Por Carlos Thadeu*
O resultado do PIB do 2º trimestre mostrou que a combinação da normalização dos serviços mais afetados pela pandemia com a melhora do mercado de trabalho, e as medidas do governo para incrementar a renda das famílias estão impulsionando a economia. O crescimento de 1,2% ante o 1º trimestre surpreendeu o mercado, e levou o PIB a patamar cerca de 3% acima do nível de antes da pandemia.
O Brasil saiu muito bem na foto do ranking do PIB das principais economias do mundo, mesmo com a inflação doméstica acima da média da do mundo desenvolvido, e de outros países em desenvolvimento.
O mercado passou a rever para cima as projeções para o crescimento econômico este ano. As novas estimativas do Bank of America e do Goldman Sachs estão entre as mais emblemáticas: aumentaram de 2,5% para 3,25%, e de 2,2% para 2,9%, respectivamente.
Esses números não surpreendem. Neste espaço vínhamos comentando há alguns meses que o PIB cresceria pelo menos 2% este ano, principalmente pelo efeito da retomada do grande setor de serviços. A alta do setor foi de 1,3%, enquanto a indústria cresceu surpreendentes e auspiciosos 2,2%.
Mas os números divulgados pelo IBGE mostram que o crescimento é generalizado: os investimentos, medidos pelo indicador de FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), aumentaram 4,8%.
Consumo e trabalho
O consumo das famílias subiu 2,6%, novo nível recorde desde 1996. A geração consistente de vagas formais de trabalho e a injeção de R$ 90 bilhões pelos saques extraordinários do FGTS e antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS são fatores que explicam o desempenho favorável do consumo das famílias.
A taxa de desocupação em 9,1% no trimestre móvel de maio a julho de 2022, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é 1,4 ponto porcentual menor do que a observada no trimestre de fevereiro a abril, o que mostra a intensidade da queda. É também 4,6 pontos menor do que a de um ano antes, e 5,8 pontos inferior ao pico de 14,9% registrado no 1º trimestre do ano passado.
A inflação, que até 2 meses atrás comprimia cada vez mais os orçamentos das famílias, está cedendo.
Agronegócio
A agricultura cresceu menos, sofrendo os impactos diretos e indiretos da crise no leste europeu. Com grande participação nas exportações, o setor fica mais dependente da demanda externa de commodities, em especial do mundo desenvolvido, que vem enfrentando dificuldades para crescer com o acirramento da inflação e da crise na oferta de energia.
A corrente de comércio do Brasil, incluindo exportações e importações, chegou a 39% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2021. É o maior percentual da série histórica do Banco Mundial iniciada em 1960.
Os dados da Secretaria de Comércio Exterior mostram que em valor, o volume de comércio bateu recorde no 1º semestre deste ano, US$ 349 bilhões. Mas em valores há influência expressiva dos preços: a alta dos índices de preços está inflando tanto exportações quanto importações.
Com a retomada da demanda doméstica pelo reaquecimento da economia, as compras do exterior avançaram mais do que as exportações, resultando na contribuição negativa do comércio exterior.
O retrato e o filme do desempenho da economia brasileira este ano se confirmam promissores, confirmando nossas expectativas, e fazendo os pessimistas reconhecerem seus equívocos.
*Carlos Thadeu é assessor externo da área de economia da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).