Artigo – Custos altos e clima desfavorável: desafios de cafeicultores e citricultores

Por Renato Garcia Ribeiro*

O cenário econômico destes últimos anos tem trazido grandes desafios para fazenda e atrapalhado – e muito – a condução econômica da propriedade rural. Para atividades como a cafeicultura e a citricultura, que exigem investimentos para formação da lavoura de pelo menos dois anos e também um uso intensivo de mão de obra, variáveis como clima e preço de insumos, em especial o de fertilizantes, têm sido os maiores desafios.

A produção citrícola brasileira está entre o Estado de São Paulo e o Triângulo Mineiro e a de café arábica, além destas já citadas para a citricultura, em áreas do Sul, Cerrado e das Matas de Minas Gerais, no Norte do Paraná, em parte da Bahia e no sul do Espírito Santo, regiões que o clima seco de meados de 2020 até recentemente prejudicou com certa intensidade as produções destas lavouras.

A menor produção, por sua vez, traz problemas ao fluxo de caixa destas fazendas. Mesmo com as altas nos preços da laranja e do café neste ano, esse aumento pode não compensar a queda na produtividade, gerando endividamento, isso sem contar o custo de replantio e de reforma dos talhões. Claro, citricultores e cafeicultores de regiões menos impactadas pela seca podem conseguir se aproveitar das maiores cotações e remunerar melhor seus investimentos.

No caso da cafeicultura, as geadas registradas no inverno de 2021 foram um agravante. Importantes áreas que teriam em 2022 uma colheita de safra alta registraram grandes prejuízos, tendo em vista as condições debilitadas das plantas após as geadas.

Dependência

Este panorama produtivo complexo se dá em um conturbado cenário econômico mundial, de dificuldades logísticas e de fornecimento de matérias-primas e de demanda aquecida por commodities e insumos agrícolas, que, dentre outros fatores, resultaram em elevações intensas nas cotações externas e internas de fertilizantes (o maior desembolso destas culturas com insumos).

A condução dessas culturas para a produção tem uma grande dependência de fertilizantes à base de nitrogênio e de potássio. Essas matérias-primas ganharam destaque no mercado internacional recente, já que a oferta de produtos derivados de petróleo, necessários para a produção dos nitrogenados, em especial o gás natural, ficou escassa, devido à menor produção e à aquecida demanda.

Além disso, a Rússia, um dos maiores fornecedores de fertilizantes nitrogenados ao Brasil, anunciou no início de novembro que vai restringir as exportações do insumo de dezembro de 2021 a maio do próximo ano. Pelo lado dos potássicos, embargos impostos à Bielorrússia, um dos principais fornecedores desses fertilizantes do mundo, têm limitado ainda mais a oferta mundial e, consequentemente, impulsionado as cotações.

Valorização

Em outubro de 2021, a ureia foi negociada a valores próximos de US$ 700/tonelada em importantes portos mundiais, bem acima do registrado no mesmo mês de 2020, de US$ 200/t. No caso do cloreto de potássio, outra importante fonte potássica utilizada na agricultura, a média de outubro esteve acima de US$ 600/t, aproximadamente 1,6 vez maior que no mesmo mês do ano passado.

No mercado paulista, o adubo formulado 20-00-20 – que apresenta média real de R$ 2.150/tonelada nos últimos 10 anos –fechou próximo de R$ 4.000,00/tonelada em outubro de 2021.

Diante da forte valorização dos fertilizantes, o poder de compra de cafeicultores e de citricultores paulistas frente a esses insumos já é pior quando comparado à média dos últimos 10 anos.

Levantamento do Cepea mostra que, em outubro de 2021, cafeicultores precisaram de 3,25 sacas de 60 quilos de arábica para a compra de uma tonelada do adubo 20-00-20, contra 2,8 sacas na média dos últimos 10 anos. No caso do citricultor, em outubro, foram necessárias 138 caixas de 40,8 kg de laranja para a aquisição de uma tonelada do adubo, contra 90 caixas na média dos últimos 10 anos.

Agora, produtores estão preocupados com as incertezas para os próximos meses. Mesmo com a volta das chuvas a região Centro-Sul do Brasil, as lavouras de ambas culturas estão ainda em recuperação e, em muitos casos, as fazendas estão com o fluxo de caixa já fragilizado, devido à menor produção. Além disso, agentes temem a falta de alguns importantes insumos.

 

*Renato Garcia Ribeiro é pesquisador do Cepea.

 

Fonte: Cepea

Equipe SNA

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