Artigo: ‘A França pode viver sem a soja brasileira?’, por Evaristo de Miranda

Por Evaristo de Miranda*

Fiz meus estudos de agronomia na França, mestrado e doutorado. Conheço razoavelmente e in loco sua agropecuária. Já visitei plantios de soja na França e na Europa (vale do Danúbio e Croácia, principalmente). Três esclarecimentos são pertinentes sobre a provocação do presidente Macron sobre a soja e a Amazônia.

1 – Hoje cerca de 10% da soja brasileira é produzida nas lindes do bioma Amazônia. Como já disse, a Abiove, toda ela está desvinculada do processo de desmatamento desde 2008.

2 – Em números redondos, a União Europeia importa cerca de 13 milhões de toneladas de soja por ano, dos quais uns 5 milhões vão para França. Desse total, cerca de 87% destina-se à alimentação de animais: aves e ovos (50%), suínos (24%), vacas leiteiras (16%), bezerros (6%) e peixes, sobretudo salmão (4%). Mais de 90% da soja importada dos EUA, Brasil e Argentina é OGM. A França consome cerca de 160 kg de soja por segundo.

3 – A produção atual de soja da França é cerca de 200.000 t/ano, 5% de sua demanda. Plantada sobretudo na região Sudoeste, cerca de ¾ dessa soja é irrigada e custa caro. O aumento do preço dos adubos nitrogenados levou muitos produtores a trocarem o milho irrigado pela soja. A produtividade fora das áreas irrigadas é baixa. No total, são cerca de 40.000 hectares. Seria necessário plantar mais uns 2 milhões de hectares de soja na França para a autossuficiência. Quem cederá 2 milhões de hectares para a soja? Os cereais, a beterraba ou a fruticultura? Affaire à suivre, sem muita preocupação ou urgência.

 

*Evaristo de Miranda é pesquisador e chefe-geral da Embrapa Territorial.

 

 

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