Por Cleiton Evandro dos Santos
Os 13 primeiros dias do mês de agosto não estão repetindo o comportamento de alta mais forte dos preços do arroz em casca no sul do Brasil verificado em junho e julho. Embora a trajetória de alta se mantenha, ela tem sido mais tímida nesta primeira quinzena do mês.
Razões não faltam: os preços internacionais caíram por causa da época de colheitas, boas, e mais oferta no hemisfério norte; os Estados Unidos, por exemplo, devem registrar uma safra normal depois de terem perdido 20% de produção no ano passado. As moedas asiáticas desvalorizadas também têm ampliado as compras de alguns mercados naqueles países.
Internamente, os preços do arroz vinham subindo em reais e em dólares, até que a crise turca, ontem, elevou a cotação da moeda estadunidense para R$ 3,88, depois de andar no final de julho e início de agosto dentro da casa dos R$ 3,70.
A saca chegou a US$ 11,79 no início deste mês, aproximando-se da paridade de importação e gerando expectativa nos fornecedores do Mercosul, mas recuou para US$ 11,24 nas cotações de ontem por causa da desvalorização da lira turca que contaminou o câmbio de todo o mundo.
Vale lembrar que a Argentina, frente a uma desvalorização ainda mais forte do que o real, e o Paraguai, com menores custos de produção, têm boa parte de seus estoques represados esperando preços no Brasil.
Exportação parou
Ainda que os volumes já comercializados no primeiro semestre sigam sendo embarcados, as vendas internacionais de arroz em casca, e quebrados, que no início do ano foram vitais para a recuperação dos preços, travaram. Há mais de 50 dias o Brasil não fecha novos negócios, em especial pela soma do preço mais alto no Brasil e mais baixo no exterior e da tabela de frete que majorou entre 20 e 50% o transporte do grão, dependendo da origem.
Dois navios que carregariam grão em casca para a Venezuela, entre 50.000 e 60.000 toneladas, foram adiados, o que deve estender os embarques para novembro. Não houve perda para o Brasil porque são operações com garantias internacionais.
E foi possível manter o carregamento realmente realizado com “fretes curtos” a partir de arroz comprado na Zona Sul e Planície Costeira Interna. Ainda assim, isso mostra que o país vizinho ou tem mais dificuldades em realizar os embarques ou está comprado, o que sinaliza para uma retração nas compras até a próxima safra.
Eram estas exportações que vinham puxando a retomada dos preços, numa disputa estabelecida com a indústria. O grão chegou a alcançar R$ 48,00 no porto, mas com até R$ 5,00 de frete, perfazendo um preço de R$ 43,00 por saca. No entanto, esta sinalização já ocorreu na reta final da formação das posições. As tradings exportadoras já estão compradas, isto é, já adquiriram o volume necessário para os embarques contratados e saíram do mercado.
Os grandes volumes foram adquiridos entre R$ 39,00 e R$ 40,00, mas com a vantagem de aceitarem grãos com 56/57% de inteiros. A exportação de arroz beneficiado se mantém, mas a competitividade é mantida pela média de preços do produto adquirido logo após a safra ou como pagamento de CPRs.
Quebrados
Outro sinalizador negativo para as exportações foi a redução nas vendas internacionais de quebrados. O Brasil tradicionalmente exporta de 300.000 a 450.000 toneladas de arroz quebrado (base casca) para a África. No entanto, em 2018 este movimento está muito aquém do esperado.
Nota-se uma pressão maior de oferta dos asiáticos no mercado africano, com preços mais baixos, afetando a demanda direcionada ao Brasil. Ao mesmo tempo, das três tradings que atuavam no país, uma encerrou as operações, que ficaram mais concentradas em uma grande trading e outra que atua eventualmente e sob as condições mais atraentes.
Com a demanda menor, as indústrias têm segurado a oferta dos quebrados esperando uma retomada do mercado. Depende do câmbio e da volta dos importadores, e das condições de logística das tradings que permanecem operando. Ainda assim, nos últimos 60 dias nota-se uma leve desvalorização no mercado de quebrados, quirera e canjicão, causadas pelo arrefecimento das compras internacionais.
Preços
Sem as compras do grão em casca para futuros os embarques ao exterior, o mercado está sendo balizado pelo câmbio (paridade dos preços internos com os de importação) e pela demanda pontual da indústria, em especial as de menor porte e aquelas que buscam grãos superiores no mercado livre, ou seja, com o arrozeiro.
O indicador de preços da saca de 50 quilos do arroz em casca (58 x 10) no Rio Grande do Sul, divulgado por Esalq/Senar-RS, recuou para R$ 43,86 nesta segunda-feira, dia em que normalmente os agentes mais estudam o mercado do que atuam.
Pelo fator Turquia, em dólar o arroz brasileiro baixou para US$ 11,24, se afastando da paridade e dos US$ 11,79 que bateu no início do mês. A valorização do arroz gaúcho em agosto é de apenas 1,15% nos 13 primeiros dias. Mantida a média, poderia chegar a 2,45% ao longo do mês, em R$ 44,42, à vista.
A demanda por variedades nobres e um maior percentual de grãos inteiros (64% acima) mostra uma diferença de até R$ 4,00 em algumas praças e variedades, com cotações de até R$ 46,00 no mercado livre contra R$ 42,00 de cultivares comuns. Evidencia a busca de grãos “premium” para exportação de beneficiado, em mercados que valorizam esta classificação, como Peru, Oriente Médio e Europa, e para o “blend” direcionado ao próprio mercado interno. Na média, as cotações gaúchas estão em R$ 43,50.
Mercado
A C orretora Mercado, de Porto Alegre, indica preços médios de R$ 43,50 para o arroz em casca (50 kg – 58 x 10) no Rio Grande do Sul e R$ 88,00 para a saca de 60 quilos de arroz beneficiado, Tipo 1, sem ICMS. O canjicão se mantém em R$ 51,00 e a quirera em R$ 43,00, ambos em sacas de 60 quilos. A tonelada do farelo de arroz se mantém em R$ 470,00 (FOB).
Preços ao consumidor
No mês de julho, os preços do arroz ao consumidor tiveram comportamento misto, mas predominantemente de alta, segundo apurou o Dieese. Nota-se que em algumas capitais e grandes cidades, em especial do Nordeste, houve pequenas retrações de até 1,5% sobre os preços de junho, mas no Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte as cotações subiram até 2,5%.
A partir do dia 15 as ofertas voltam com mais intensidade às lojas. Até pelo menos o dia 26, 27, quando recomeçam as “compras de mês”. Uma das explicações para a retração de preços em algumas cidades fica por conta das férias escolares e de inverno, que fazem o mês ter um consumo ligeiramente menor. Em agosto espera-se uma alta mais representativa, na média.
Fonte: AgroDados/Planeta Arroz