão-de-obra foram fatores que levaram à menor demanda.”
Santin acredita que esse tenha sido o motivo mais relevante para a queda das exportações, mas é um caso pontual. “O Brasil deve recuperar pelo menos a metade deixou de exportar para lá por causa desses movimentos comerciais”, explicou. Para ele, o crescimento da produção saudita não deve afetar a demanda pelo produto brasileiro.
O mercado chinês reduziu também de forma significativa as importações entidade, com 19% a menos. De acordo com o executivo, essa queda está associada ao incentivo à produção de carne suína chinesa. “A carne suína é a preferida deles. Com a oferta interna maior, o preço caiu, o consumidor comprou mais e demandou menos frango”, observou Santin.
CONSEQUÊNCIAS
Os danos causados nos primeiros três meses após deflagrada a operação Carne Fraca e seus efeitos foram um grande desafio para o setor de proteína animal em 2017, e ainda serão nos próximos anos. “Reverter o dano à imagem foi custoso para o setor”, avaliou o diretor técnico da ABPA, Rui Vargas.
O executivo acrescentou que pelo menos 36 missões estrangeiras visitaram o Brasil para buscar esclarecimentos, inclusive países que importam há décadas a carne brasileira. “Tomando por base os resultados das exportações deste ano, acredito que a indústria tenha recuperado boa parte da credibilidade”, ponderou.
Para Vargas, os números apresentados demonstram que o entendimento entre o governo do Brasil e seus parceiros teve sucesso. “Nos mobilizamos também para olhar para dentro e saber como prevenir qualquer possibilidade de riscos. Prevenção é a palavra de ordem. Com isso poderemos apresentar números ainda mais satisfatórios.”
Por Equipe SNA/SP