Armadilhas com feromônios: controle limpo e barato

Ensaios conduzidos pela Fundação Mato Grosso mostraram que armadilhas com feromônios sexuais são eficientes no monitoramento de pragas — como o percevejo-da-soja — e impactam a produtividade
Ensaios conduzidos pela Fundação Mato Grosso mostraram que armadilhas com feromônios sexuais são eficientes no monitoramento de pragas — como o percevejo-da-soja — e impactam a produtividade

Testes de campo realizados pela Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso — Fundação MT localizada em Rondonópolis, município de Mato Grosso mostraram que a utilização de armadilhas à base de feromônios sexuais em lavouras de soja é uma boa estratégia para monitorar e controlar as populações de percevejos que atacam essa cultura, especialmente o percevejo marrom.

A iniciativa é resultado do projeto “Rede Nacional de Ecologia Química (Repensa)”, liderado pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, além de outras instituições brasileiras e internacionais,com o objetivo de estudar a comunicação química entre seres vivos (insetos, plantas e animais pecuários) e utilizar esses conhecimentos em prol do controle biológico de pragas agrícolas.

Rede

A organização do Projeto em rede permite o compartilhamento de conhecimentos e equipamentos entre grupos com diferentes especialidades, maximizando o potencial de cada grupo e permitindo o alcance de resultados de forma mais dinâmica e precisa. Graças à essa união de saberes, foram realizados os testes de campo no Mato Grosso. Nesses ensaios, armadilhas à base de feromônios desenvolvidas pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em parceria com a ISCA Tecnologias, foram testadas pela Fundação Mato Grosso, na Fazenda Guarita, na localidade de Rondonópolis (MT), com bons resultados. Segundo a pesquisadora da Fundação MT, Lúcia Vivan, os testes de campo foram conduzidos em duas áreas de 25 hectares cada, sendo uma com as armadilhas à base de feromônios (oito armadilhas com distância de 200 metros entre elas) e a outra com a metodologia de amostragem chamada de “pano de batida”.

Monitoramento

O monitoramento realizado com as armadilhas de feromônios detectou população de percevejo marrom mais precoce e em maior número do que as amostragens realizadas com “pano de batida”. Este é um bom resultado para o monitoramento e controle dessa praga, explica Vivan. “Quanto antes detectarmos as populações de percevejos, mais cedo podemos iniciar o controle”.

Os resultados obtidos pelos testes de campo mostraram que o controle mais precoce, propiciado pela utilização de feromônios, impacta diretamente a produtividade nas lavouras de soja, já que o percevejo marrom é uma das piores pragas dessa cultura no Brasil. O inseto se alimenta diretamente nos grãos, causando sérios prejuízos no rendimento e na qualidade das sementes, como baixo vigor e menor teor de óleo.

Segundo a pesquisadora, a área com as armadilhas apresentou maior produtividade e menor quantidade de sementes danificadas. Ela explica que, em 2013, outros testes serão feitos em novas áreas no estado do Mato Grosso.

Feromônios e cairomônios

O Laboratório de Semioquímicos da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, liderado pelo pesquisador Miguel Borges, desenvolve estudos com os semioquímicos (feromônios e cairomônios) das diferentes espécies de percevejos da soja, desde 1990, para controle e monitoramento de percevejos que atuam como pragas na cultura da soja no Brasil.

Os feromônios são os mais importantes elementos da comunicação entre os insetos. São substâncias químicas de cheiro peculiar, presentes em cada espécie, que atuam como meios de comunicação. Na natureza, os feromônios são responsáveis pela atração de indivíduos da mesma espécie para acasalamento, demarcação de território e outros tipos de comportamento. Os cientistas reproduzem, em laboratório, as condições observadas na natureza para monitorar o comportamento dos insetos-praga e interromper a sua reprodução.

Soja

A soja é uma das principais culturas agrícolas do Brasil, com uma produção de 68 milhões de toneladas, envolvendo 16 estados e uma área superior a 23 milhões de hectares. O percevejo da soja é uma das pragas mais nocivas a essa cultura, de norte a sul do Brasil e também em outros países, como Argentina e Estados Unidos.

Hoje, a tecnologia existente para monitoramento e identificação da presença de percevejos nas lavouras de soja, é a técnica do pano de batida, que além de exigir mão de obra qualificada, demanda tempo dos técnicos envolvidos no monitoramento. Por estes motivos, não é muito utilizada pelos produtores, especialmente em plantios extensivos.

Armadilhas

As armadilhas desenvolvidas a partir de feromônios facilitam o monitoramento dos percevejos nas lavouras de soja, pois as capturas são especificas à praga-alvo, exigindo somente que o produtor conte o número de insetos. “O que se espera, no futuro, é que o produtor espalhe as armadilhas na área cultivada e faça inspeções semanais em busca de percevejos. Sempre que o número de insetos alcançar uma quantidade pré-determinada, a aplicação de inseticida será recomendada, de forma a aumentar a efetividade do controle e, o mais importante: diminuir o número de aplicações de pesticidas, o que protege o bolso do agricultor e o meio ambiente”, afirma o pesquisador Miguel Borges , que também é coordenador da Rede.

Segundo ele, a Embrapa e a ISCA Tecnologias vão investir em novos testes de campo na próxima safra da soja, visando não apenas ao monitoramento, como também ao controle da população de percevejos, com a utilização de feromônios nas diferentes regiões produtoras. “O processo consistirá em concentrar a população de percevejos em uma determinada área, denominada “área ou cultura armadilha”, na qual serão aplicadas medidas de controle”, explica Borges.

Rede Repensa

O objetivo final da Rede Repensa, de acordo com o pesquisador, é organizar um banco de semioquímicos, proteínas e genes envolvidos na comunicação química de plantas, animais e insetos, para tornar mais eficiente o processo de desenvolvimento de tecnologias baseadas nessas moléculas. Por isso, as pesquisas estão sendo realizadas em nível básico — para compreender os mecanismos naturais de interação inseto-inseto, inseto-planta e inseto-mamífero — e em nível aplicado, como o teste de campo de Rondonópolis, entre outras ações em conjunto entre as instituições envolvidas.

Segundo o pesquisador, os semioquímicos ocupam hoje cerca de 30% do mercado de biopesticidas no mundo, perdendo apenas para os inseticidas bacterianos e os botânicos. No Brasil, o mercado de semioquímicos está em franca expansão, com mais de 15 produtos registrados e outros em fase de registro.

“Com esse Projeto, esperamos contribuir para a sustentabilidade da agricultura no Brasil”, finaliza Borges.

Participam da Rede as seguintes unidades da Embrapa — Pecuária Sul; Arroz e Feijão; Pecuária Sudeste; Amazônia Ocidental e Clima Temperado — as universidades: Estadual de Mato Grosso (Unemat); de Brasília (UnB); Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Federal de Lavras (UFLA); Federal de São Carlos (UFSCar); Federal de Goiás (UFG), além de instituições brasileiras — Fundação de Apoio à Pesquisa Agrope-cuária de Mato Grosso — Fundação MT; CEPLAC/Bahia; Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI) e Empresa Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (EMPAER) — e internacionais: USDA/ARS Chemicals, Affecting Insect Behavior Laboratory e Rothamsted Research-Chemical Biological Group.

 

Fonte: Revista A Lavoura – Edição nº 696/2012

 

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