Uma análise do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostra que os defensivos agrícolas estão até 16% mais caros na safra 2014/2015 de grãos, principalmente na Região Centro-Oeste – maior produtora de soja do País. Isso porque os grandes ruralistas anteciparam as compras de insumos e, agora, a preocupação é que este reajuste nos preços atinja o pequeno e médio produtor.
O agricultor e diretor do Sindicato Rural de Rio Verde, em Goiás, Enio Jaime Fernandez, acrescenta que, “além do aumento nos preços, gastos com maquinário e arrendamento de terras devem pesar para o produtor nesta safra”. O executivo, que mantém cerca de quatro mil hectares entre milho, soja e cana-de-açúcar nas regiões goianas de Rio Verde e Caiapônia, estima que os custos de produção aumentem em 15%.
De acordo com estudo do Cepea, só nesta região, os valores dos defensivos subiram 12,3% no comparativo anual. Já nas sementes de soja, por exemplo, as despesas passaram de R$ 196,15 por hectare, na safra passada, para R$ 225,20 no biênio 2014/2015.
“A maior parte daqueles produtores que efetuam o controle dos custos de produção e que tem esses números à mão se valeram dessa matemática para antecipar as compras. Naturalmente, no início da safra os preços sobem e agora o agricultor de menor escala deve sair prejudicado em competitividade”, explica o assessor técnico da Comissão Nacional de Grãos, Fibras e Oleaginosas do CNA, Alexandre Bernardes.
A análise da confederação se foca na soja, mas o assessor técnico acredita que os mesmos resultados se aplicam a outros grãos, como o milho.
Bernardes destaca uma possível migração dos produtores de feijão para outras culturas de verão, em vista dos problemas para escoamento da safra 2013/ 2014.
O analista de mercado do Cepea, Victor Ikeda, explica que esta análise foi elaborada apenas através da comparação de preços dos insumos entre os o período de 2014/2015 e o imediatamente anterior, entretanto, é possível que os custos de produção aumentem ainda mais, se for constatada expansão no nível de pragas.
“É cedo para falar dessa correlação com pragas porque ainda não iniciamos o plantio. A partir de meados do dia 15 de setembro poderemos avaliar melhor, de acordo com o índice de chuvas nas regiões produtoras. Vamos fazer esse monitoramento, principalmente, para identificar a incidência das doenças ferrugem asiática e da helicoverpa armígera”, completa Bernardes.
Segundo o assessor do CNA, vale ressaltar duas tendências para o setor de defensivos: uma continuidade no aumento de vendas (como vem sendo sinalizado pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola – Sindiveg) em função da expansão nas áreas agrícolas; e um segundo cenário com diminuição compra de agrotóxicos, para investir em melhora nas tecnologias de aplicação – em busca de manejos mais sustentáveis.
PROBLEMAS NO MANEJO
Para o diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher, alguns produtores ainda pecam no manejo das culturas de grãos, fator que também onera os custos de produção.
“Falta de obediência na rotação de culturas e não aplicação de vazio sanitário [espaço entre a colheita e o plantio] nas lavouras fazem com que os defensivos percam a eficácia mais rápido”, lembra o diretor.
Fonte: DCI