Pela primeira vez em outubro, e nos últimos meses, a trajetória dos preços do arroz em casca mostrou apreciação depois de longo declínio, recuperando minimamente as perdas que vinham sendo registradas no mês. O indicador de preços da saca de 50 quilos do arroz em casca (58 x 10) no Rio Grande do Sul, Esalq/Senar-RS, alcançou média de R$ 36,54 nesta terça-feira, dia 17 de outubro, registrando valorização de 0,33% no mês.
Pela taxa de câmbio do dia, a saca equivale a US$ 11,53. A reação acontece por dois motivos. Os produtores ficaram preocupados com a formação da próxima lavoura e os muitos problemas gerados pelo atraso e a falta de janelas de plantio pela instabilidade do clima. Pelos preços praticados, houve uma retração vendedora.
Nota-se uma movimentação mais acentuada de pequenas e médias indústrias em busca de lotes maiores do que vinham sendo negociados no início do mês, mesmo com o vencimento de parcela das dívidas referentes às perdas do El Niño de 2015/16, e da necessidade de pagamento do custeio 2016/17.
Cinco fatores estão colaborando para este novo momento do cenário de comercialização e preços: a expectativa da liberação de mecanismos governamentais, Pep e Pepro, para até 300 mil toneladas de arroz em casca no Rio Grande do Sul; o atraso histórico na formação da lavoura gaúcha, que representa 72% da produção brasileira; a redução de área cultivada no Rio Grande do Sul, no Mato Grosso e no Mercosul – exceto Paraguai, que deve ajustar as disponibilidades da próxima temporada; o aquecimento das exportações, também por causa dos preços internos, e a baixa disponibilidade de arroz paraguaio para ser importado pelas indústrias paulistas, mineiras e paranaenses.
No mercado livre gaúcho, as cotações variam entre R$ 35,00 e R$ 37,00, dependendo da praça, do padrão e da demanda pontual de cada região. As praças de Cachoeira do Sul e Rio Pardo/Pantano Grande, na região central, vêm trabalhando com os menores preços do estado, na faixa de R$ 34,00 a R$ 35,00 livres. Os valores são o referencial da argumentação do setor para a liberação de recursos destinados aos mecanismos de comercialização da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Segmentos técnicos do Ministério da Fazenda, no entanto, vêm resistindo à pressão setorial e política para dar o sinal verde, argumentando que a lei determina a liberação dos recursos mediante queda dos preços abaixo dos preços mínimos no estado.
Para os técnicos da Conab e do Ministério da Agricultura, porém, basta uma região atingir este patamar negativo para deflagrar a intervenção. A lógica é que, por absoluta falta de recursos, o Ministério da Fazenda desempenha, neste momento, um papel de “guardião” dos recursos e tenta manter a meta de déficit, segurando ao máximo a liberação dos recursos.
Cotas
Outra novidade é a ação das entidades setoriais no sentido de convencer o governo federal, sempre refratário, a adotar um sistema de cotas para importação de arroz do Mercosul. Com o governo fragilizado, precisando de apoio para manter o mandato de Michel Temer, duas vezes denunciado pelo Ministério Público, até o final de 2018 a pressão da base aliada pode ajudar.
A argumentação é similar àquela que levou o governo brasileiro a suspender as importações de leite do Uruguai. Mas a situação é diferente, o que pode levar a uma interpretação diferente pelo governo. No caso do leite uruguaio, os produtores gaúchos denunciaram a triangulação do produto, isto é, o Uruguai adquiria leite barato em outros mercados e aproveitava as vantagens do Mercosul para descarregar no Brasil e faturar com isso.
Antecipando-se, a Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz) divulgou orientações aos produtores que pretendem participar dos leilões de Pep e Pepro, para atualizarem seus cadastros. As corretoras gaúchas estão aptas a auxiliar nos processos.
A expectativa é de que os preços médios do arroz no Rio Grande do Sul mantenham-se com oscilações enquanto perdurar a indefinição sobre os mecanismos, mas a cadeia produtiva espera uma resposta positiva até a próxima segunda-feira. Com os mecanismos, é esperada leve reação nas cotações, que pode ser potencializada com o avanço do atraso na safra, já que a previsão é de mais chuvas na atual e nas próximas duas semanas, encurtando a janela de plantio.
Muitos produtores estão reavaliando a área a ser semeada com arroz, podendo optar por investir em soja nas áreas mais apropriadas, em função da falta de tempo para cultivar na época mais apropriada.
Mercado
A corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preços médios de R$ 36,20 para a saca de arroz de 50 quilos, em casca (58 x 10), no estado. Já o produto beneficiado (branco, tipo 1) em sacos de 60 quilos, é negociado na faixa de R$ 77,00.
Canjicão e quirera mantiveram os preços referenciais nesta primeira quinzena de outubro, em R$ 50,00 e R$ 43,00 respectivamente, em sacos de 60 quilos, por causa da demanda da indústria de rações e das exportações para a África. O farelo também se manteve em R$ 360,00 por tonelada, devido à demanda setorial, para a produção de óleos e derivados e por parte da cadeia produtiva de proteínas.
Preço ao consumidor
O preço médio ao consumidor brasileiro mantém o arroz como um dos produtos mais acessíveis da cesta básica. Um levantamento da Datafolha indicou que os preços atuais do cereal ao consumidor são os mesmos de 15 anos atrás. E que, se reajustado pelo INPC, o valor atualizado deveria ser de R$ 26,00 por cinco quilos, mais do que o dobro da média atual.
Em média, os preços do saco de cinco quilos de arroz tipo 1, branco, giram entre R$ 11,50 e R$ 11,75, mas com promoções que os levam abaixo de R$ 10,00. Em Porto Alegre há promoções de arroz a R$ 9,98, de marcas próprias das redes varejistas.
Em Santa Catarina, chamou a atenção da cadeia produtiva, no início de outubro, o registro de produtores nas redes sociais de uma rede de supermercados (Angeloni) vendendo cinco quilos de arroz da marca Panelaço por R$ 6,35 em promoção especial. No Rio Grande do Sul, a Rede Vivo de supermercados anunciava no último final de semana, nas mesmas especificações, o arroz da marca Itaobi, a R$ 7,99. Portanto, se existe alguém que não pode reclamar do momento é o consumidor.
Fonte: Planeta Arroz