Arroz: preços caem com indústrias fora do mercado

Por Cleiton Evandro dos Santos/AgroDados

Se há uma rotina no mercado de arroz na última década é a dos preços recuarem. E dessa vez, mesmo com a confirmação de uma quebra superior a um milhão de toneladas na safra do Rio Grande do Sul, estoques em queda e uma relação de oferta e demanda muito ajustada nos números dos organismos oficiais não está sendo diferente.

Junho entra na última semana – e no inverno – acumulando retração de 1,60% nos preços da saca de arroz em casca de 50 quilos (58 x 10) ao produtor gaúcho, cotada a R$ 43,63 na última sexta-feira, dia 21 de junho, segundo o indicador de preços Esalq/Senar-RS. É o menor preço praticado em um mês. Em dólar, equivale a US$ 11,40.

O analista da consultoria AgroDados/Planeta Arroz, Cleiton Evandro dos Santos, destaca que o melhor preço de junho foi R$ 44,65, ou R$ 1,02 acima do atualmente praticado. “A retração chega a 2,3% no acumulado entre o teto e o piso das cotações em junho”, disse.

Segundo ele, alguns fatores pesaram nesse recuo, como dois “feriadões”, um pequeno aumento nas importações de arroz paraguaio em maio para São Paulo e Minas Gerais, que queira ou não são balizadores de preços no Brasil central, os números negativos da economia e a falta de uma perspectiva real de solução para o endividamento dos produtores.

“Mas, o fator primordial dessa queda de preços é que boa parte das indústrias estão abastecidas pelo produto que receberam em pagamento do custeio direto, via CPRs, e agora têm o tempo a seu favor, pois sabem que a partir de julho o arrozeiro precisa fazer caixa para quitar parcelas de custeio e de renegociações de dívidas, além de comprar insumos para o plantio da próxima safra que já começa em 90 a 100 dias em algumas regiões”, disse Santos.

Segundo ele, a indústria está “comprada” até setembro, pelo menos. E conta com a oferta de julho a outubro pra se abastecer até o final do ano. “A exceção são as indústrias de menor porte, que têm o giro comercial mais curto e menor volume de capital, e precisam recorrer aos fornecedores em intervalos mais curtos”.

Santos afirmou que na Fronteira Oeste e na Região Central há informações consolidadas de produtores que venderam arroz com 60% de grãos inteiros a R$ 44,00 em abril e maio, agora vendendo a R$ 40,00 o produto do mesmo silo por necessidade de fazer caixa.

“Não é uma regra generalizada, mas um recorte preocupante do que está ocorrendo em duas regiões de alta produção. O momento do mercado é do produtor pressionado, e na medida em que o tempo passa em direção à época de plantio, a pressão aumentará também para quem ainda tem arroz em casa, mas capital limitado”, disse o analista.

Ainda segundo o diretor da AgroDados, o comportamento da comercialização trouxe angústia aos agricultores. “O que se viu nesse mês foram muitos desabafos, pois também se esperava uma solução mais efetiva para os endividamentos envolvendo o Plano Safra”.

“Houve evoluções importantes no anúncio, com relação ao crédito, ao seguro agrícola, mas precisamos ver se os recursos anunciados serão executados e chegarão às lavouras, pois há um abismo histórico entre o que é anunciado e o que alcança a mão do agricultor”.

Para o analista, a temporada trouxe outro fator que exige maior planejamento na estratégia comercial de arrozeiros que estão optando pelo cultivo de soja em várzeas como alternativa.

“Vimos muita gente, nesta temporada, vendendo a soja praticamente direto da colheitadeira, graças à sua liquidez, na esperança de vender bem o arroz no segundo semestre. No entanto, estes produtores não conseguiram alcançar nem grandes produtividades de soja e nem aproveitaram os melhores preços, até aqui, da oleaginosa no mercado”, declarou Santos.

“E isso precisa estar na ponta do lápis pra ver o quanto está compensando financeiramente, já que do ponto de vista agronômico, bem conduzida, essa rotação traz vantagens e tem sido a solução para muita gente”.

Os preços médios de comercialização no mercado livre gaúcho recuaram para R$ 42,00 a R$ 43,00, mas boa parte dos negócios está sendo fechada abaixo destes patamares. Santa Catarina também refletiu a queda, e opera com comercialização bastante restrita entre R$ 41,00 e R$ 42,00, apesar de uma referência pró forma em R$ 43,00 na maioria das praças.

No mercado internacional, o analista aponta que houve evolução nas cotações da Índia e da Tailândia, mas associadas à valorização das moedas nacionais em relação ao dólar. No Vietnã a safra vem aumentando a oferta e reduzindo os preços de exportação. “No entanto, o que preocupa esses mercados e deve nos preocupar também é a redução da demanda internacional”, disse Santos.

Ele também aponta que, apesar da expectativa de redução da área plantada nos Estados Unidos, por problemas climáticos, os analistas daquele país estão indicando o ingresso da próxima safra, a partir de agosto, em níveis muito competitivos de preços para recuperar o mercado perdido na América Latina, em especial para o Brasil. Na semana passada, os estadunidenses anunciaram uma venda de 120.000 toneladas de arroz para o Iraque, mas não formalizaram os termos.

Exportações

Uma das boas notícias para o setor é que, apesar da baixa expectativa, o mês de maio confirmou mais um superávit importante na Balança Comercial do arroz. O Brasil exportou 8,30% mais grão do que em abril, fechando os embarques em 139.300 toneladas. Foram cerca de 10.000 toneladas a mais. O problema é que as importações também cresceram, e muito: 29,20%, ou 21.000 toneladas, para 93.300 toneladas.

O saldo da Balança Comercial em maio foi de 46.000 toneladas, mas serviu para demonstrar que mesmo com um dólar mais inclinado às exportações, o Paraguai consegue ser bastante efetivo nas vendas para o Brasil Central, e isso tem sido determinante para balizar preços em São Paulo, Minas Gerais e arredores.

“Das 93.300 toneladas adquiridas pelo Brasil em maio, 69.400 foram do Paraguai. Nos cinco primeiros meses do ano já foram mais de 260.000 toneladas e 210.000 foram nos últimos três meses”, afirmou Santos.

“Em março tivemos um superávit de 80.000 toneladas, e em abril de 56.000 toneladas. Ou seja, gradativamente o Mercosul está ampliando a sua internalização de arroz no Brasil numa velocidade maior do que avançam nossas exportações, apesar do câmbio”, sustentou.

No primeiro trimestre do ano comercial, de março a maio, o Brasil tem um saldo positivo de 182.600 toneladas de arroz, em base casca. Exportou 426.700 e importou 244.100 toneladas. O destaque são os quebrados de arroz para a África cuja demanda foi fortalecida desde o final do ano passado.

Em maio, mais uma vez o Senegal foi o maior comprador do grão no Brasil, mas o que surpreende é que, apesar de toda a crise, a Venezuela ampliou sua demanda de 23.000 para 32.000 toneladas nos dois últimos meses. Cliente de peso que sumiu do radar brasileiro foi Cuba, que não importa arroz desde janeiro.

Preço ao consumidor

Mesmo com a retração das cotações ao consumidor em junho, os preços ao consumidor permaneceram estáveis segundo o levantamento de Planeta Arroz em algumas das principais capitais do país.

Mercado

A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preços médios de R$ 43,00 para a saca de arroz em casca no Rio Grande do Sul, e R$ 94,00 para a saca de 60 quilos de arroz branco, Tipo 1. Os quebrados seguem estáveis, com o canjicão bastante demandado para exportação e pelas indústrias de ração cotado a R$ 58,00; a quirera em R$ 42,00 por saca de 60 quilos, e a tonelada do farelo nos mesmos R$ 420,00 dos últimos meses.

 

Planeta Arroz

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