O Brasil, apesar de ser um potencial fornecedor de alimentos para o mundo, ainda enfrenta problemas por causa do desperdício na cadeia produtiva. Em média, são 27 milhões de toneladas de alimentos desperdiçados a cada ano.
Segundo análise da ONG Banco de Alimentos, com base em dados da Embrapa, o desperdício de um terço de alimentos que ocorre em toda a cadeia alimentar tem origem no campo (10%); na fase de manuseio e transporte (50%); nas centrais de abastecimento (30%) e nos supermercados e consumidores (10%).
“Às vezes desperdiçar é você não colher tudo o que plantou. Ou pior ainda, é você não conseguir armazenar tudo aquilo que colheu”, destacou o empresário e ex-ministro da Agricultura, Antonio Cabrera.
Ele afirmou que a taxa de armazenagem no Brasil ainda é baixa e que o déficit no setor chega a 100 milhões de toneladas por safra.
Além do grão
“Por exemplo, com a colheita da safrinha do milho, os armazéns estão cheios e há uma grande quantidade desse produto sendo estocado ao ar livre, submetido à ação do tempo. Essa é uma situação que nós temos de resolver”, disse Cabrera.
“Em um mundo cada vez mais faminto, não podemos continuar com esse tipo de problema. Esse é um dos grandes desafios do campo brasileiro. Combater o desperdício e ajudar o produtor brasileiro a ter seu devido armazenamento. Até porque não se trata apenas do grão de milho, mas também da produção de frango, de ovos e de suínos, que utiliza os subprodutos do cereal”.
EUA
O empresário lembrou que os Estados Unidos conseguem armazenar a maioria de seus produtos com uma capacidade equivalente a mais de uma safra durante um ano. “Cerca de 60% da produção é armazenada nas fazendas, e apenas 40% na cidade. Essa grande capacidade dos EUA em armazenamento faz com que o país seja o maior detentor de estoques de alimentos de passagem do mundo”.
Crítica
Por outro lado, Cabrera criticou a falta de empenho da comunidade internacional em ajudar o Brasil a superar esse desafio do setor. “O que mais me impressiona é que eu nunca vi nenhuma entidade internacional ou alguma grande personalidade falar sobre o problema da armazenagem no Brasil”, observou o ex-ministro.
“Eles fazem uma série de comentários a respeito do País, mas se estivessem realmente preocupados com o mundo, com o sofrimento humano, como por exemplo, a questão da fome na África, poderiam olhar para esses desafios que o Brasil tem e oferecer algum tipo de auxílio”.