Arroz: preços aumentam de olho no dólar e no teto ao consumidor

Por Cleiton Evandro dos Santos /AgroDados

O mercado de arroz em casca no Sul do Brasil começou a reagir na tarde desta terça-feira, após quatro dias de estagnação e expectativa sobre o comportamento da atual semana nas relações de negócios ao longo da cadeia produtiva.

O comportamento, no entanto, é misto, com empresas exportadoras ainda ativas no mercado e elevando as cotações, mesmo com o real recuperando parcialmente o valor em relação ao dólar, enquanto as empresas mais voltadas ao mercado interno se mantiveram sem alterações nos patamares dos negócios efetivamente concretizados.

Balizado pelas tradings e indústrias exportadoras, o indicador Esalq/Senar-RS de preços do arroz em casca (50kg  – 58 x 10), com pagamento à vista, mostrou recuperação após dois fechamentos em queda (sexta-feira e segunda-feira). Evoluiu 0,95% nesta terça, frente ao fechamento anterior, alcançando R$ 62,94 e estabelecendo novo recorde nominal.

O Indicador Esalq/Senar-RS, 58% grãos inteiros, com pagamento à vista, subiu 0,95% frente ao dólar, ainda que a moeda tenha recuado cerca de R$ 0,50 em poucos dias. Portanto, os preços brasileiros subiram em moeda internacional, as cotações locais seguem bastante competitivas para o mercado mundial e as exportações estimam um bom volume para maio, junho e julho.

A indústria tem sinalizado um parâmetro entre R$ 66,00 e R$ 68,00 na Zona Sul e R$ 59,50 a R$ 62,00 na Região Central e, ainda, R$ 62,00 a R$ 64,00 por saca de 50 quilos, na Fronteira Oeste.

A posição de parte da indústria reflete a menor demanda do varejo, com os consumidores menos ativos e já buscando preços mais baixos nas gôndolas de arroz. Este cenário confirma uma situação que já era esperada, mas somente a partir de junho/julho.

Com as compras de pânico em março/abril, boa parte dos consumidores se abasteceram por dois a três meses. O varejo também realizou compras significativas, mas de maneira estratégica. Além de se abastecer, fracionou as entregas futuras.

Com a demanda mais fraca de consumo e varejo, as indústrias começam a ter maiores dificuldades de repassar custos e delimitam uma faixa de preços, enquanto o produtor espera que o comprador acompanhe os patamares ditados pelas tradings que, pela diferença cambial, têm mais fôlego para negociar.

Com o dólar em queda, de quase R$ 6,00 para R$ 5,34, e as cotações internas subindo de US$ 10,06 em direção aos US$ 11,79, as empresas já começam a olhar com mais interesse o arroz do Mercosul, em especial o do Paraguai.

A Zona Sul, com cerca de 17% da produção gaúcha, é o centro com as cotações mais altas, favorecida pela proximidade dos dois maiores polos industriais do arroz (Pelotas e Camaquã) e do Porto de Rio Grande. Produtores desta região, com bons volumes, têm conseguido realizar negócios até R$ 12,00 acima da Região Central por saca.

Enquanto um grande grupo da Zona Sul fechou uma negociação volumosa de arroz colocado no porto a R$ 72,00, por exemplo, descontando até R$ 3,00 de frete e outras despesas, nas regiões de Santa Maria, Cachoeira do Sul e Rio Pardo houve negócios a R$ 59,50 por saca, brutos.

Portanto, a diferença não está apenas no frete, mas em outros fatores como qualidade, rendimento de engenho, volume, preço internacional e o quanto o exportador e a indústria estão dispostos a pagar.

Se evidencia, desta forma, que o mercado interno e o externo estão um pouco mais descolados, fugindo à regra de pagamento de R$ 1,00 acima dos preços domésticos praticada pelas tradings. Empresas do centro do país seguem buscando o patamar máximo de R$ 62,00 a R$ 65,00 no grão gaúcho.

Santa Catarina

Em Santa Catarina, segue a diferença de R$ 2,00 a R$ 3,00 entre o Sul, de grão mais valorizado com maior número de indústrias, e o Norte, onde os compradores locais são poucos.

A cotação média no Sul catarinense fica entre R$ 56,50 e R$ 57,00, mas com a vantagem das cooperativas ajudarem no frete, não descontarem os custos de secagem e ainda darem bonificação de até R$ 1,50 por saca para o grão armazenado em insumos na próxima safra. Os catarinenses também comemoram uma primeira exportação volumosa de arroz realizada recentemente.

EUA

Nos Estados Unidos, segundo o USDA, a safra 2020/21 já está 70% plantada e com mais de 40% em emergência. Ainda se nota algumas dificuldades na semeadura de alguns estados, mais ao Sul, por conta do volume de chuvas localizadas, o que pode impactar na previsão de aumento de 14% na área e 17% na produção, para 6.6 milhões de toneladas (base beneficiado).

Como os EUA tiveram uma quebra de 15% na safra passada, a expectativa é de que tenha uma colheita com volumes normais. O aumento das exportações e do consumo interno deve manter os estoques estadunidenses 7% abaixo da média de cinco anos.

Bolsa

Na Bolsa de Chicago (CBOT), os contratos futuros de arroz para julho, setembro e novembro valorizaram. O quintal (45,4 kg) para o final de julho é cotado a US$ 16,24 (equivalente a US$ 17,89 para 50 kg), com 303 contratos, em US$ 12,60/cwt para setembro, com 298 contratos, e US$ 11,71/cwt para novembro, com apenas 22 contratos.

Na medida em que a temporada de colheita e oferta avança, os preços voltam à normalidade. A valorização para julho está associada aos baixíssimos estoques para novas vendas nos EUA, situação que se tornou mais crítica pelo aumento da demanda interna em ações humanitárias.

Safra

O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) prevê a conclusão da colheita gaúcha para esta semana. Ainda restam algumas áreas residuais que não foram colhidas por causa do tempo chuvoso do final da semana passada. A produtividade deve fechar perto de 7.900 quilos por hectare, uma das maiores dos últimos anos, e a produção acima das 7.7 milhões de toneladas, o que é considerado uma safra perto do normal.

Mercado

A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preços médios do arroz em casca, no Rio Grande do Sul, em R$ 62,70, para a saca de 50 quilos (58 x 10), à vista, enquanto a saca de 60 quilos (12 x 5 kg) branco, Tipo 1, está em R$ 145,00.

Com menor demanda na indústria de aves, que passa por queda na demanda e na oferta por causa de focos de infecção em frigoríficos, a demanda pelo canjicão está um pouco mais folgada, o que fez com que o valor decrescesse até R$ 93,00 (60 kg).

O farelo de arroz subiu 1,70% para R$ 600,00 por tonelada. Com forte demanda de exportação, a quirera tem valorizado e abriu a semana 2,50% acima da semana passada, em 82,00 por 60 quilos.

Preço ao consumidor

Poucas mudanças nos preços ao consumidor na última semana, ainda com pequenos avanços. Média de R$ 17,80 a R$ 18,00 na maioria das praças, com mínima inferior a R$ 13,00 em algumas capitais pesquisadas, e ofertas abaixo dos R$ 12,00, inclusive no Rio Grande do Sul, para marcas menos expressivas (ou linhas populares), mas ainda do Tipo 1, em pacotes de 5 kg.

 

Planeta Arroz

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