Após uma disparada nos custos de produção, inflados pelo dólar valorizado, a nova safra 2016/17 de soja no Brasil tende a ser marcada por uma queda nos gastos com as lavouras, pelo menos em termos reais, levando em conta a inflação. Se as estimativas atuais se confirmarem, será a primeira vez em cinco anos que os custos de produção da oleaginosa recuam, empurrados não apenas pelo arrefecimento do câmbio, mas também pela queda nos preços dos fertilizantes.
Levantamento da consultoria Céleres indica que o custo operacional nominal para o plantio de um hectare de soja no País cairá 4,5% na nova safra, para R$ 2.247,00 por hectare. Em termos reais (deflacionado pelo IPCA de 8,86% dos últimos 12 meses, período que coincide com a véspera do plantio), a queda é ainda maior, de 12%, indicam cálculos do Valor Data. De acordo com a Céleres, os gastos com o plantio de soja vinham crescendo desde 2012/13.
“O custo tende a cair principalmente por conta de fatores externos. O preço dos fertilizantes caiu muito no mercado internacional, e isso acaba sendo transferido para o mercado interno”, disse Anderson Galvão, CEO da Céleres.
O preço médio da ureia agrícola (nitrogênio) em São Paulo recuou 16,8% no acumulado de 2016 até a primeira quinzena de agosto, para R$ 1.106,00 a tonelada (sem frete), enquanto o cloreto de potássio caiu 7,6%, para R$ 1.245,00 a tonelada, nas contas da Scot Consultoria. O supersimples (fosfato) ficou 0,6% mais barato, a R$ 905,00 a tonelada, mas outros fosfatados, como MAP e DAP, caíram mais: 16% e 15,2%, respectivamente.
Para os defensivos, a Céleres sinaliza que a tendência é de estabilidade a queda, enquanto as sementes devem ficar mais caras. Segundo Galvão, não só o clima adverso este ano reduziu a oferta de sementes, mas também a tecnologia tem evoluído, o que permite à indústria cobrar mais pelo insumo.
A Vanguarda Agro, uma das maiores produtoras de grãos e fibras do País, calcula um gasto 2% maior com sementes. A companhia já adquiriu todo o volume que precisa de fertilizantes e defensivos, e os preços em dólar ficaram 21% e 9,5% aquém da safra anterior, respectivamente. Com isso, o custo de produção ponderado para 2016/17 (levando em conta não apenas soja, mas também milho e algodão) está 11,8% abaixo da safra passada. “Há muito tempo [os custos] não caíam”, disse Arlindo Moura, CEO da Vanguarda, que atualmente está com sua área de cultivo concentrada em Mato Grosso.
Essa realidade, contudo, é diferente da média do Estado, conforme o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA). Para a entidade, os preços de sementes, defensivos e fertilizantes devem ter altas nominais de 11,7%, 7,8% e 3,8%, respectivamente. Assim, o custo total nominal da soja transgênica no Estado deve ficar em R$ 3.212,00 em 2016/17, 8,6% acima do ciclo passado, enquanto o custo operacional deve subir 6,7%, para R$ 2.811,00. Em termos reais, porém, a retração é de quase 2%.
Já a Embrapa Agropecuária Oeste destoa e prevê um custo total nominal 11% acima de 2015/16 em Mato Grosso do Sul, para R$ 2.886,00 por hectare, o que resultaria em alta de 2,2% em termos reais. Entre os fatores que podem explicar essa perspectiva de alta estão a compra muito antecipada dos insumos (o que pode ter impedido produtores de se beneficiarem da baixa do dólar mais recente) e os custos de frete mais elevados para o transporte de insumos à região.
O fato é que o real mais forte e o viés baixista das cotações internacionais, com a expectativa de oferta global abundante de soja, tendem a levar a uma receita também mais enxuta em 2016/17.
“Nos últimos 30 a 40 dias, a relação de troca [da soja por insumos] já piorou com a queda da soja. O real também se valorizou no período, mas os insumos já foram comprados há seis meses pela indústria, então essa transferência não é automática”, explica Galvão. A Céleres calcula que a margem operacional bruta da soja em 2016/17 ficará 5,5% abaixo de 2015/16, em R$ 1.108,00 por hectare, um nível ainda remunerador.
Fonte: Valor