Por Roberto Rodrigues
Hoje, 9 de março, acontece na São Paulo Expo a segunda versão da Anufood, uma enorme feira internacional de alimentos, onde o Brasil e os países da América do Sul irão expor seus produtos alimentares exportáveis e receberão compradores do mundo todo preocupados com o abastecimento de consumidores de toda parte.
E no período da tarde haverá, lá mesmo, um congresso que vai analisar em profundidade as tendências de consumo de alimentos em todo o mundo, as tecnologias utilizadas em sua produção e como isso tudo se encaixa na atual situação da economia global.
Aliás, uma economia que vem sendo estudada com muita curiosidade, tendo em vista o surto do “novo Coronavírus” denominado Covid-19.
Segundo a OCDE, o mundo crescerá menos do que originalmente se estimava em razão do vírus: a projeção de 2,90% foi reduzida para 2,40%, uma queda significativa. E pode piorar se a situação não for logo controlada, o que é esperado.
Tal perspectiva deverá afetar a economia brasileira em pelo menos três questões:
– Redução das exportações e em menor valor em dólar. Isso tem muito a ver com nosso mundo do agronegócio;
– Menor importação, com preços mais altos, o que afetará nossa agroindústria por causa do suprimento de componentes;
– A maior aversão ao risco por parte do mercado financeiro realimentará o valor do dólar e trará maior fuga de capitais, dificultando créditos externos.
Diante desse cenário, o Centro de Agronegócios da Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGVAgro), elaborou um estudo coordenado pelo pesquisador Felippe Serigati a respeito dos efeitos imediatos sobre o nosso agronegócio do ponto de vista do comércio internacional.
Analisando o comportamento do setor em fevereiro, já é possível observar:
– O índice de preços em dólar das commodities agrícolas caiu 2,80% em fevereiro em relação ao mês anterior. Mesmo assim, a contração foi menor do que a dos minerais (-6%) e das commodities energéticas (-12,70%);
– Mesmo assim, o valor das exportações do agronegócio brasileiro cresceu 3,30% em relação a fevereiro do ano passado, e surpreendentes 35,40% em relação a janeiro de 2020. Isso se explica pelo aumento do valor das exportações, de um fevereiro para o outro, de carne suína e de aves (26,30%), de carne bovina (19,30%), de soja (4,20%) e de café (3,40%);
– Em compensação, o agronegócio importou menos 12,30% em valor, relativamente ao mesmo mês do ano passado, e menos 5,80% em relação a janeiro deste ano. Destaque para a queda expressiva do valor importado de insumos agrícolas (-28,20%) e de têxteis (4,70%).
É muito importante avaliar especificamente a relação com a China, nosso maior parceiro comercial do agro. Vale a pena visitar a seguinte numerologia para caracterizar essa importância: no ano 2000, a China recebeu 2,50% do que nosso agronegócio exportou. E, no ano passado, nossa exportação para lá foi 30,80% de tudo o que o setor vendeu para o exterior. Foi um crescimento impressionante.
Pois bem, mesmo com a gravíssima crise causada pelo Coronavírus na China, as exportações para lá em fevereiro cresceram espetacularmente em carnes: foram 70,80% mais dólares em carnes de aves e suínos em relação a fevereiro de 2019 e 43,50% a mais de carne bovina. Isso compensou com folga a redução de 13,20% das exportações de soja. E compensou também a queda das nossas importações de insumos e têxteis da China, que foi de 10%.
Resumindo: em fevereiro, o Coronavírus melhorou ainda mais o saldo comercial do nosso agronegócio com o gigante asiático. Precisamos acompanhar atentamente o que vai acontecer nos próximos meses. E isso será, sem dúvida, objeto do congresso na Anufood.
O Estado de S. Paulo