Apesar de queda na rentabilidade em 2023, cooperativas agrícolas planejam reforçar investimentos

Cooperativas agrícolas querem investir para agregar maior valor aos produtos. lmagem de vecstock no Freepik

Um ciclo de oscilações e desafios

A SNA tem acompanhado a importância das cooperativas agrícolas no desenvolvimento do setor no país, sobretudo por sua capacidade de fornecer logística, assistência técnica e crédito a produtores de pequeno e médio porte. Matérias e entrevistas retrataram o crescimento dessas entidades e sua função para além da atividade fim, uma vez que contribuem para a coesão social e laços comunitários de cidades e regiões. Algumas, com o tempo, tornaram-se gigantes da agropecuária e movimentam cifras bilionárias.

O cooperativismo rural, no entanto, não ficou imune às oscilações de 2023, ano que marcou safras menos generosas em certos cultivos, além de oscilações nos preços em virtude de dificuldades operacionais e eventos climáticos que mexeram com a relação de oferta e demanda, impedindo reajustes que manteriam a rentabilidade. As cooperativas com atuação focada em grãos e carnes foram as mais afetadas.

Os expoentes do cooperativismo, em alguns casos, mantiveram ou até aumentaram suas receitas, mas em função da alta nos insumos e outras variáveis, não conseguiram fechar seus balanços tão favoravelmente quanto no ciclo anterior. As pequenas e médias cooperativas, com efeito, também sentiram essa repercussão. Nas palavras do professor Marcos Fava Neves, estudioso da agropecuária brasileira e Diretor Técnico da SNA: “Praticamente metade da produção do agronegócio brasileiro passa por cooperativas, que são fundamentais para a inserção competitiva de pequenos e médios produtores nos sistemas agroindustriais.” Neves acrescenta que, no Brasil, são quase 1,2 mil cooperativas, 1 milhão de produtores cooperados e 250 mil empregos diretos gerados.

Investimentos como chave do crescimento e resiliência

Esse cenário, no entanto, não desanima os líderes do segmento, que planejam investir maciçamente em projetos industriais, buscando agregar valor aos produtos. Entre as maiores cooperativas do setor, Coamo, Lar, Aurora, Comigo, Cocamar, C. Vale, Frísia e Coopavel informaram neste ano que investirão R$ 7,4 bilhões na área industrial, segundo levantamento do Valor Data. Em alguns casos, os aportes vão se estender até 2026.

No ano passado, esses grupos já haviam anunciado investimentos de R$ 3,8 bilhões. Tal aumento, mesmo que na esteira de resultados mais modestos, é possível em função de desempenho acima da média em anos anteriores, impulsionados por safras recordes e gestões eficazes. As reservas acumuladas podem agora, ser usadas nesses projetos ou então lastrear financiamentos.

Mesmo assim, as previsões para 2024 ainda são cautelosas, com especialistas apostando que as margens das cooperativas seguirão pressionadas pelo baixo preço dos grãos, pela quebra de safra no Brasil e pela diminuição das importações chinesas de carnes, entre outros fatores.

A revolução silenciosa das cooperativas de crédito rural

Nesse cenário, as cooperativas de crédito rural se revestem de especial importância, pois essas entidades seguem abocanhando fatias de mercado outrora pertencentes às instituições bancárias tradicionais. A relação mais próxima com a base da clientela, que se sente mais segura ao tratar com quem é do ramo, pode explicar a fidelização cada vez maior dos produtores, sobretudo em momentos de crise.  As carteiras das três maiores cooperativas de crédito que atuam no agronegócio devem aumentar significativamente na safra 2023/24, a despeito das intempéries e desafios nas lavouras.

No início do ano, o diretor financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Alexandre Abreu, chegou a dizer que as cooperativas de crédito estão provocando uma “revolução silenciosa”. Para efeitos de comparação, Nos primeiros seis meses da safra 2023/24, o Banco do Brasil, principal operador de crédito rural do país, emprestou R$ 120 bilhões, um aumento de aproximadamente 5% em comparação ao mesmo intervalo de meses do ciclo anterior. Mas a fatia do banco, que já foi responsável por 90% do total, caiu para 50% nos últimos dez anos.

Dessa forma, as cooperativas seguem fornecendo respaldo aos produtores de todos os portes, regiões e cultivos, constituindo um alicerce de segurança e auxílio que ameniza ou até mesmo blinda os mais vulneráveis dos ventos fortes de mercado, enquanto acompanha os ciclos naturais e necessários de aprimoramento técnico e ajustes de gestão para manter a pujança e competitividade.

Por Marcelo Sá – jornalista/editor/(MTb 13.9290)

 

 

 

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