Já a partir dos próximos dias, o consumidor deve perceber uma mudança nos rótulos das embalagens de frangos comercializados no país. Na terça-feira, 4 de fevereiro, o Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, autorizou agroindústrias avícolas fiscalizadas pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) a utilizar a mensagem “sem uso de hormônio, como estabelece a legislação brasileira” no produto. A autorização é comemorada, segundo o presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra, como “o ganho de mais uma via para o esclarecimento do público brasileiro com relação a este mito, que influencia de forma negativa o consumidor”.
“A possibilidade dada pelo Ministério da Agricultura de inserir a informação na embalagem é um ganho real, já que hoje, cada vez mais, o consumidor consulta o rótulo do produto antes da compra. Esta é uma luta antiga do setor”, afirma Turra. A adoção da medida, no entanto, é voluntária e facultativa.
A produção avícola industrial evoluiu com base na seleção natural das melhores linhagens genéticas, alimentação balanceada e saudável, e no foco das agroindústrias na sustentabilidade, enumera o presidente. Ele atribui essa evolução também a “ambiência que não cause estresse aos animais e total preocupação com o bem-estar, além do pleno cuidado sanitário, que permitiu ao país alcançar a liderança mundial nas exportações, sem nunca haver ocorrência de influenza sanitária em nosso território”.
De acordo com Turra, o uso de hormônios é inviável do ponto de vista técnico e a produção é totalmente monitorada pelo Ministério da Agricultura, através do Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC) .
“Uma ave é abatida, em média, aos 42 dias, e o hormônio só teria efeito a partir de 60 dias. No ano passado foram realizados três mil testes e nenhum indício de hormônio foi detectado”, informou.
As mesmas linhas de produção para o mercado interno, diz o presidente da Ubabef, são as que exportam. “Ou seja, a carne de frango consumida no Brasil tem o mesmo padrão da exportada para a Comunidade Europeia e o Japão. Estes mercados e diversos outros, em um universo de 150 países para os quais o Brasil exporta, também fazem análises qualitativas do que é exportado. Entre os itens avaliados está a presença de hormônios, que nunca foram encontrados.”
Desconfiança do consumidor
A dúvida sobre a presença de hormônios no frango chega também às salas de aula do professor titular da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), José Fernando Menten. “Alunos ouvem falar e acham que isso é verdade, mas não é”, garante.
O pesquisador explica que há um progresso de 50 gramas de ganho de peso por ano, em virtude do melhoramento genético feito no Brasil, processo semelhante praticado em bovinos e suínos.
“No frango de corte, que é um híbrido, são selecionadas várias linhagens e o objetivo é fazer a combinação dessas linhagens”, explica. “O resultado dessa soma é o frango comercial.”
A medida vem em boa hora, na opinião de Menten, porque o mito do hormônio põe em dúvida o próprio sistema de controle. “Toda granja tem profissional responsável, inspeção e análise. Estava na hora desse esclarecimento”, conclui o especialista.