Artigo: ‘Para onde caminha a agricultura?’, por Fernando Lamas, pesquisador da Embrapa

 

Crescimento da produção agrícola no país está mais relacionada ao aumento da produtividade em campo e menos à elevação de áreas plantadas. Foto: Divulgação

* Fernando Mendes Lamas

As transformações que estão em curso nos mais diferentes setores, que interferem direta ou indiretamente sobre a vida na superfície da terra, também estão ocorrendo na agricultura brasileira. Graças a essas transformações, estão sendo colhidas mais de 230 milhões de toneladas de grãos, o que equivale a mais de uma tonelada por habitante. Além de grãos, o Brasil está entre os maiores produtores de fibra (algodão) e carnes (bovinos, suínos e aves) do mundo.

O aumento da produção tem sido muito mais em função do aumento da produtividade do que do aumento de uso de áreas. Aumento da produtividade é o resultado da incorporação de tecnologias aos sistemas de produção agropecuários.

De acordo com trabalho realizado pela Embrapa Soja, no período de 1996/97 a 2015/16 a produtividade de soja em Mato Grosso do Sul, apresentou uma taxa de crescimento anual de 1,31%, valor muito próximo da média brasileira que foi de 1,42%. Dados que no entanto são inferiores ao crescimento anual verificado nos estados do Tocantins (5,54%), Rio Grande do Sul (3,55%), porém superiores aos estados de Mato Grosso (1,31%) e Goiás (0,93%)..

A competitividade de qualquer atividade passa, invariavelmente, pelo aumento da produtividade dos fatores de produção. Na agricultura não é diferente, somente por meio do aumento da produtividade será assegurado à sustentabilidade da atividade.

O aumento sustentável da produtividade passa pela intensificação tecnológica, pela substituição das decisões intuitivas do passado por um empreendimento econômico, que exige decisões analíticas.

O conjunto das transformações, necessárias para assegurar a sustentabilidade da atividade agropecuária terá que considerar e incorporar novos produtos, automação e robótica.

Vários são os fatores que estão e continuarão a contribuir com o processo de transformação, com destaque para a mobilidade e a conectividade.

No mundo atual, as pessoas se movimentam intensamente com o objetivo de conhecer o que está acontecendo e de buscar novidades tecnológicas. Para isso, visitam feiras, exposições, participam de eventos diversos, tanto no Brasil quanto no exterior. O turismo de eventos possibilita que as pessoas tenham a oportunidade de conhecer, de se transformarem e, consequentemente, de inovar.

A conectividade é outro fator fenomenal, quando se pensa em transformações. As pessoas estão cada vez mais conectadas, independe de onde moram. A conectividade permite, dentre outras coisas, que as pessoas tomem conhecimento do que existe de mais moderno, em tempo real. Além do mais, permite que as pessoas tenham conhecimento pleno, por exemplo, da cotação da soja em um importante centro de comercialização localizado fora do Brasil.

 

A conectividade “permite que as pessoas tenham conhecimento pleno, por exemplo, da cotação da soja em um importante centro de comercialização localizado fora do Brasil”, diz Fernando Lamas, pesquisador da Embrapa. Foto: Divulgação

A grande mobilidade e a conectividade permite também a ampliação da capacidade de antecipar e planejar, mais que simplesmente reagir. Essa capacidade é altamente estratégica no mundo atual.

Novas terminologias passam a ser incorporadas ao linguajar daqueles envolvidos com a agricultura: janela de plantio; mapa de colheita; aplicação com taxa diferenciada; agricultura digital; adubação de sistema; caixa produtiva, dentre outras tantas. Além de falar, o produtor rural moderno deve estar buscando compreender as novas terminologias, identificando qual o real significado de cada uma dessas palavras e o seu efeito sobre a produtividade.

Temos a certeza de que estamos vivendo em um tempo que podemos considerar de ampla transformação e é preciso que todos estejam preparados para essa nova realidade.

Fala-se na substituição do agricultor pelo agroadministrador, como se dará isso? A mudança do perfil do produtor rural brasileiro é algo que não tem volta. Isto também está contribuindo para as transformações, ora sendo causa, ora sendo efeito.

Todas essas transformações da agricultura passam em grande parte pela profissionalização da gestão. Com isso, se consolida uma nova geração de agricultores ou “agroadministradores”, altamente capacitados e com muita disposição para mostrar a que vieram. Aquele produtor que vivia isolado, que se informava somente quando vinha na cidade fazer compras, esqueça.

Muitos dizem que estamos caminhando para uma grande agricultura com cada vez menos pessoas envolvidas com o processo produtivo e, consequentemente, menos gente no campo.

Para fazer frente às transformações em andamento e aquelas que virão todos nós precisamos de forma proativa, nos anteciparmos às mudanças para evitar que tenhamos que apenas reagir a estas, pois são inevitáveis.

Em resumo: como produzir da forma mais inteligente, mais barata e com menor risco? Como não se afogar em um mar de informações desconexas?

Quem responde a esses questionamentos é a mineração dos dados. Esta é mais uma palavra incorporada à moderna agricultura, que é extremamente importante no mundo atual.

 

* Fernando Mendes Lamas é engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia (Produção Vegetal – Manejo do Algodoeiro), doutor em Agronomia (Produção Vegetal – Reguladores de Crescimento)
e pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste. 

 

Fonte: Embrapa Agropecuária Oeste (MS)

 

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