Ano de perdas para as commodities agrícolas

A sólida tendência de valorização do dólar e as relações em geral confortáveis entre oferta e demanda globais levam sete das oito principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior a fechar 2015 com preços médios inferiores aos dos últimos anos nas bolsas de Chicago (soja, milho e trigo) ou Nova York (açúcar, café suco de laranja e algodão). A exceção é o cacau, que no mercado nova-iorquino registra a maior média anual da história, embalado por incertezas sobre a produção.

Cálculos do Valor Data baseados nas médias anuais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez), fechados ontem, mostram que café, suco de laranja, algodão e milho encerram o ano com as menores médias desde 2009. A soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, desce ao menor degrau desde 2007, o trigo chega perto do nível de 2006 e o açúcar ao patamar de 2008. Resultados com muitas semelhanças entre si, que em parte também refletem o aumento da presença de fundos especulativos nesses mercados desde o início da década passada.

 

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Por conta dessa maior “financeirização”, que em alguns momentos mantém a influência dos fatores ligados à oferta e à demanda desses produtos em segundo plano – ainda que a tendência de longo prazo seja uma convergência entre as apostas financeiras e os fundamentos -, é que 2016 terá início com as cotações das commodities em geral sob pressão. O dólar segue firme e, se a alta das taxas de juros nos EUA for aprofundada, a moeda poderá ganhar ainda mais força, levando a um ajuste dos preços em dólar para baixo. Até certo ponto, esse movimento serve para garantir a competitividade dos produtos americanos.

Contudo, a crescente ameaça de ocorrência do fenômeno La Niña poderá mudar o panorama em alguns segmentos.

Para mercados bem abastecidos, o efeito poderá ser uma aproximação até maior de médias que não eram observadas desde a primeira metade dos anos 2000. É o caso da soja, cujos grandes exportadores (EUA, Brasil e Argentina) não têm enfrentado problemas na produção e, mesmo com uma aquecida demanda da China, têm estoques mundiais já em níveis bastante confortáveis. A cotação média dos contratos de segunda posição do grão encerrou em US$ 9,42 o bushel na bolsa Chicago neste ano, 22,32% abaixo de 2014, e no momento os preços giram em torno de US$ 8,70.

Além da boa oferta, o câmbio foi um vilão particularmente cruel com os exportadores dos EUA neste ano, já que deslocou parte da demanda, principalmente para o Brasil, e diluiu os reflexos positivos provocados pela queda dos preços em dólar. Movimento parecido foi visto no mercado de milho. O cereal registra em 2015 preço médio anual US$ 3,849 o bushel, 8,71% inferior ao de 2014, e em dezembro a média mensal cai a US$ 3,7521. O trigo, cuja relação entre oferta e demanda globais é ainda mais folgada, apresenta o mesmo comportamento. A cotação média em 2015 ficou em US$ 5,12, recuo de 14,06% em relação à média de 2014.

A cotação média do café fecha 2015 em US$ 1,352 a libra-peso, 25,05% abaixo da média de 2014. Já o valor médio do açúcar em 2015 fica em 13,4 centavos de dólar a libra-peso, queda de 21,79% na mesma comparação. No caso do suco, o recuo é de 14,36%, para uma média de US$ 1,277 este ano. Os preços do algodão andam na mesma direção, e, entre os fundamentos, o foco está na demanda da China. Em 2015, o preço médio fecha em 63,7 centavos de dólar, 14,8% abaixo de 2014.

O cacau é a grande exceção de 2015 em virtude de uma demanda global relativamente aquecida, das ameaças à oferta e, também, por conta de um rearranjo da indústria processadora, que passou a migrar justamente para países do oeste da África. O pequeno aumento da cotação média em 2015 em Nova York, inferior a 3%, foi o suficiente para garantir um novo recorde histórico, e há espaço para novas valorizações caso os ventos Harmattan de fato prejudiquem mais a cultura em países como Costa do Marfim e Gana.

 

Fonte: Valor Econômico

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