Alta dos preços do arroz e do feijão deverá perder força

Depois de aumentarem de forma expressiva no mercado doméstico nos últimos 30 dias, os preços de arroz e feijão, alimentos indispensáveis na mesa dos brasileiros, já dão sinais de que as disparadas chegaram ao fim da linha.

Segundo a Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM) e entidades que representam as duas cadeias produtivas, parte das valorizações observadas já era esperada antes da pandemia, mas o movimento ganhou força com a corrida dos consumidores às gôndolas no início do período de isolamento social, adotado como forma de conter o avanço do Covid-19. Como a corrida arrefeceu, a escalada dos preços perdeu fôlego.

No caso do arroz, a valorização dos últimos 30 dias chegou a 8,11%, segundo o indicador Esalq/Senar-RS, do Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea). Na sexta-feira passada, a saca do cereal valia R$ 56,13.

Segundo a Federação das Associações dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), após quatro safras com custos de produção acima do preço da saca, os rizicultores reduziram a área de plantio, o que explica parte da alta. “No ano passado já prevíamos uma safra 2019/20 com preços mais elevados”, disse, em nota, Anderson Belloli, diretor jurídico da Federarroz.

Mas a alta do dólar, que incentiva as exportações (por menores que sejam os volumes de embarques), e os problemas logísticos registrados no início da pandemia por causa de restrições nos deslocamentos intermunicipais em algumas regiões, ajudaram a maximizar a tendência altista.

Após a corrida dos consumidores aos supermercados, Federarroz, Instituto Riograndense do Arroz (Irga) e cooperativas chegaram a divulgar uma nota conjunta destacando que não havia “qualquer tipo de especulação por parte do produtor” que estivesse acentuando a valorização do produto no varejo, e que não haveria falta do produto.

E, apesar de o arroz estar mais caro, as entidades lembraram que a possibilidade de orçamento familiar, em função da baixa participação do produto na cesta básica, era de 0,5792% no IPCA.

Com relação ao feijão, a alta dos preços nos últimos 30 dias varia entre 9,68%, no interior de São Paulo, onde a saca do tipo carioca está em R$ 340,00, e 32% em Paracatú, Minas Gerais, onde a saca tem girado em torno de R$ 330,00.

Outras regiões como o oeste da Bahia, Goiás e Mato Grosso ainda apresentam valorizações, porém, menores que as registradas há algumas semanas. Na Bahia, por exemplo, a alta se aproximou de 60% e atualmente é de 23% no último mês, segundo informações da BBM.

Para o Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses (Ibrafe), a explicação para o aumento nos preços é anterior à quarentena e está ligada, sobretudo, à redução na área de plantio na segunda safra de 8%, para 864.000 hectares no País.

“Sabia-se que haveria uma pressão nos preços. Além da redução de área, a segunda safra sofreu muito com as intempéries, com destaque para a estiagem entre os meses de fevereiro e março no Sul e o excesso de chuvas em Minas Gerais”, disse Marcelo Eduardo Lüders, presidente do Ibrafe e sócio da Correpar.

“Houve aumento na compra de feijão (nos primeiros dias de isolamento social) por se tratar de um produto que pode ser facilmente estocado. Mas, passado esse momento de grande demanda, a situação começou a se normalizar”, afirmou Lüders.

Segundo o Ibrafe, no momento o mercado espera o início da colheita no Paraná, onde houve geadas há alguns dias. Isso também deverá contribuir para reduzir a oferta e, assim, a situação só tende a se normalizar totalmente com a chegada da terceira safra, em agosto. O feijão tem peso menor que o arroz no índice oficial de inflação (01903% do IPCA).

Soja nas alturas

A saca de soja alcançou o recorde nominal de R$ 103,00 na semana passada no Rio Grande do Sul. Ontem, o preço se manteve acima de R$ 100,00 no mercado gaúcho, e em outras regiões do País os preços também têm chegado a patamares nunca antes registrados, principalmente por causa da forte valorização do dólar.

“Enquanto essa valorização da moeda americana é baixista para as cotações na bolsa de Chicago, para os produtores do Brasil o repasse é integral e completamente altista”, disse o analista Carlos Cogo, da Cogo Consultoria.

Na bolsa americana, o vencimento julho/20 já caiu 12,50% este ano, enquanto o preço médio da saca pago para o produtor brasileiro subiu cerca de 20%. “O dólar está mais do que compensando as quedas em Chicago”, afirmou Cogo.

 

Fonte: Valor Econômico

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