Arroz: mercado estabiliza no Sul, trava no Mato Grosso e Conab confirma safra maior

Os preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul nesta primeira semana de outubro se mantiveram abaixo dos R$ 50,00, mas com relativa estabilidade. O indicador de preços do arroz em casca Cepea/Senar-RS registrou média de R$ 49,57 na quinta-¬feira (6), valor equivalente a US$ 15,37 por saca de 50 quilos do cereal (58 x 10), à vista. No mês, o indicador acumula desvalorização de 0,18%, ou nove centavos frente à última cotação de setembro. Em dólar, o valor apreciou US$ 0,10 face à oscilação cambial.

Este comportamento dos preços internos reflete uma conjuntura de muita expectativa, mas de pouca movimentação. Apesar de a indústria esperar um aumento da oferta por parte dos produtores em função do vencimento de duas parcelas de custeio em outubro, mais a necessidade de capital para as operações finais de ajustes de maquinário, preparo de solo e plantio, as vendas seguem restritas, num ritmo normal dos últimos meses. Assim sendo, a indústria se mantém priorizando a compra de cereal depositado ou com valores de oportunidade.

Nem mesmo a expectativa de que as importações firmes e a pressão “psicológica” pelo anúncio de uma safra cheia na temporada que se inicia – e a demanda por crédito – estão movimentando o mercado arrozeiro gaúcho, único que ainda dispõe de volume para isso no Brasil.

Apesar disso, os produtores seguem mais preocupados com as operações de plantio e a busca de crédito, principalmente em bancos privados e cooperativos, que registraram aumento da demanda entre julho e setembro, frente à queda do Banco do Brasil. Parte desta demanda é explicada pela liberação de pré-custeio este ano, ao contrário da temporada anterior, mas também pelo alto grau de endividamento do setor e da falta de garantias reais dos arrozeiros para novas contratações.

O mercado livre opera com cotações referenciais em R$ 49,00 a R$ 49,50 no Rio Grande do Sul e R$ 49,00 em Santa Catarina, e paga até R$ 50,00 por produto colocado nas indústrias de Camaquã e Pelotas.

Hoje a Conab volta a ofertar cerca de 11 mil toneladas de arroz em casca das safras 2008/09 e 2010/11 por preços médios de R$ 44,00. Há lotes ofertados a partir de R$ 41,50 até R$ 47,50, de acordo com as características do grão.

Mato Grosso

No Mato Grosso, o mercado se mantém com oferta muito restrita, e alta competitividade do arroz do Paraguai nos mercados próximos e indústrias abastecidas. Os produtores se movimentam para ofertar com valores bem acima do mercado, o que faz a indústria recuar. A expectativa é de que a área cultivada volte a cair no Estado, segundo agentes de mercado locais, por causa da concorrência por área com a soja. Produtores da região vêm argumentando que esperam preços mais baixos na próxima temporada em função da safra cheia no Sul do Brasil e no Mercosul. A expectativa é de que a área caia perto de 10%, de 153 mil para 137 mil hectares.

Safra

Por falar em safra, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou na quinta-feira (6) o primeiro relatório de intenção de plantio da safra 2016/17 no Brasil. Conforme já era esperado, a expectativa para a safra de arroz é de um aumento de área, produção e produtividade, principalmente no Sul do Brasil.

As primeiras análises dos números da cultura do arroz, da safra 2016/17 indicam um incremento da área plantada de 4% em relação à safra passada. Na produtividade, o aumento previsto será de 9,4% na média nacional, estimada em 5.777 kg/ha, com variações positivas ou negativas nos estados, a ser conferida no decorrer da safra. A mesma tendência pode ser verificada na estimativa de produção, onde os números nacionais apontam para incremento entre 9,3% e 13,8%, ficando entre 11.5 e 12 milhões de toneladas.

No Rio Grande do Sul, maior estado produtor do cereal, que na safra 2015/16 representou quase 86,6% da produção brasileira, há indicativo de incremento da área plantada e nas produtividades. A área deverá ficar entre 1.100.700 e 1.150.200 hectares, contra os 1.076.000 hectares da safra passada. Com uma produtividade média esperada de 7.503 kg/ha, a produção total deverá ficar entre 8.258.600 e 8.630.000 toneladas, 12,3% ou 17,3% maior que a safra 2015/16.

Segundo dados do Irga, mais de 36% da lavoura gaúcha foi semeada até a última quarta-feira (5), sendo esta área 80% maior do que na temporada passada. A Fronteira Oeste deve chegar na próxima segunda-feira (10) com quase 75% da área semeada. As regiões mais atrasadas são a Depressão Central e as Planícies Costeira Interna e Externa à Lagoa dos Patos. A semeadura só não andou mais depressa porque a falta de umidade no solo afetou algumas microrregiões da Campanha e da Fronteira Oeste.

Com as chuvas que ocorreram no estado esta semana, a expectativa é de que se normalize as condições de emergência em sistemas de cultivo mínimo/plantio direto e convencional e seja retomada a semeadura em ritmo mais célere. A expectativa é de que mais de 90% da área seja cultivada até 20 de novembro. O temor é de que com as dificuldades de crédito, os produtores reduzam o uso de insumos e utilizem maior percentual de grãos no lugar de sementes certificadas, prejudicando o potencial produtivo das lavouras.

ICMS

Esta semana o Governo do Rio Grande do Sul renovou a concessão de benefícios de redução das alíquotas do ICMS para as indústrias que adquirirem grão de produtor gaúcho para até 90% dos volumes que processar. O mecanismo já existe há quatro safras e vem recuperando a competitividade da cadeia produtiva gaúcha frente à redução ou eliminação do imposto sobre o arroz importado em outros estados. A novidade é que as empresas que estavam processando o Estado para evitar o recolhimento de tributos terão que aceitar os termos do acordo. Um sistema está senso desenvolvido para avisar o arrozeiro, no ato da emissão da nota fiscal, se a indústria que compra o produto está inscrita na Fazenda Estadual – com TDA – (ou seja, habilitada pelo programa) para evitar que o próprio agricultor tenha de pagar o ICMS correspondente à operação. O mecanismo deve entrar em funcionamento até o início de 2017.

Santa Catarina

Segundo a Conab, o plantio em Santa Catarina começou um pouco mais tarde, se comparado ao ano anterior, devido às expectativas de dias frios ainda em agosto e setembro, principalmente na região sul. No norte, o clima continua favorável para a implantação e desenvolvimento da cultura. Em relação à área destinada para a cultura, não foi observado alterações em relação à safra passada, devendo permanecer em torno de 147.400 hectares e 148.000 hectares, principalmente pela dificuldade de obtenção de licença ambiental para abertura de novas áreas de cultivo do arroz irrigado. Os produtores estão otimistas esperando colher em média 7.327 kg/ha, 2,6% superior ao registrado na safra passada. A produção total ficará entre 2,6% e 3,1%, maior do que a safra 2015/16, variando entre 1.080 e 1.084.400 toneladas.

Tocantins

Ainda de acordo com o levantamento, em Tocantins, em grande parte das regiões produtoras, a expectativa é de queda da área plantada em 3%, em razão das dificuldades na venda do produto e também devido à opção por parte dos produtores por culturas que possuem melhores perspectivas de mercado, como o feijão e o milho. Além disso, o elevado custo de produção e o alto de grau de endividamento dos orizicultores da região sudoeste do estado põem em risco um resultado positivo. Contudo, a atual cotação do produto no mercado poderá gerar uma mudança nesse posicionamento.

Balança Comercial

A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e do Comércio Exterior divulgou nesta quinta-feira os dados da Balança Comercial do arroz em setembro. Houve um aumento importante nos embarques brasileiros de arroz (em base casca), que alcançaram 62.400 toneladas contra apenas 26.600 toneladas embarcadas em agosto, no pior desempenho do ano comercial. Com isso, na temporada comercial o Brasil alcançou 612.000 toneladas (março/setembro), com o suporte importante de uma carga de 27.000 toneladas de arroz em casca.

Em contrapartida, o País importou 117.400 toneladas de arroz (base casca), com o Paraguai se destacando mais uma vez como principal fornecedor. As compras brasileiras continuam firmes, mas houve uma redução de 45 mil toneladas neste mês, frente as 162 mil toneladas adquiridas em agosto. No ano comercial, o Brasil já acumula 688.500 toneladas compradas no exterior nos sete meses do ano comercial, para suprir a demanda interna.

Dois fatores justificam este movimento: a quebra de safra na temporada atual em mais de 1.5 milhão de toneladas, segundo dados da Conab, e o câmbio. O déficit da balança comercial do arroz do Brasil alcança quase 76.500 toneladas de março a setembro de 2016, num ano comercial que vai até fevereiro de 2017. O mercado trabalha com a expectativa de uma importação de um milhão de toneladas, com déficit superior a 500 mil toneladas. Com os preços altamente atrativos do Paraguai para o Sudeste – e menos atraentes, mas também competitivos do Uruguai e da Argentina, especialmente para o Nordeste – fica mais difícil uma alta mais expressiva das cotações no Sul do Brasil e nas praças importantes de fornecimento do grão, como Tocantins e Mato Grosso.

Porto

Os exportadores brasileiros mantêm os esforços para vender para terceiros países, mas os volumes embarcados estão se resumindo aos negócios fechados no primeiro semestre e quebrados para a África. Mesmo com empresas brasileiras participando de eventos por meio do programa Brazilian Rice, as dificuldades se mantêm altas. Além do câmbio e da baixa disponibilidade do grão no Sul, de onde são exportados 100% dos grãos que o País coloca no mercado externo, há também problemas estruturais. Esta semana, fiscais do Ministério do Trabalho (MTb) interditaram o terminal da Cesa, em Rio Grande, e há queixas do setor também quanto às dificuldades de operação nos terminais privados.

Mercado

A Corretora Mercado, de Porto Alegre, aponta preços médios de R$ 49,00 para a saca de arroz de 50kg, em casca, 58 x 10, no mercado livre gaúcho. A saca de 60kg do arroz beneficiado (branco, tipo 1) é comercializada a R$ 98,00 (sem ICMS – FOB). O canjicão e a quirera, em sacos de 60 quilos, valem R$ 55,00 e R$ 53,00, respectivamente, enquanto a tonelada de farelo de arroz colocada em Arroio do Meio (RS) fica em R$ 690,00 (CIF). A expectativa é de que o mercado se mantenha estável em outubro. O comportamento no restante do ano comercial dependerá em muito do câmbio – e do volume de exportações x importações, mas há expectativa de picos pontuais de alta durante os próximos meses de entressafra, uma vez que a indústria não consegue beneficiar “efeitos psicológicos de safra maior” para atender ao mercado. Precisa de produto.

 

Fonte: Planeta Arroz

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