A queda nos preços das commodities poderá afetar os produtores de maneira assimétrica, segundo Alexandre Figliolino, diretor comercial de açúcar e etanol do Itaú BBA. Os mais afetados, em sua opinião, serão aqueles “mais alavancados financeiramente, que assumiram grandes compromissos com aquisição de terras e desenvolvimento de novas áreas, bem como os que ainda não estão performando suas operações com elevados padrões de produtividade e baixo custo”.
Em sua opinião, a situação, hoje, aponta para pelo menos dois anos de vacas magras e margens bem apertadas, o que pode levar a um aumento da inadimplência num futuro próximo. “Preocupam muito situações como a vivida hoje pelos produtores de milho do Centro-Oeste, como também a dos de feijão e dos fornecedores de cana-de-açúcar, que enfrentam condições de mercado extremamente adversas”.
Para o diretor do Itaú BBA, “precisamos estar mais bem preparados para enfrentar períodos de vacas magras e, aí, a questão de competitividade em relação a nossos concorrentes, que têm evoluído também, é muito importante. Estamos indo bem da porteira pra dentro, com tecnologia, altos índices de produtividade, duas safras por ano, economia de escala, melhoramento paulatino e contínuo dos padrões de gestão e governança nas principais empresas. Mas, para fora, existe muito a se fazer”.
MOMENTO JÁ ERA ESPERADO
Ao analisar a situação do setor, de acordo com Figliolino, o momento que vivemos agora já era esperado. “A seca americana de 2012 até adiou o previsível e necessário freio de arrumação, mas ele agora chegou e temos que lidar com esta situação da melhor forma possível. Evidentemente que esta crise motivada por patamares de preços mais baixos, volto a afirmar, vai afetar os produtores de maneira assimétrica”, acentua.
No momento atual, diz, existem importantes setores do agronegócio brasileiro tendo que conviver com margens bem mais apertadas daquelas que vimos nos últimos anos. “Estamos falando dos grãos, soja e milho, do algodão e da cana de açúcar. A carne bovina vive um momento excepcional, fruto da situação de escassez de oferta no mercado mundial. Suínos e aves voltaram a ter um alento em função da menor pressão de custos, problemas sanitários em alguns importantes países produtores e embargo à Rússia por parte de Europa e Estados Unidos”, explica.
Para Figliolino “é muito frustrante, para todos nós brasileiros, estarmos atravessando uma fase marcada por inflação batendo no teto da meta ao redor de 6,5% e, ao mesmo tempo, ter números de crescimento do PIB pífios. Esta conjunção de indicadores negativos, segundo economistas, aponta para uma constatação de que o modelo de crescimento adotado nos últimos anos, muito focado no crescimento do consumo, esteja esgotado”.
Segundo ele, para que o Brasil possa retomar o caminho do crescimento sustentável, fortes ajustes e correção de rumos têm que ser feitos. “Assusta nossa economia estar com inflação alta, com importante grupo de preços tendo seu aumento represado, como é o caso da energia elétrica e dos combustíveis, o que dá uma idéia dos desafios que nos aguardam no ano que vem, qualquer que seja o vencedor das eleições presidenciais”, acrescenta.
Por equipe SNA/SP