O sinal verde do Conselho Monetário Nacional (CMN) para que cooperativas de crédito também possam captar poupança rural a partir de 1º de julho é considerado pelo governo federal como a medida que antecipa o “espírito” do próximo Plano Safra (2019/20). O programa está sendo negociado entre os ministérios da Economia e da Agricultura e irá deflagrar mudanças estruturais importantes. O aval foi confirmado pelo CMN na quinta-feira.
A equipe econômica entende que, ao abrir a possibilidade para que cooperativas como Credicitrus e Credicoamo usem cadernetas de poupança de produtores rurais como mais uma fonte para seus financiamentos, haverá mais injeção de crédito para a agricultura e a concorrência entre as instituições financeiras aumentará. Hoje, essas cooperativas só podem utilizar essas aplicações financeiras para o crédito agrícola em nome de bancos cooperativos.
Banco do Brasil, outros bancos públicos e privados e os bancos cooperativos (Sicoob e Sicredi) já operam com poupança rural. Com o aval do CMN, as cooperativas de crédito entrarão na disputa e, a partir da próxima temporada agrícola, já terão de direcionar 20% do que captarem de poupança para operações de crédito rural.
Esse percentual será ampliado progressivamente até alcançar 60%. Segundo estimativas do BC, a ideia é que, num primeiro momento, a medida libere R$ 1.1 bilhão adicionais ao crédito rural.
Uma fonte da equipe econômica explica que a liberação significa mais disputa pelos recursos equalizados pelo Tesouro, mas que as cooperativas também poderão usar esse “funding” de poupança rural para financiamentos a juros livres. Vale lembrar que a tendência é que o governo federal subsidie cada vez menos operações de crédito, sobretudo para grandes produtores. Já a disposição de apoiar médios e pequenos permanece.
“Era um pedido antigo nosso e será muito importante para movimentar recursos nas cooperativas de crédito que atuam no meio rural, onde a poupança é uma realidade”, disse ao Valor o presidente da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), Márcio Freitas.
Ademiro Vian, consultor financeiro e ex-diretor da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), analisa que a medida visa à desconcentração do sistema financeiro e será fundamental para destravar e aumentar a oferta de crédito rural no país. “A decisão do governo vem ao encontro do aumento da competição no mercado de crédito rural, e esse é só o começo”, afirmou Vian.
As cooperativas de crédito são as instituições que mais vêm crescendo proporcionalmente na liberação de crédito rural no país na atual safra (2018/19), que se encerrará em 30 de junho.
Nos primeiros nove meses deste ciclo (julho do ano passado a março últimos), os desembolsos das cooperativas ao campo aumentaram em relação ao mesmo período do ciclo anterior e superaram a marca de R$ 18 bilhões. No caso dos bancos públicos, houve incremento de 2,8%, e no dos privados, de 8,8%.
Valor Econômico