Por Roberto Rodrigues*
Tema de matérias nas mídias do mundo inteiro, o fantasma da falta de alimentos vem ganhando proporções cada vez maiores.
Estamos na iminência de conhecer o Plano de Safra 2022/23, que estabelece as condições e regras pelas quais os setores público e privado se organizarão para o plantio da safra de verão que começa no segundo semestre deste ano e se estende até a safra de inverno semeada no primeiro semestre do próximo.
O ministro Marcos Montes está lutando para garantir o suprimento de insumos para os agricultores usarem a melhor tecnologia e orientou sua competente equipe técnica a buscar recursos adequados para o custeio da safra.
No entanto, dois fatores perturbam este cenário: por um lado, os insumos encareceram muito nos últimos meses, em função da pandemia e do conflito na Ucrânia, o que aumenta a demanda por dinheiro; por outro lado, o orçamento nacional está apertado pelo baixo crescimento da economia neste ano. Isso não gera grandes expectativas de suficiente crédito.
Mas é frente a desafios dessa magnitude que a nação precisa tomar decisões grandiosas. O Brasil é um dos pouquíssimos países que pode aumentar sua produção agrícola de um ano para o outro. E o mundo espera uma resposta brasileira ao tema da segurança alimentar, com sustentabilidade e qualidade.
Temos que dar essa resposta. Precisamos de um Plano de Safra absolutamente excepcional, fora dos padrões e regras convencionais, com os olhos postos no combate a fome global com todas as armas de que dispomos ou tivermos que buscar.
É preciso crédito abundante, concedido tempestivamente pelo sistema financeiro. O seguro rural tem que receber orçamento ampliado para consolidar a confiança que cresceu este ano com a seca no Sul: o seguro funcionou, especialmente com atuação das cooperativas agropecuárias, salvando milhares de produtores e seus funcionários da bancarrota.
Isso não é uma campanha somente do Ministério da Agricultura. É do governo todo. O crédito é só um pedaço. Vamos fechar contratos de fornecimento a mercados diversos. Cuidar imediatamente de melhorar logística e infraestrutura para escoamento das safras. São investimentos que geram empregos na veia.
Sempre se diz que “em tempo de guerra não se deve esperar notícia boa”. Vamos desmentir isso. Vamos montar uma operação de guerra para produzir a nossa maior safra de alimentos de todos os tempos e abastecer populações de todos os quadrantes. Isso mudará a imagem brasileira tão injustamente denegrida lá fora. E ainda ajudará a Paz, que a fome destrói.
* Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, foi ministro da Agricultura e escreve neste espaço todo segundo domingo do mês.
Fonte: Estadão